chapter 8

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O ar está pesado, sufocante. O cheiro de desinfetante barato misturado ao odor metálico de ferrugem se infiltra em minhas narinas. Estou sentado em uma pequena sala de visitas de uma prisão. O ambiente é claustrofóbico, com paredes de concreto cinza que parecem estar se fechando ao meu redor. A luz fria e dura, emitida por lâmpadas fluorescentes no teto, faz com que tudo ao meu redor pareça morto, sem cor. Olho para minhas mãos pousadas sobre a mesa de metal. Elas estão trêmulas, apesar de meus esforços para manter a calma. Tudo aqui parece gritar o peso do meu passado, como se o próprio edifício estivesse conspirando para me prender, me lembrar de tudo o que tento esquecer.

Ela está do outro lado da sala, sentada na cadeira à minha frente. Elisa. O mesmo rosto que já foi tudo para mim, mas que agora é apenas um reflexo distorcido de um pesadelo. Seu cabelo está mais curto do que antes, e o uniforme laranja da prisão parece deslocado em seu corpo magro. No entanto, seus olhos ainda me perfuram como facas. O mesmo olhar manipulador, calculista. Ela sorri, e o sorriso é frio, sem calor algum, como sempre foi.

Por anos, eu não pude perceber o quão cruel ela podia ser, o quanto de escuridão habitava seu interior. Agora, a realidade está aqui, do outro lado dessa mesa, encarando-me com um sorriso que promete destruir mais do que já destruiu.

— Eu sabia que você viria, Jungkook — a voz dela é macia, quase doce, mas cada palavra me corta. — Você sempre volta — Fecho os olhos por um momento, tentando controlar a maré de emoções que me invade.

Raiva. Dor. Vergonha.

Como posso descrever o que vivi? Anos de abuso, de manipulação, de tortura emocional e física, não apenas dela, mas também daquela mulher, a mãe dela. Elas me mantiveram sob controle, me fizeram acreditar que eu não tinha escapatória nenhuma. Suas palavras, seus olhares, suas ações, tudo foi arquitetado para me esmagar, para me fazer duvidar de mim mesmo. E funcionou. Por tanto tempo, funcionou.

— Não vim por você — Digo, minha voz mais firme do que eu esperava. — Vim por mim.

Ela inclina a cabeça, seu sorriso se alargando como se estivesse prestes a jogar um jogo, o mesmo jogo de poder que sempre jogou.

— Por você? — Ela solta uma risada curta, debochada. — Você sempre diz isso, mas no fundo sabe que ainda está preso a mim. Eu sou parte de você, Jungkook. Não importa o quanto tente fugir, o quanto tente me culpar. Você nunca será livre de verdade.

As palavras dela me atingem como uma pancada, mas não deixo transparecer. Ela sempre soube manipular. Era uma de suas especialidades. Fui uma marionete nas mãos dela e da mãe, uma peça a ser controlada, destruída. Quando penso em tudo o que suportei, as humilhações, os gritos, as ameaças veladas que ela fazia, dizendo que ninguém acreditaria em mim se eu tentasse me libertar. Por muitas vezes ela me fez sentir como se a culpa fosse minha, como se eu merecesse aquilo.

— Já estou livre, Elisa — Falo, encarando-a com uma intensidade que eu nunca tive enquanto estávamos juntos. — Você está aqui, atrás dessas grades, e eu estou lá fora. Essa é a verdade que você não pode mudar.

Ela se inclina para frente, apoiando os cotovelos sobre a mesa. A maneira como me encara, como se tentasse invadir minha mente, me deixa tenso.

— Você pode estar lá fora, mas seu coração ainda está aqui, comigo. Você não se livrou de nada, Jungkook. Eu vejo isso nos seus olhos. Vejo como você ainda se lembra de cada detalhe do que passamos juntos. Não foi somente dor, foi? Havia algo mais, algo que você não pode apagar, por mais que tente.

Sinto o sangue ferver, mas mantenho minha expressão controlada. Por tanto tempo, ela usou a manipulação emocional contra mim, fez com que eu me sentisse culpado por coisas que não eram minha culpa, me fez acreditar que o amor era sinônimo de dor. Agora, eu vejo com clareza. Ela quer que eu me sinta fraco, pequeno. Quer que eu volte a ser aquele homem submisso que ela e a mãe destruíram aos poucos.

Comeback | JK + S/NOnde histórias criam vida. Descubra agora