Capítulo 07: Acordar para a Realidade

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Acordei mais cedo do que o habitual, com aquela sensação sufocante de que o dia já estava condenado antes mesmo de começar

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Acordei mais cedo do que o habitual, com aquela sensação sufocante de que o dia já estava condenado antes mesmo de começar. O despertador mal tocou, e eu já sentia o peso da minha própria vida apertando o peito. Olhei em volta no apartamento vazio e bagunçado, com um eco de lembranças do que ele já foi. Antes, havia vida aqui – móveis novos, risadas e festas. Agora? Apenas silêncio. E eu.

Fui direto para a cozinha, por pura força do hábito. Abri o armário esperando que, por algum milagre, ele tivesse se enchido de comida durante a noite. Nada. Nem café, nem pão. Nem sequer aquele cereal vagabundo que eu costumava odiar. Suspirei, desistindo. Mais um dia sem café da manhã. Se a vida já estava uma merda, pelo menos eu podia pular essa parte. O estresse já começava a subir pela minha espinha, um calor que tomava conta do meu corpo, fazendo minha cabeça latejar. Eu estava no meu limite, num eclipse sombrio que engolia tudo de bom que eu costumava ter.

Mas, apesar de tudo isso, havia uma coisa que ainda me dava um pingo de prazer: minha Porsche. Minha Bebê. Ela era o que me restava de todo o luxo que um dia foi minha vida. Encarei a chave na mesa, e um sorriso sarcástico me escapou. Pelo menos eu ainda tinha ela. Peguei a chave com um certo orgulho, como se estivesse agarrando a última parte de mim que ainda valia alguma coisa.

Saí do apartamento e entrei no carro. O motor rugiu, e pela primeira vez naquele dia eu senti uma pequena faísca de alegria. A Porsche era minha válvula de escape, o único lugar onde eu ainda me sentia no controle, mesmo que minha vida estivesse desmoronando em todas as outras áreas.

No caminho para a empresa, deixei o vento bagunçar meu cabelo e tentei focar no som do motor, ignorando o buraco no meu peito que parecia crescer a cada segundo. Tudo ia bem, até que, no meio do trajeto, algo saiu errado. De repente, ouvi um barulho seco, seguido por um grito. Pisei no freio com força, o carro deu uma guinada e parou bruscamente. Olhei pelo retrovisor e, meu coração pulou uma batida.

Uma bicicleta. Um homem. No chão.

Saí do carro rapidamente, bufando de raiva. "Sério? Logo hoje?!" Dei dois passos até o ciclista, pronta para despejar todo meu estresse em cima dele. Mas quando meus olhos encontraram os dele, senti uma pontada no estômago, algo que eu não conseguia explicar.

Era o Pedro.

Aquele mesmo Pedro de outros tempos. O nerd desajeitado que eu quase não percebia nas festas da empresa, o cara que sempre parecia fora do lugar, mas que, de alguma forma, conseguia fazer tudo parecer fácil com a cabeça cheia de ideias. Meus olhos percorreram o corpo dele, e senti um calor estranho subir pelo meu rosto. Que diabos está acontecendo comigo?

Ele estava no chão, segurando a bicicleta que agora parecia um lixo amassado. Por um segundo, uma vontade estranha de ajudar tomou conta de mim, mas eu reprimi rapidamente. Engoli em seco, balançando a cabeça. Não, eu não ia me deixar levar por alguma sensação ridícula só porque o cara era Pedro.

"Você tá bem?", perguntei, sem me importar realmente com a resposta. Ele levantou devagar, limpando o suor da testa e tentando ajeitar a bicicleta destruída.

"Tá tudo bem, Patrícia", respondeu ele, reconhecendo-me sem dificuldade.

Meu corpo teve mais uma reação estranha, um arrepio que subiu pela espinha, mas decidi ignorar. Era só o estresse, me convenci. Pedro não era nada além de um cara atrapalhado, sem importância para o que realmente importava no meu mundo.

Dei uma última olhada nele e na bicicleta destruída. Eu podia ter me oferecido para ajudar, mas em vez disso, entrei de volta no meu carro. Não tinha tempo para nobrezas.

Acelerei e deixei Pedro para trás, junto com a sensação esquisita que ainda borbulhava dentro de mim.

Acelerei e deixei Pedro para trás, junto com a sensação esquisita que ainda borbulhava dentro de mim

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