O silêncio da noite envolvia a casa dos Zould como um manto pesado, denso e sufocante. Para qualquer um que passasse por ali, aquela mansão imponente de paredes escuras parecia deserta, mas Mendrake sabia melhor. Ele sempre soube.
No quarto, ele fitava as paredes com marcas de sua própria luta. A dor que havia sido infligida nele, tanto física quanto emocional, parecia estar impregnada em cada centímetro daquele lugar. Seus dedos, marcados por cicatrizes, apertavam o casaco que havia usado para esconder seus machucados por tanto tempo. Ele precisava fugir. Sabia que, se ficasse ali por mais um segundo, perderia aquilo que ainda o mantinha humano.
Sua família — seu pai, seu irmão Feuripe — não tinham piedade. Eram criaturas de pura escuridão, que usavam magia proibida para manipular e destruir qualquer um que ficasse no caminho de seus objetivos. E Mendrake... ele sempre fora a exceção. A empatia que sentia o separava deles, e talvez por isso o desprezassem tanto.
Ele sabia que não poderia escapar sem deixar um rastro, mas essa não era mais sua preocupação. Seu coração batia forte enquanto se movia silenciosamente pelo corredor, evitando os passos calculados de Feuripe, que rondava a casa como um predador à espera de sua presa.
Com um último olhar para trás, Mendrake abriu a porta da frente e correu. As ruas escuras de uma cidade adormecida ofereciam um estranho consolo. Ele correu, sem rumo, apenas com a certeza de que precisava se afastar o máximo possível.
Horas se passaram, talvez dias, ele não tinha certeza. O que importava era que estava longe. Estava seguro. Pelo menos, era o que pensava.
Enquanto caminhava por um beco, ouviu sons abafados. Vozes de zombaria, e no meio delas, um choro fraco. Virou a esquina e viu um garoto, de óculos, caído no chão, sendo empurrado por três figuras maiores. Seus joelhos estavam arranhados, e ele tentava inutilmente se defender.
Mendrake sentiu um calafrio familiar correr por sua espinha. Ele reconhecia aquele olhar — o mesmo que ele costumava ter nas raras vezes em que desafiava seu pai ou seu irmão. A mistura de medo e desespero.
Sem pensar, Mendrake avançou.
— Deixem ele em paz! — sua voz ecoou pelo beco, firme, mas não descontrolada.
Os agressores hesitaram ao ver Mendrake, seu rosto sério e sua postura imponente. Sem dizer uma palavra, eles se afastaram, recuando lentamente até desaparecerem na escuridão.
O garoto, ainda no chão, olhava para Mendrake com uma mistura de surpresa e gratidão. Mendrake estendeu a mão.
— Você está bem?
O garoto aceitou a ajuda, levantando-se com dificuldade. Seus olhos brilhavam com um misto de confusão e admiração.
— Obrigado... — ele murmurou, sem saber ao certo o que dizer. — Meu nome é Pedrux.
— Mendrake — respondeu, com um sorriso fraco, sentindo uma estranha conexão se formar ali, naquele momento.
Eles caminharam juntos até a saída do beco. Pedrux parecia ter perdido a noção do perigo de minutos atrás e agora só olhava para Mendrake como se ele fosse um herói.
— Eu nunca... ninguém nunca fez isso por mim antes — confessou Pedrux, envergonhado.
Mendrake sorriu de canto. Ele sabia como era ser salvo. Talvez, agora, fosse sua vez de salvar alguém.
— Você está com frio? — perguntou Pedrux, tirando sua blusa favorita. — Pode ficar com ela... é o mínimo que posso fazer.
Mendrake hesitou por um segundo, mas aceitou. Vestiu a blusa, sentindo o calor inesperado de algo tão simples. Pedrux sorriu.
E naquele momento, algo se formou entre eles. Não era apenas amizade — era uma promessa silenciosa de que, independentemente do que acontecesse, eles estariam ali um para o outro.
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Luz da Lua: O coração revelado
FanfikceEm uma cidade envolta por mistérios, Mendrake é um jovem que foge de um passado sombrio para começar uma nova vida. Ao lado de Pedrux, um garoto que ele defendeu de valentões, Mendrake encontra amizade e um novo começo. Juntos, eles formam um grupo...