19. Amigo de quatro patas.

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  Rebeca Bittencourt... nem ela acreditava no que tinha se tornado. Uma mamãe, esposa, empresária, batalhadora... fora as vezes que simplesmente ficava longos minutos olhando as mesmas fotos... não foi fácil, mas tudo parecia perfeito. Ela tinha família, é financeiramente estável, é feliz... o que estava faltando naquela família?

  Era essa a pergunta que ela fazia a si mesma enquanto tomava uns goles d'água, antes de ser interrompida por Sol que entrou correndo na cozinha e por pouco não caiu. Eleonor entrou atrás dela e ambas abraçaram Rebeca.

—"Vocês duas não cansam? Estão brincando pela casa desde que acordaram!" — franziu o cenho forçando cara séria, mas deixou bem aparente que não estava realmente brava.

  Sol riu, escondendo o rosto dentro do moletom da mãe mais nova.

—"Vem brincar com a gente, mamãe!" — sorriu ainda recuperando a respiração.

—"Tudo bem, mas lá no jardim. Dentro de casa não pode co-"

—"Quem chegar na laranjeira primeiro, é um guaxinin!" — Eleonor gritou e correu com Sol deixando Rebeca indignada pra trás.

  A mãe mais nova riu e as seguiu, mas em uma velocidade normal. Estava tudo bem tranquilo até Rebeca notar Carla, a babá da Sol, chegar um pouco abatida na casa. Eleonor também percebeu e distraiu Sol para que Rebeca pudesse ir ver o que aconteceu. Ao se aproximar da funcionária, Rebeca colocou a mão em seu ombro, apertando levemente.

—"Ei, Carla. O que aconteceu? Eu nunca te vi tão murchinha."

—"Eu ganhei um doguinho, mas não posso cuidar dele. É meio vergonhoso de dizer mas eu... eu tenho medo de cachorros..."

  Rebeca precisou de alguns instantes pra processar. Medo daquelas bolinhas de pelo macios que tinham latidos adoráveis? Ela respeitou o medo de Carla e a abraçou.

—"Eu não quero abandonar ele. Eu não tenho tanto medo, mas não gosto da ideia de ter cachorro em casa..."

  De repente foi como se uma chave rodasse na cabeça de Rebeca.

—"Me escuta, não faz nada com o cachorro, eu volto já..." — antes de virar o corpo pra ir atrás de sua esposa, Rebeca parou e pegou a mão de Carla. —"Na verdade... Vem comigo, fica com a Sol um pouquinho."

   Carla obedeceu, e Rebeca levou Eleonor pra um lugar mais privado e apresentou a ideia.

—"Tá doida? Querida isso é uma loucura." — cortou imediatamente.

—"Mas é um cãozinho... a Sol vai amar e tenho certeza que você também."

—"Acabamos de nos estabilizar..." — os olhinhos decepcionados de Rebeca, fizeram Eleonor respirar fundo e pensar bem, mudando suas próximas palavras. —"Tá bem, tá bem... mas não vamos contar pra Sol ainda, vamos levar o cachorro num veterinário e se estiver tudo certo o traremos pra cá..."

  Rebeca sorriu e praticamente pulou nos braços da esposa. Eleonor deixou um riso escapar enquanto beijava a testa da mais nova. Ver Rebeca tão feliz fez ela esquecer todas as preocupações, certas ou exageradas sobre ter um cachorrinho em casa.

  Na mesma tarde Rebeca falou com Carla, a babá tentou dar o filhote de graça, mas não foi uma opção que Rebeca lhe deu. Por 250 dólares canadenses, Rebeca recebeu o cãozinho dois dias depois daquela negociação.

  Sol naquele momento estava tendo aula com Eleonor, era o dia da mãe mais velha acompanhar a garota nas aulas do dia, e estavam fazendo isso no escritório principal. Rebeca pegou o cãozinho, era bem pequeno mas pela raça iria crescer bastante. O pelo macio e o focinho fofo conquistaram Rebeca a primeira vista.

  Após pegar sua bolsa ela foi com o carro até o veterinário mais próximo, levanto o cãozinho em uma caixa no piso do banco de trás. Chegando lá pediu todos os exames, querendo que o novo membro da família estivesse bem. Ela o deixou lá enquanto comprava as coisinhas dele, comedor automático, coleirinhas, roupinhas, brinquedos... não satisfeita ainda comprou uma casinha pela Internet. Rebeca queria apresentar o cachorro a sua filha ainda naquele dia.

[...]

  Em casa, ainda no escritório, Sol escrevia atenta uma redação sobre a poluição. As aulas já tinham encerrado mas Eleonor queria avaliar o conhecimento da menina, e até deu um tema simples, considerando que eram os primeiros dia de Home School. Sol estava bem concentrada, mas tranquila já que sua mãe estava ao seu lado. Ela ama aprender, realmente as escolas eram o problema, pois em casa ela estava se adaptando muito bem.

  As duas foram interrompidas quando batidinhas soaram da porta. Rebeca entrou e se aproximou  dando um abraço apertado em seus amores. Sol largou a caneta, ficando ali encolhida contra o peito da mãe mais nova, mas logo entregou a folha para que ela também visse que ela estava indo bem. Rebeca analisou com cuidado, e deu um grande sorriso pra menor, logo entregando a folha pra Eleonor.

—"Olha, amor. Nossa pequena está escrevendo muito bem, pelo visto as aulas estão bem divertidas." — acariciou a bochecha da Sol.

—"Acredita que ela fez sozinha?" — Eleonor comentou enquanto Sol ficava corada. Ela olhou pra Rebeca e continuou elogiando a pequena, amando ver ela toda envergonhada. —"Ela fez todas as atividades sem deixar nenhuma questão de fora, e ainda tirou dúvidas... temos uma menina muito estudiosa."
 
  Sol escondeu o rosto no peito de Rebeca, deixando um risinho escapar. Ela não parava de se mecher, o que tirou risadas amigáveis de suas mães. Aproveitando o momento, Rebeca deu uma piscadinha pra Eleonor, o sinal que tinham combinado mais cedo e que indicava que a surpresa estava pronta.

  As duas se levantaram e Sol fez o mesmo ainda corada. As duas pegaram a mão da filha e começaram a conversar enquanto caminhavam pelos corredores da mansão.

  Rebeca começou com calma, acariciando a mão da pequena com o polegar.

—"Filha, eu e sua mama temos uma coisinha pra te mostrar..."

—"Não é um brinquedo então vamos te ensinar a cuidar dele direitinho." — Eleonor completou enquanto Sol se sentava no sofá.

  Rebeca pegou uma caixa grande, que tinha vários espaços abertos. Sol olhava bastante tentando ver algo, mas não estava tendo muito sucesso até a surpresa saltar da caixa e começar a correr e rolar no tapete. Os olhos da menina brilharam e ela se aproximou, conquistando imediatamente a confiança do novo amigo.

—"Um cachorrinho! Ele é menino? Tem nome? É nosso?!" — as perguntas saiam sem freio enquanto ela abraçada o filhote.

—"Ainda não tem nome, mas é um menino. Foi ideia da mamãe Beca, no início eu não aprovei muito, mas um novo Bittencourt é sempre bem vindo."

—"E então filha, que nome vai dar pra ele?"
 
  Sol franziu o cenho, olhando bem para o cãozinho, ele era pequeno e fofo, mas isso não é um nome. Ela fez carinho nas orelhinhas dele, quando estava desistindo olhou pra os livros da estante, encontrando algo perfeito.

—"Dom Quixote!"

  As mães se olharam rindo, mas até que gostaram no nome. Agora era oficial, Dom Quixote estava na família pra aprontar muito ao lado da pequena Sol, que com certeza o ensinaria muitos truques.

  Naquela noite Sol quis dormir com as mães, mas o cachorrinho também estava no quarto do casal, aconchegado em uma caminha com um cobertor quentinho.

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I'm A Mommy's Baby Gril Onde histórias criam vida. Descubra agora