Capítulo 2

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Era uma tarde nublada em Nova York, o tipo de clima que Miranda normalmente apreciava. O sol não estava forte demais, as pessoas não suavam tanto, e a cidade parecia um pouco mais tranquila. Ela e Nigel haviam saído para um almoço em um restaurante discreto, onde poderiam conversar longe dos olhares atentos da *Runway*. Nigel sabia que Miranda precisava de um momento de clareza, e o único jeito de ela chegar a isso seria se permitisse falar abertamente sobre o que estava realmente sentindo.

Eles se sentaram em uma mesa no canto, cercados por plantas que davam ao lugar um ar de privacidade. O garçom trouxe uma garrafa de vinho branco gelado e os menus. Miranda, como sempre, parecia impecável em seu casaco de lã creme e óculos de sol Chanel, embora estivesse claramente um pouco mais tensa do que o habitual.

- Então, começou Nigel, enquanto se servia de uma taça de vinho, -podemos finalmente falar sobre o elefante na sala?

Miranda lançou-lhe um olhar gelado por cima do cardápio.

- Se você se refere à sua insinuação ridícula sobre Andrea, eu diria que já falamos o suficiente no escritório.

Nigel deu um sorriso, não se deixando abalar. Ele sabia que levar Miranda a admitir algo tão pessoal não seria fácil, mas estava determinado a fazer com que ela confrontasse seus sentimentos.

- Miranda, você sabe que não pode simplesmente ignorar o que está sentindo para sempre.

Ela estava prestes a responder quando seus olhos se estreitaram, e o queixo dela ficou rígido. Nigel seguiu o olhar dela e, para sua surpresa, viu Andrea entrando no restaurante. Ao lado dela, nada menos que Julianne Moore, a famosa atriz ruiva que seria capa do próximo editorial da Runway.

- Ah, não... - Nigel murmurou, percebendo o que estava por vir.

Andrea estava rindo de algo que Julianne havia dito, os olhos brilhando de forma relaxada e despreocupada. Julianne, com seu charme inegável, parecia totalmente focada na jovem assistente. A atriz era conhecida por sua beleza estonteante e pela maneira irresistível como conquistava a atenção de todos ao seu redor, especialmente de quem ela quisesse.

Miranda se recostou na cadeira, as unhas cravando levemente no tecido macio de seu casaco. Não era o fato de Andrea estar ali que a incomodava; era o fato de ela estar com Julianne. E o modo como a atriz tocava as costas de Andrea, com uma intimidade que fez o estômago de Miranda se revirar de raiva.

- Você só pode estar brincando. - sibilou Miranda, baixinho, com o olhar fixo na cena.

Julianne inclinou-se para Andrea, a mão pousada casualmente nas suas costas, um toque leve, mas que parecia profundamente íntimo aos olhos de Miranda. O corpo de Miranda reagiu de maneira visceral, um calor subindo pelo peito e se espalhando até seus dedos. Odiava aquilo. Odiava como o simples gesto, aparentemente inocente, a fazia tremer de ciúme.

E então, como se a situação não pudesse piorar, Julianne acenou para ela. Um gesto casual, quase insolente, como se soubesse exatamente o que estava fazendo. Era como se ela estivesse afirmando seu domínio, mostrando a Miranda que, naquele momento, Andrea estava com ela.

Nigel percebeu o perigo iminente e, discretamente, tentou desviar a atenção de Miranda.

- Miranda, não faça isso consigo mesma. É só um almoço de trabalho. Você sabe como Julianne é. Ela flerta com todo mundo.

Mas Miranda não o escutava. Seus olhos estavam fixos na cena, uma mistura de ódio e desconforto ardendo sob sua pele. Andrea parecia alheia à tensão, sorrindo, sem perceber o quanto aquela situação estava saindo do controle.

- Ela... está fazendo isso de propósito. - murmurou Miranda, com os dentes quase cerrados, ainda sem desviar o olhar da atriz.

- Quem? Andrea? - Nigel perguntou, confuso.

- Não. Julianne. - respondeu Miranda, num tom baixo e ameaçador. -Ela sabe. Ela viu.

Nigel suspirou e baixou a taça de vinho, percebendo que teria que entrar em modo de contenção de danos.

- Miranda, querida, escute. Andrea não sabe o que está acontecendo aqui. E Julianne... bem, talvez ela saiba, mas o que importa? Você precisa respirar. Controlar isso.

Miranda inclinou-se ligeiramente para a frente, os olhos faiscando de raiva contida.

- Eu não vou sentar aqui e assistir a isso. Ela está se insinuando, tocando Andrea como se—

—Como se estivesse flertando com ela? Sim, talvez. Mas Miranda, você não pode deixar isso te consumir. - interrompeu Nigel com firmeza. - Andrea não pertence a Julianne. E você sabe que ela jamais se colocaria nessa situação se soubesse como você se sente.

Aquela última frase bateu como um soco silencioso. Era verdade, Miranda sabia disso, mas isso não amenizava o que ela estava sentindo. Ela se sentia traída, exposta, e, acima de tudo, furiosa. E, no fundo, havia um medo terrível, uma insegurança que ela nunca admitiria. O medo de perder Andrea para alguém como Julianne, alguém que poderia oferecer uma vida excitante, glamour e diversão... talvez até algo que Miranda não estivesse disposta ou pronta para dar.

As mãos de Miranda tremiam levemente sob a mesa, um movimento tão sutil que apenas Nigel percebeu. Ele estendeu a mão e cobriu a dela por um breve momento, um gesto silencioso de solidariedade.

- Você precisa falar com ela. - sussurrou Nigel. - De verdade. Ficar em silêncio e deixar Julianne ou qualquer outra pessoa preencher esse espaço que você insiste em não ocupar... Isso não vai acabar bem.

Miranda soltou um suspiro trêmulo, mas antes que pudesse responder, Andrea e Julianne se aproximaram da mesa.

- Miranda, Nigel! - disse Julianne, com aquele sorriso charmoso e um toque de provocação nos olhos. - Que coincidência encontrar vocês aqui.

Miranda forçou um sorriso educado, mas seus olhos passaram diretamente para Andrea, que parecia um pouco surpresa de vê-la ali, mas completamente alheia à tempestade que se formava dentro da editora-chefe.

- Sim, que coincidência. - respondeu Miranda, sua voz afiada como navalha, mal disfarçando a raiva contida.

Andrea piscou, um pouco nervosa, sem entender o tom carregado que Miranda usava. Já Julianne, parecendo completamente à vontade, permaneceu próxima demais de Andrea, suas mãos descansando nas costas dela com uma intimidade que fazia o sangue de Miranda ferver ainda mais.

Nigel, sentindo que a situação estava prestes a explodir, limpou a garganta e tentou desviar o rumo da conversa.

- Ah, Julianne, estou ansioso para ver o editorial com você. Tenho certeza de que vai ser incrível, como sempre.

- Obrigada, Nigel. - Julianne sorriu, antes de voltar sua atenção para Miranda. - E você, Miranda, ansiosa para ver como tudo vai sair?

Miranda estreitou os olhos, o sorriso gelado.

- Sempre.

Enquanto Andrea trocava olhares confusos entre Miranda e Nigel, Miranda mal conseguia ouvir o que estava sendo dito. Ela estava completamente tomada pela visão de Julianne tocando Andrea, pela ousadia de Julianne em tentar provocá-la... E, acima de tudo, pela ideia de que talvez, só talvez, ela estivesse perdendo Andrea.

E isso, Miranda Priestly jamais poderia permitir.

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