A sala de Miranda estava impregnada com o aroma sutil de lavanda e o som dos saltos de Julianne ecoava levemente enquanto ela caminhava pelo espaço, observando casualmente as revistas e prêmios posicionados nas prateleiras. Miranda, sentada atrás de sua mesa imponente, observava-a com uma expressão inabalável, mas os dedos tamborilavam nervosamente sobre o tampo de madeira.
Julianne finalmente parou, virando-se para encarar Miranda.
- Está com raiva. Alias, eu diria que está furiosa, senhora Priestly. - afirmou, sem preâmbulos, com um sorriso de quem conhecia bem a tempestade que se formava no ambiente. - É por isso que me chamou aqui, não?
- Então... - Miranda finalmente quebrou o silêncio, sua voz baixa e controlada. - Eu não sou ingênua, Julianne. Sei muito bem que essa... aproximação de hoje foi orquestrada. Você e Nigel realmente acham que eu sou tola?
Julianne riu suavemente, inclinando-se sobre a mesa com os braços cruzados.
- Você nunca foi tola, Miranda. Mas às vezes, mesmo a mulher mais poderosa do mundo precisa de um empurrãozinho.
Miranda estreitou os olhos, suas unhas bem cuidadas tamborilando levemente na mesa de mármore.
- Um empurrãozinho? Você está brincando com fogo, Julianne. Não pense nem por um segundo que não sei o que vocês estão fazendo. Desde quando dei permissão à vocês dois, para se intrometerem em minha vida pessoal?
- Realmente você está com furiosa. - disse Julianne, casualmente. -Isso é bom. Significa que você está sentindo algo.
Miranda arqueou uma sobrancelha com ceticismo.
- Eu não preciso de você ou de Nigel me provocando. Se vocês acham que isso vai me fazer mudar de atitude... estão muito enganados.
Julianne balançou a cabeça, soltando uma risada curta.
- Olha, Miranda. Eu vou ser muito sincera com você. - Sua voz assumiu um tom mais sério, mas ainda assim desafiador. Andrea é encantadora. Ela é inteligente, doce, e incrivelmente talentosa. Eu só precisei de alguns minutos para perceber que ela é única.
Miranda manteve sua expressão impassível, embora por dentro sentisse uma onda de raiva borbulhar.
- E não vou mentir, Miranda. Se você continuar fingindo que não está apaixonada por ela, eu vou investir. Andrea é tudo que você vê e mais um pouco. Ela é linda, sexy, e eu não me importaria de conhecê-la melhor. Muito melhor.
Miranda quase tremeu de fúria, mas manteve-se no controle.
- Você ousa... - começou, mas Julianne a interrompeu, impiedosa.
-Eu ouso, sim. Sabe por que? Porque você não está fazendo nada, Miranda. Está esperando o quê? Que alguém apareça e tire Andrea de você? Porque é exatamente isso que vai acontecer se você continuar paralisada, fingindo que não se importa. E eu? Eu não vou me desculpar por isso.
Miranda apertou os olhos, o corpo tenso de raiva. Ela se inclinou para frente, sua voz como gelo.
- Você acha que pode vir aqui e me ameaçar? Com Andrea?
Julianne deu de ombros, imperturbável.
- Eu não estou ameaçando, Miranda. Estou te dando uma chance. Uma oportunidade de admitir para si mesma o que você sente. Porque se você não fizer isso, alguém vai. E você não vai gostar de ver Andrea nos braços de outra pessoa.
A risada fria de Miranda cortou o ar, mas havia uma insegurança escondida ali, que apenas Julianne percebeu.
- Você não sabe o que está dizendo.
- Sei exatamente o que estou dizendo. - retrucou Julianne, a voz mais baixa e afiada. - E você também sabe. Você está morrendo de ciúmes, Miranda. Só não quer admitir. É como se ver no espelho te apavorasse.
Miranda sentiu o coração disparar, uma mistura de raiva, medo e algo que ela não queria nomear tomando conta de seu corpo. O controle deslizava por entre seus dedos, algo impensável para ela.
- Você não faz ideia do que está falando.
- Ah...mas faço, sim Miranda Priestly. - insistiu Julianne, com uma tranquilidade que beirava a provocação. - E se você não fizer algo logo, Andrea vai seguir em frente. E eu vou garantir que ela tenha outras opções, caso você continue enterrando a cabeça na areia.
- Ela não é um prêmio a ser disputado. - rebateu Miranda, irritada, as palavras carregadas de um veneno que mal conseguia disfarçar.
- Não. -" concordou Julianne, mantendo o olhar fixo. - Ela é uma mulher incrível, e você sabe disso. Mas se continuar negando o que sente, então sim, alguém vai perceber isso e dar a ela a atenção que você não está dando.
Miranda apertou os lábios, o orgulho queimando por dentro, mas algo na provocação de Julianne mexia com ela mais profundamente. A ideia de perder Andrea para outra pessoa, especialmente para alguém como Julianne, era insuportável. A simples imagem de Andrea nos braços de outra pessoa fazia seu estômago revirar.
- O que você quer de mim, Julianne? - A voz de Miranda soou mais rouca do que ela gostaria.
- Quero que você lute por ela, Miranda. - respondeu Julianne, sem rodeios. - Quero que você pare de agir como se fosse invulnerável. Porque, Miranda, se você não fizer isso, eu vou lutar por Andrea. E, honestamente, eu acho que ela merece alguém que esteja disposto a correr o risco. Um risco que estou bem disposta a correr por aquela garota tão linda.
Miranda trincou os dentes, cada músculo do corpo enrijecido. A raiva borbulhava, mas havia algo mais profundo — o medo de perder Andrea. A percepção de que, por mais que ela tentasse controlar, isso estava escapando de suas mãos.
- Você está jogando com fogo. - advertiu Miranda, a voz baixa, quase um sussurro ameaçador.
Julianne se inclinou para frente, um sorriso ligeiramente desafiador nos lábios.
- Talvez. Mas se isso significa que você finalmente vai perceber o que tem diante de você, vale o risco.
O silêncio entre elas era palpável, as palavras de Julianne pairando no ar como uma última provocação. Miranda sabia que não poderia continuar fugindo da verdade por muito mais tempo. O desafio estava lançado, e ela sentia, com toda a clareza, que estava prestes a cruzar um limite do qual não haveria volta.
- Se você tocar nela... - A ameaça na voz de Miranda era tão real quanto a dor que sentia em admitir que estava à beira de perder algo — alguém — que jamais achou que poderia querer tão desesperadamente. - Eu pessoalmente acabo com você, Moore.
Julianne sorriu, inclinando-se para trás, satisfeita com a reação de Miranda.
- Eu te avisei, Miranda. Agora a decisão é sua.
E com isso, Julianne levantou-se, lançando um último olhar desafiador antes de sair da sala da editora, deixando Miranda sozinha com seus pensamentos... e com o medo terrível de que, se não tomasse uma atitude, Andrea poderia muito bem ser levada por outra pessoa.
O eco da porta se fechando ressoou pelo ambiente, e Miranda, pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se completamente vulnerável. Ela sabia que Julianne estava certa, e isso a deixou furiosa. Mais do que qualquer outra coisa, o medo de perder Andrea para outra pessoa... para Julianne... era o que a consumia.
Ela não poderia deixar.
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PAIXÃO E FÚRIA
FanfictionEm uma Nova York repleta de glamour e intriga, Miranda Priestly, a temida editora-chefe da *Runway*, e Julianne Moore, atriz famosa estão em uma competição silenciosa pela atenção e lealdade de Andrea Sachs, uma talentosa assistente que tem se desta...