Miranda não suportava mais ficar ali, assistindo ao que para ela era uma afronta. A proximidade entre Andrea e Julianne parecia ter tomado proporções insuportáveis, e cada sorriso, cada toque casual, só a enchia de uma ira que ela mal conseguia controlar. Sentada à mesa, seus dedos se apertaram contra o copo de vinho, e o som distante das conversas no restaurante se tornou uma mistura indistinta de ruído.
Ela precisava agir.
Andrea, como sempre, estava alheia ao caos que se formava ao redor. Era inocente demais para perceber os jogos de poder e desejo que a cercavam. Mas Miranda, com sua vasta experiência em manipular situações, sabia que tinha que fazer algo — e rápido.
- Andrea. - começou Miranda, sua voz fria e autoritária, - preciso de você. Agora.
Andrea, que estava em meio a uma conversa descontraída com Julianne, arregalou os olhos, surpreendida com a urgência no tom de Miranda. Ela piscou, confusa, tentando entender o que estava acontecendo.
- Agora? - perguntou Andrea, lançando um olhar de relance para Julianne, que parecia tranquila, quase divertida com a situação.
- Sim, agora. - Miranda repetiu, com os olhos cortantes, sem deixar espaço para discussão. - Tenho um problema com um dos contatos da sessão de fotos de amanhã. Preciso que você resolva isso imediatamente.
Nigel, que assistia a tudo com um sorriso quase imperceptível, observou Julianne disfarçadamente. O olhar que a atriz lhe lançou em resposta era claro: tudo estava indo conforme o plano. Julianne sabia exatamente o que estava fazendo, e Miranda, mesmo com todo seu controle, estava sendo empurrada na direção desejada.
Andrea balançou a cabeça, tentando processar a mudança repentina no clima.
- Claro, Miranda. Eu... já vou.
Ela deu um passo para se afastar, mas antes que pudesse seguir, Julianne tocou seu braço, um gesto sutil que fez Miranda cerrar os punhos sob a mesa.
- Vai me deixar aqui sozinha, Andrea? - disse Julianne, com um tom de brincadeira. - Achei que ainda teríamos muito o que discutir.
Miranda sentiu o sangue ferver. Cada palavra da atriz parecia uma provocação deliberada. Ela não aguentava mais aquele jogo, mas manteria a pose. Sempre a pose. Porque Miranda Priestly não se descontrolava, não em público.
- Julianne, - Miranda começou, sua voz como gelo derretendo, -Andrea tem trabalho a fazer. Certamente você entende a importância de manter a Runway funcionando.
O olhar que Julianne lançou a Miranda foi cheio de falsa inocência.
- Oh, claro, Miranda. Eu só estava brincando. A Runway sempre em primeiro lugar."
Nigel, até então silencioso, interveio antes que a tensão aumentasse ainda mais.
- Andrea, por que você não volta para a revista e cuida disso rapidinho? Nós podemos lidar com o almoço de trabalho daqui.
Andrea olhou para os três, ainda mais confusa. Algo claramente estava acontecendo, mas ela não sabia o quê. Havia uma tensão entre Miranda e Julianne que não fazia sentido para ela, e Nigel, sempre tão diplomático, parecia estar jogando em uma equipe própria. De qualquer maneira, ela sabia que questionar Miranda não era uma opção.
- Ok, - respondeu Andrea, hesitante. - Eu já vou. Me ligue se precisar de mais alguma coisa, Miranda.
Miranda apenas assentiu, o rosto firme, enquanto Andrea, ainda desconcertada, se afastava. Ela saiu pela porta do restaurante sem perceber o olhar cúmplice trocado entre Julianne e Nigel.
Assim que Andrea estava fora de vista, Miranda relaxou um pouco, mas a tensão em seu corpo ainda era palpável. Ela lançou um olhar fulminante para Julianne, que apenas ergueu uma sobrancelha, um sorriso malicioso brincando nos lábios.
- Você sabe que não precisava fazer isso. - disse Miranda em um tom ácido. - Ela tem trabalho a fazer, afinal de contas ela é a MINHA assistente pessoal.
Julianne deu de ombros, claramente se divertindo com a situação.
- Oh, Miranda, você está levando isso muito a sério. Andrea é uma mulher adulta. Ela pode decidir por si mesma com quem quer almoçar.
- Ela não está aqui para decidir com quem almoçar. Ela está aqui para trabalhar. - Miranda respondeu, a raiva crescendo novamente.
Nigel interveio mais uma vez, sorrindo com uma paciência calculada.
- Miranda, acho que você está exagerando um pouco. Julianne não está tentando roubar Andrea. Aliás, eu acho que ela está apenas... ajudando.
Julianne sorriu, piscando discretamente para Nigel. Miranda percebeu, mas seu cérebro já estava sobrecarregado demais com a confusão emocional para entender completamente o que estava acontecendo ali. Ela se levantou, ajeitando o casaco com firmeza.
- Se isso é o que vocês chamam de ajuda, eu prefiro que fiquem fora disso. - disse ela com um tom cortante, virando-se para sair.
- Miranda, - Nigel chamou antes que ela pudesse ir embora. - Talvez você precise pensar um pouco. Está claro para todo mundo o que está acontecendo aqui, menos para você.
Ela parou no lugar, mas não se virou. Por um instante, o silêncio pairou no ar, pesado e denso. Miranda, sempre tão controlada, tão firme, estava à beira de uma explosão que ela sabia que não poderia permitir. Mas, no fundo, ela também sabia que havia chegado a um ponto sem retorno.
Sem dizer mais uma palavra, Miranda saiu do restaurante, deixando Julianne e Nigel para trás, ambos satisfeitos em saber que o plano estava funcionando exatamente como eles haviam previsto.
Miranda Priestly estava, pela primeira vez em anos, completamente fora de controle.
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PAIXÃO E FÚRIA
FanfictionEm uma Nova York repleta de glamour e intriga, Miranda Priestly, a temida editora-chefe da *Runway*, e Julianne Moore, atriz famosa estão em uma competição silenciosa pela atenção e lealdade de Andrea Sachs, uma talentosa assistente que tem se desta...