Capítulo 1

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Narrador

Dom.,
13/03/22.

Arthur observava a paisagem pela janela do carro, as árvores e prédios desconhecidos passando rapidamente, como se ele estivesse deixando para trás mais do que apenas uma cidade. O céu estava nublado, refletindo perfeitamente o turbilhão de sentimentos que ele carregava. "Vai ser bom para você," sua mãe dizia diversas vezes durante a mudança, como se repetir isso fosse o suficiente para fazê-lo acreditar.

A verdade era que Arthur odiava mudanças. Ele era um garoto de hábitos, de rotinas. Suas manhãs eram passadas no silêncio do seu quarto, escrevendo, pintando, compondo. Agora, tudo isso parecia distante. A nova cidade não era como a antiga, e o cheiro diferente do ar o incomodava mais do que deveria.

- Chegamos! - anunciou sua irmã, Alice, animada demais para a ocasião, como sempre.

Ele soltou um suspiro e saiu do carro, encarando a fachada da nova casa. Era maior que a antiga, mas isso não o confortava. Seus pais, sempre tão preocupados em garantir que ele e Alice tivessem o melhor, achavam que uma casa maior significava uma vida melhor. Para Arthur, era apenas mais um lugar para se sentir deslocado.

- O que acha? - perguntou sua mãe, enquanto abraçava seus ombros.

- É... diferente - respondeu, sem muita convicção. Sabia que ela queria ouvi-lo dizer algo positivo, mas não havia muito entusiasmo a ser oferecido naquele momento.

Depois de uma tarde cansativa, desempacotando caixas, Arthur finalmente se trancou em seu novo quarto. O cheiro de tinta fresca ainda era forte. Ele abriu sua mochila, retirando dela um caderno surrado e uma caixa de lápis de cor. Desenhar sempre foi sua forma de processar as coisas. Ele não era bom com palavras faladas, mas no papel, tudo fazia sentido.

Começou a rabiscar distraidamente, tentando expressar o caos que era sua mente naquele momento, mas a ansiedade sobre o dia seguinte o impedia de se concentrar. Amanhã será seu primeiro dia na nova escola. O pensamento fez seu estômago revirar. Ele odiava ser o "novo aluno", aquele que todos olhavam, que todos julgavam. O que os outros pensariam dele? E se ele não se encaixasse? A ansiedade começou a pesar em seu peito, e ele tentou afastá-la voltando para o desenho.

Na manhã seguinte, o despertador tocou cedo. O café da manhã com sua família foi silencioso, exceto por Alice, que tagarelava sem parar sobre como estava animada para fazer novos amigos. Arthur apenas assentia, sem prestar muita atenção. Ele se sentia como se estivesse se preparando para a guerra, colocando sua armadura invisível de indiferença para enfrentar o que viesse.

Ao chegar na escola, a sensação de ser um estranho se intensificou. Estudantes passavam apressados pelos corredores, rindo, conversando, completamente alheios à presença dele. Arthur queria se esconder, mas sabia que não podia. Entrou na sala de aula com o coração acelerado, procurando um lugar no fundo da sala. Sentou-se e rapidamente pegou seu caderno, fingindo desenhar para evitar os olhares curiosos.

- Você é o novo, certo? - uma voz masculina perguntou.

Arthur levantou os olhos e viu um garoto alto, cabelo bagunçado e um sorriso no rosto. Era o tipo de pessoa que parecia pertencer a qualquer lugar.

- Sou... Arthur - respondeu baixinho.

- Eu sou Vitor, e aquele ali é o Eduardo - disse, apontando para um outro garoto que estava jogado na cadeira da frente. - Estamos na mesma turma. Se precisar de ajuda com qualquer coisa, pode falar com a gente.

Arthur assentiu, sem saber muito bem como responder. Era bom saber que havia alguém disposto a ser amigável, mas ele ainda estava nervoso demais para se sentir confortável. Vitor parecia legal, mas algo nele era diferente. Não parecia o tipo de pessoa com quem ele normalmente andaria.

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