Capítulo 6

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A lembrança veio forte em minha mente, como um raio clareando a escuridão da noite. Como pude esquecer do protagonista de um dos dias mais estressantes da minha vida? Briguei com os homens que estavam falando de mim no clube, joguei suco na cara de um deles, depois tive que ouvir um sermão da minha mãe por ser uma barraqueira deselegante, a vergonha da família Fontaigne Medeiros. Essas malditas lembranças estavam naquele momento se misturando com os sonhos que andava tendo nos últimos meses.

Estava sem entender como pude esquecer de uma pessoa dessa forma? Sempre tive memória fotográfica. Excelente fisionomista, mas minha mente bloqueou totalmente o acontecimento em si deixando só seus traços rondando sorrateiramente em minha mente. Como isso pôde acontecer? Não que tivesse acontecido algum muito relevante, não era o caso. Estava me sentindo estranha. Queria confrontar o Lucas para saber o porquê ele disse que não me conhecia, ninguém esquece um banho de suco de melancia, esquece?

Eu era louca, só pode.

Quem em sã consciência sonha com um idiota que te humilhou na frente de um monte de gente? E como não conseguia lembrar dele quando acordava dos sonhos, mas lembrei assim que vi o seu rosto de feições quadradas e nariz imponente?

— Lizie, precisamos subir, vai me contar o que houve depois?

— Lembra daquele cara que te contei que briguei no clube no dia seguinte ao leilão? É ele, o idiota que me chamou de sem graça e irrelevante está aqui.

— Não brinca! Caramba, Lizie, jamais diria que Lucas pudesse ser desagradável com alguém, ele é um perfeito cavalheiro.

Soltei uma gargalhada de puro nervoso.

— Pra você ver, mas, por favor, não comente nada com ninguém, prometo que vou me comportar.

Ela cerrou os olhos mostrando que duvidava muito que eu fosse me comportar. Ignorei o seu olhar cético e subi as escadas entrando no terraço plena, como quando entrava na passarela. A sensação era meio parecida, nervoso, raiva, indignação e medo se assemelhavam.

— Ah, que bom que chegou. Lucas, deixe-me te apresentar, esta é Lizie, minha amiga de infância. Lucas é médico, trabalha no hospital com meu pai e o Fernando.

O homem era mais alto do que eu lembrava. Seus olhos cor de caramelo derretido eram profundos e pareciam doces, diferentes do homem sarcástico que me chamou de mercadoria superfaturada. Sua boca é bem desenhada, grande, com dentes brancos. O formato quadrado o deixava irresistivelmente lindo. Na verdade, talvez eu não tenha visto um homem tão bonito como ele antes em minha vida.

— Prazer em te conhecer, Lizie. — Sua voz rouca causou um arrepio na minha espinha, de asco, certamente.

Liziane, pare de ser rancorosa.

Ergui as sobrancelhas intrigada. O fato do homem não me reconhecer causou uma raiva que nunca esperei sentir. O que me levou a agir feito uma idiota mimada. Ignorei a mão estendida em minha direção.

— Jura? Já eu não sei se posso dizer o mesmo, Doutor Lucas.

Ele inclinou a cabeça um pouco para o lado.

— Não entendi.

Ele ia mesmo se fingir de desentendido?

— Vocês já se conhecem? — Sue perguntou.

— Não, lembraria se algum dia tivesse a encontrado em algum lugar — afirmou o Lucas com tanta firmeza quase me convencendo.

— Tem razão, devo estar me confundindo, já que me lembraria até mesmo do cachorro que atravessou a rua há meses. Bom te conhecer, Luan — impliquei trocando o nome dele de propósito e estendendo a mão em sua direção.

Corações Rendidos - A paixão indesejada do médicoOnde histórias criam vida. Descubra agora