Capítulo 5

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Lizie

Senhores passageiros, são 14h, horário de Brasília, damos boas-vindas a Belo Horizonte. Esperamos que você tenha gostado de voar conosco hoje. Foi um prazer voar com vocês.

Suspirei aliviada ao ouvir a voz da comissária assim que o avião pousou. Estava com saudade de casa, embora não fosse ficar muito tempo, pois precisava concluir alguns contratos. Sentia falta das minhas amigas, da comida, do clima, de tudo. Nunca imaginei que ficaria tão saudosa morando fora do país. Estava tentada a encerrar a minha carreira de modelo depois do que aconteceu no último desfile. Tenho até pesadelos com aquele dia terrível. Mesmo com o pé machucado ainda fiz alguns trabalhos fotográficos. Já se passaram 15 dias e ainda não tinham descoberto quem fez aquilo comigo.

Por favor, permaneçam sentados enquanto estivermos taxiando e certifiquem-se de manter os cintos de segurança apertados até que os sinais sejam desligados.

Permaneci sentada e aproveitei para ligar o celular e mandar uma mensagem para as minhas amigas avisando que havia chegado. Ergui os olhos observando o tumulto das pessoas tentando sair. Não entendia essa corrida besta para ver quem conseguia sair primeiro. Digo besta porque todos temos que esperar até que as pessoas nas cadeiras da frente saiam.

Meu pé estava um pouco melhor, mas ainda não podia usar calçado muito apertado, estava abusando das rasteirinhas nesses últimos dias. Depois que quase todo mundo saiu da aeronave, me levantei. Peguei as malas e saí para pegar um táxi. Paralisei quando vi duas placas cor-de-rosa escrito "Liz Medeiros, a modelo mais linda do universo". Sorri segurando as lágrimas.

— Vocês são demais, como sabiam que esse era o meu voo? — perguntei beijando o rosto das duas em um abraço triplo.

— Sue ligou para a sua agente e ela deu as coordenadas.

— Não precisavam fazer isso.

— Claro que precisava. Teríamos ficado o dia todo aqui te esperando só pra ver esse sorriso.

— Ver minhas lágrimas, pode falar a verdade.

— Você fica a coisa mais linda chorando, o que é uma grande merda.

— Sim, dá até raiva que nem assim você consegue ficar menos bonita.

— Eu amo vocês.

Júlia apontou para uma cadeira de rodas para que me sentasse. Tive o ímpeto de recusar, mas acabei cedendo e rindo horrores enquanto era carregada pela Sue. Por essas e outras coisas sentia tanta falta delas.

Entramos no carro e durante o trajeto contei toda a história novamente no caminho de casa. Naquela noite as meninas dormiram no meu apartamento. Meus pais estavam em Brasília, mesmo se estivesse na cidade não era com eles que gostaria de estar, e sim com elas. Meu relacionamento com os meus pais se resume a meros encontros marcados, reuniões formais e enfadonhas. Eles viajam muito e nunca foram muito presentes. Meu irmão estava morando em Brasília, depois que se formou na UNB seguiu carreira no direito e hoje é juiz, embora ainda muito jovem. Morria de inveja da Júlia e da relação com os pais dela. Sue perdeu a mãe com 13 anos e nunca se deu muito bem com o pai, apesar disso ele era bem presente na vida dela, só ela que não enxergava o amor e cuidado que ele tem por ela.

— Amanhã você vai jantar lá em casa. Quer dizer, na casa do Fernando, ele vai fazer o jantar — Sue informou enquanto provava o vestido que havia trazido de presente para ela.

— Não sei se estou com ânimo para ser vela de vocês duas não.

— Deixe de besteira, não vai ser vela coisa nenhuma. Além do mais vai ter outras pessoas também — Júlia confessou.

Corações Rendidos - A paixão indesejada do médicoOnde histórias criam vida. Descubra agora