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Lucas
Entrei na sala de cirurgia atento ao horário. Estava animado para dar o novo coração ao Enrico, e ver a esperança em seus olhos quando disse que estava na hora foi o combustível para animar a minha fé de que daria tudo certo. Não costumava me apegar assim aos pacientes, mas Enrico era apenas uma criança. Eu sempre ficava mais comovido com crianças. Esse era um segredo meu que guardava a sete chaves. Não podia deixar que percebessem a minha afinidade com o menino. Não era nada ético.
— Vamos lá, doutora? — falei com a Júlia que estava colocando o avental cirúrgico. — Quanto tempo acha que vai levar para ele vir? — sussurrei divertido enquanto colocava a máscara.
Ela fechou os olhos reprimindo um sorriso. Júlia é uma mulher de 27 anos muito bonita, olhos quase verdes, sorriso largo, nariz bem-feito e cabelos escuros e ondulados quase crespos. Não é à toa que o chefe morre de ciúmes dela. É linda e uma profissional brilhante.
— Não muito. Apesar de que pedi para Fernando tentar mantê-lo ocupado. Ele está passando dos limites.
Segui para a mesa e me posicionei na lateral do paciente.
— Não me incomoda em nada a presença do chefe aqui. Só acho que não vai fazer muito bem para ele mesmo. Talvez isso o deixe ainda mais ansioso para esperar o dia que o Fernando irá liberá-lo para operar.
— E será uma tremenda decepção se isso não acontecer. Se Saulo nunca mais conseguir operar, nem imagino como ele irá reagir.
— Não pense assim, ele vai ficar bem. E vai voltar a operar, Fernando está otimista. Como está o paciente, Doutor Ezequiel? — perguntei ao anestesista que passou todas as condições do Enrico. — Certo, pronta, doutora?
— Claro, vamos dar um novo coração a esse menino.
Ergui os olhos para ela e comecei a contar baixinho enquanto ela estendia a mão pegando o bisturi.
— 1, 2, 3, 4, 5... — Parei a contagem quando a porta da sala se abriu fazendo a médica tentar controlar o riso, sem sucesso. — Poxa, foi mais rápido do que pensei.
Uma das enfermeiras tossiu de leve para disfarçar. A outra respirou fundo controlada.
— Olá, Doutor Saulo — Ezequel cumprimentou o chefe tentando não rir da situação.
— O que tem de tão engraçado em cortar o peito de uma criança, doutores? Qual o motivo da graça? — questionou sério.
— Nada, doutor, só estávamos contando quanto tempo levaria para o senhor vir supervisionar nosso transplante — Júlia respondeu concentrada no que estava fazendo.
Ele revirou os olhos, mas não disse nada. Cruzou os braços observando atentamente o trabalho da namorada. Ela era mesmo uma grande promessa nessa área. Se eu ainda não superei o meu mestre, ela certamente o faria.
Estava saindo do centro cirúrgico seguido por Júlia e Saulo. Estávamos otimistas com o transplante que havia dado tudo certo, só esperar a resposta da aceitação no paciente que certamente seria positiva. Estava mais do que animado.
— Como está de casa nova? — Júlia inquiriu.
— Um caos, mas tudo vai se ajeitar aos poucos.
— Luna chega quando? — Saulo quis saber.
— Em duas semanas, não vejo a hora, estou morrendo de saudade dela.
— Imagino. Então, eu estava pensando... — Saulo começou a falar e eu o interrompi mais do que rapidamente.
— Obrigado, chefe, não estou interessado — respondi sabendo do que ele falaria arrancando uma gargalhada da Júlia.
— Nem sabe o que eu ia falar?
— Ah, eu sei sim. Te conheço bem o suficiente para saber exatamente o que se passa nessa cabeça maquiavélica.
Há alguns dias ele veio com uma conversa fiada do quanto foi difícil criar a Sue depois que a mãe dela morreu. Como se eu não soubesse de fato o que havia acontecido. Era ainda mais difícil quando ela ainda estava viva. Eu disse que não era difícil, que me virava bem com a Luna. Ele sugeriu que deveria arrumar uma namorada e me casar.
Queria saber o que acontece na mente dessas pessoas que se apaixonam. Elas acham que todo mundo precisa ser mordido pelo besouro do amor? Flechado pelo Cupido? Saulo estava querendo fazer o papel do próprio Cupido, já que havia conseguido juntar a Sue e o Fernando está pensando em arrumar mulher para mim também.
— Não, você não sabe.
— Sei, tem uma amiga, ou médica que conhece e gostaria de me apresentar.
— Sim... Não. Ok, uma médica muito competente com um futuro brilhante.
— Está querendo me ceder a sua namorada? Pensei que estivessem felizes — ironizei.
— Você deveria ter mais amor à sua vida — Júlia brincou batendo no meu ombro. — Vou indo, nem quero saber quem é essa médica que vai levar o fora mesmo antes de aceitar sair com você.
— Não me diga que você não faz parte disso.
— Não faço ideia do que se passa na cabeça do Saulo. Beijos.
Ela desapareceu no corredor em direção à sala de descanso.
— Agora somos só nós dois, eu não quero um relacionamento, não agora. Muito menos com uma médica.
— Sabe, doutor, isso não quer dizer que não possa se divertir um pouco com uma boa companhia.
— Tudo que eu menos preciso é ter meu chefe me arrumando mulher, pelo amor de Deus, Saulo. Será que sou tão ruim assim?
Ele gargalhou batendo no meu ombro.
— Relaxe, estava só brincando. Júlia e Suellen vão buscar uma amiga no aeroporto e vão ter a noite das meninas para matar saudade. Fernando e eu pensamos em sair para beber um pouco. A noite dos meninos, vamos?
Respirei aliviado conferindo as horas no celular.
— Bom, isso eu aceito sim.
— Prefere sair com dois marmanjos do que ter um encontro agradável com uma mulher? — implicou. — Estou começando a ficar preocupado.
— Claro que não, mas eu gosto de escolher as minhas próprias mulheres, chefe. Na hora certa a mulher da minha vida vai aparecer. Tudo tem seu tempo.
— Tem razão. Tudo tem o seu tempo. Só não espere demais que ele resolva as coisas para você, a vida é curta, meu caro.
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Corações Rendidos - A paixão indesejada do médico
ChickLitLucas Sou médico, pai solteiro e me dedico em tempo integral aos dois amores de minha vida, a medicina e uma garotinha esperta de seis anos de idade. Não tenho tempo para me apaixonar. Isso até uma loirinha irritante da língua afiada aparecer bagunç...