Capítulo 7

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Lucas

Ela estava irritada por tê-la chamado de loirinha e isso me deixou estranhamente satisfeito. Desde o dia em que ela jogou aquele suco de melancia em minha cara que eu não parava de lembrar do seu rosto perfeito. De sua carinha de brava que a deixava ainda mais bonita. Tão linda e tão fútil, um desperdício de beleza. Era o que tentava acreditar.

Não falei aquelas coisas por mal. Durante a festa havia notado o quanto ela era linda e chamava a atenção de todos. Chamou a minha, mas ela nem me notou. Isso deveria ter me deixado satisfeito. O tipo de mulher que sempre procurei manter distância.

Eu odiava holofotes.

Ela adorava ser o centro das atenções.

Quando alguns médicos que adoravam uma fofoca começaram a falar dela na mesa, só quis mesmo foi acabar com o assunto logo. Entretanto, aquele era um dia que pelo visto levantei com o pé esquerdo. Ela ouviu o que não deveria e acabou do jeito que acabou. Ela muito brava fazendo o maior escândalo, coisa que eu detestava mais do que tudo na vida, e eu com a roupa suja se melancia. Quem em sã consciência tomava suco dessa fruta?

— Você é mesmo um tosco idiota. Meu nome é Liziane, e odeio que me chame de algo diferente disso.

— Sério? E Liz, Lizie são o quê? Pensei ter sido apresentado a Lizie há alguns minutos.

Vejo as suas bochechas ganhando um tom mais vermelho. Ela estava prestes a explodir. Eu só queria saber por que sentia tanta satisfação em deixá-la brava.

— Não vou discutir com você. Nem sei como perco o meu tempo em dialogar com um neandertal preconceituoso como você. Já era de se esperar que saísse algo assim da sua boca, só não esperava que tio Saulo e Fernando nutrissem amizade com um tosco estranho e...

—Eita, vocês dois, parem com isso — Sue chamou a nossa atenção.

— Ela que começou.

— Ele que começou.

Falamos ao mesmo tempo.

— Você não me conhece para me acusar assim. Não falei nada de mais, só perguntei por que quis ser modelo, da mesma forma que para mim seria natural perguntar por que escolhi a medicina, não precisava se ofender — respondi com calma.

— E quem disse que quero saber por que diabos escolheu essa profissão? Não me interesso por nada que se diz respeito... — ela parou de falar quando olhou para Sue e Fernando. — Desculpem, ele me tira do sério.

— Percebemos — Sue respondeu.

— Alguém quer sobremesa? — Júlia se levantou pondo um fim na nossa briga.

Sue começou a retirar os pratos da mesa com a ajuda da Tatiane. Logo a loirinha, sim, porque agora que sabia que ela não gostava, essa seria a forma que passaria a chamá-la.

— O que foi isso? — Saulo perguntou se levantando da mesa.

— Você foi um cuzão — Fernando reclamou. — Juro que nunca imaginei que agiria assim com alguém.

Sorri balançando a cabeça em negação.

— Nem eu. Ela meio que me tira do sério.

— É mesmo? Como isso acontece com alguém que você acabou de conhecer?

— Talvez não seja a primeira vez que nos vemos. É uma história para ser contada em outro momento — respondi percebendo que as mulheres estavam voltando com a sobremesa.

— Não vou esquecer — Saulo respondeu.

— Nem eu — foi a vez do Fernando falar.

Recebi a taça que Tatiane me entregou sentando-se ao meu lado em seguida. Quando fomos apresentados mais cedo, eu a achei uma mulher muito interessante, embora tenha negado a ajuda do Saulo e do Fernando para conhecer alguém, fiquei um pouco interessado nela. Bonita, inteligente e muito discreta. Seria uma boa distração para um pai solteiro? Uma ótima candidata a um relacionamento mais sério, com toda certeza. Entretanto, a confusão parecia gostar de rondar a minha vida. Perdi totalmente o interesse depois que Lizie apareceu.

Corações Rendidos - A paixão indesejada do médicoOnde histórias criam vida. Descubra agora