Capítulo 14- Wednesday Addams

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Estou sozinha agora. A sala está em completo caos. Copos jogados pelos cantos, garrafas e latas vazias pelo chão, vestígios do que aconteceu mais cedo. A festa acabou, e o silêncio que restou é quase confortável, me permitindo ouvir apenas meus próprios pensamentos. Começo a arrumar a bagunça, catando os copos e latinhas, mas minha mente, teimosa, volta ao momento no armário... ao beijo.

O beijo que eu dei em Enid.

Não foi apenas um beijo comum, não. Queria que ela soubesse que só eu posso fazê-la sentir algo de verdade. Ajax? Ele nunca poderia dar a ela o que eu posso. Enid, por mais ingênua que pareça, precisava entender isso. Era algo que eu tinha planejado desde o início.

Lembro-me de como manipulei tudo para que aquele momento no armário acontecesse. Desde o momento em que escrevi os nomes para o sorteio, eu nunca coloquei o nome de Enid. Não poderia arriscar que outra pessoa a sorteasse. Era uma questão de controle. Eu só precisava contar com a sorte para que a garrafa não caísse sobre ela... mas quando a garrafa parou em mim, vi a oportunidade que estava esperando.

Caminhei até o pote, pegando qualquer papel. Quando abri, o nome de Mia Reed estava escrito ali. A garota que eu havia beijado no luau. Não tinha interesse em repetir aquela experiência. O que eu queria estava claro, e Mia não fazia parte dos meus planos. Enid sim.

Então, sem hesitar, pronunciei o nome de Enid.

Era a minha chance, e fiz com que fosse perfeita.

Depois de ajuntar toda a bagunça do chão, solto um suspiro longo. A sala está quase em ordem, mas minha mente continua agitada, presa a uma lembrança que não me deixa em paz. Subo as escadas em direção ao meu quarto, sentindo o cansaço começar a pesar em meus ombros. Mesmo assim, Enid não sai dos meus pensamentos.

Entro no quarto e começo a me preparar para dormir. A escuridão do ambiente normalmente me acalma, mas esta noite é diferente. Fecho os olhos, mas tudo o que consigo ver é o rosto dela, entregue ao meu beijo, arrepiada pelo meu toque.

Deitada na cama, surge uma ideia. Meu pai mencionou um jantar de negócios que ele estava me obrigando a ir. Normalmente, seria uma noite tediosa, cheia de conversas insuportáveis sobre empresas e acordos. Mas talvez... Enid poderia ser uma boa companhia.

Não consigo evitar o pensamento de como seria interessante tê-la ao meu lado, em meio a todos aqueles homens insuportáveis falando sobre negócios. Ela poderia aliviar o peso da noite, e seria interessante ver como ela reagiria àquele ambiente. Além disso, manter Enid perto de mim... nunca foi uma má ideia.

Sorrio ligeiramente no escuro, já imaginando como farei o convite.

Na manhã seguinte, os raios de sol invadem meu quarto como uma afronta, acordando-me de um sono inquieto. Sento-me na cama, esfregando os olhos com uma irritação crescente. Não demoro. Levanto, faço minhas higienes e desço as escadas em direção à sala de jantar, já com um gosto amargo na boca.

Ao entrar, vejo minha mãe sentada à mesa, uma figura que raramente aparece por aqui. Ela levanta os olhos, me oferecendo um sorriso curto e sem emoção, como se isso fosse suficiente. Eu não retribuo, nem penso em fazê-lo. Apenas me sento e começo a tomar o café, deixando o silêncio entre nós se arrastar.

— Como estão indo as coisas? — sua voz soa calma, como se fosse uma mãe atenta, mas para mim, é um insulto.

— Bem — resmungo, sem tirar os olhos do café, a raiva fervendo sob a superfície.

Ela faz uma pausa, e então vem o inevitável:

— Soube que você fez uma festa aqui ontem. Sem me avisar.

Rebel Hearts (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora