Capítulo 23- Wednesday Addams

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A melodia suave de uma música começou a ecoar lá de dentro do restaurante, alcançando o terraço onde estávamos. O som envolvente se misturava com o silêncio da noite, criando uma atmosfera estranhamente tranquila, quase reconfortante. Eu poderia ter ignorado, me afastado, voltado para o jantar e para toda aquela farsa, mas algo dentro de mim não permitiu.

Desviei o olhar do horizonte e o voltei para Enid. Ela estava admirando as estrelas, perdida em seus pensamentos, provavelmente achando um momento de paz ali. Havia algo na forma como a luz suave da lua tocava seu rosto, tornando-a ainda mais... radiante. Algo em mim se moveu, algo que eu costumava reprimir. Mas naquele instante, não consegui lutar contra isso.

Sem dizer uma palavra, estendi a mão e toquei a dela. Enid se sobressaltou levemente, mas seus olhos curiosos me encararam. Não havia necessidade de explicar. Eu a puxei suavemente para mais perto de mim, até que nossos corpos se tocaram, e guiei suas mãos para o meu pescoço, fazendo com que seus braços me envolvessem, criando uma proximidade inesperada, mas necessária. Eu sabia que ela podia sentir meu coração batendo — não era rápido, mas era pesado, como se cada batida carregasse o peso de algo mais profundo.

Minhas mãos encontraram sua cintura com facilidade. O toque era firme, mas não invasivo, e logo me permiti afundar meu rosto em seu pescoço. O cheiro dela era doce, mas não aquele doce exagerado, enjoativo. Era algo sutil, quase viciante, que me trazia uma estranha sensação de calma em meio ao caos que eu estava tentando controlar. Fechei os olhos por um segundo, permitindo que a sensação de segurança tomasse conta de mim. Enid estava ali, perto, comigo. E por algum motivo, isso bastava.

Sem dizer nada, comecei a me mover. Meus pés deslizaram suavemente sobre o chão de pedra do terraço, acompanhando o ritmo da música que vinha lá de dentro. Eu não sabia exatamente por que estava fazendo isso, mas no fundo, sentia que precisava desse momento. A noite, o som, o toque de Enid... era a combinação perfeita de algo que eu mal sabia que queria.

Eu a sentia se mover junto comigo, seus braços ao redor do meu pescoço se ajustando naturalmente ao meu ritmo. Havia uma suavidade nesse movimento, uma leveza que contrastava com todo o peso que eu vinha carregando.

Enquanto nos movíamos ao som daquela melodia, mantive meu rosto perto de seu pescoço, inalando seu perfume e deixando que ele me acalmasse de alguma forma. Era estranho o quanto aquilo fazia sentido, o quanto estar ali, nesse exato momento, com Enid nos meus braços, parecia certo, mesmo que eu tivesse passado tanto tempo resistindo a qualquer tipo de conexão.

A verdade é que, naquele momento, não importava o que estava acontecendo lá dentro. Não importava a pressão do meu pai, a perda de Pugsley ou as expectativas dos acionistas. O que importava era o presente — o ritmo lento da música, a forma como nossos corpos se moviam em sincronia, e o fato de que, pela primeira vez em muito tempo, eu me sentia um pouco menos... só.

E com isso, continuei a me mover, deixando que a música guiasse nossos passos sob o céu estrelado, sem querer que aquele momento acabasse.

Enquanto nos movíamos suavemente ao som da música, Enid parecia se perder em seus próprios pensamentos. Senti seu corpo relaxar um pouco mais em meus braços, e por um breve momento, ela murmurou algo que me pegou de surpresa.

— Cante para mim.

Minha mente ficou em silêncio. Cantar nunca foi algo estranho para mim. Quando Tyler, Bianca e eu formamos a banda, era apenas uma maneira de escapar, um refúgio em meio ao caos. Não sou do tipo que se expõe dessa maneira, muito menos através de algo tão pessoal como uma música. Mas, de alguma forma, o pedido de Enid me desarmou. Ela olhou para mim com aqueles olhos tão sinceros, e percebi que, por mais estranho que fosse, eu não queria dizer não.

Rebel Hearts (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora