Capítulo 11- Wednesday Addams

111 10 0
                                    

A semana havia se arrastado, sem surpresas, sem festas. Tudo estava silenciosamente normal, o que, na minha opinião, é o mais perto de "perfeito" que qualquer coisa pode chegar. O dia em que faríamos o trabalho havia finalmente chegado. E, como sempre, eu estava sozinha.

Sentei-me à enorme mesa de madeira escura, cheia de detalhes entalhados, enquanto tomava meu café da manhã em um silêncio que só o isolamento proporciona. A mansão estava mergulhada em uma quietude fria, quase como se absorvesse a solidão que eu tanto prezava. Meu pai havia saído em uma de suas intermináveis viagens de negócios, algo pelo qual, confesso, sou imensamente grata. Sua presença normalmente era um veneno, uma sombra constante que me lembrava de algo que ele jamais me deixava esquecer: a morte do meu irmão. Em sua mente distorcida, aquilo era minha culpa.

Sorri levemente para mim mesma. Pelo menos hoje ele não estaria aqui para arruinar o que deveria ser um dia interessante.

Minha mãe, claro, estava no hospital. Cirurgiã. Uma carreira que consome não apenas o tempo, mas também a alma de quem a segue. Ela estava sempre lá, sempre operando, salvando vidas de estranhos, enquanto a minha parecia cada vez mais insignificante para ela. Rebeldia? Talvez. Talvez seja isso que me tornei. Uma rebelião ambulante contra essa negligência calculada. Se o mundo ao meu redor decidiu que eu sou a causa do sofrimento, então que seja. Eu assumo o papel com prazer.

Levantei-me lentamente, levando a xícara de café até a pia. A luz da manhã entrava pelas grandes janelas, iluminando os detalhes da mansão, mas não fazia muita diferença. A casa ainda parecia vazia. Enorme, fria, impessoal.

E hoje, eles viriam para cá.

Subi as escadas da mansão, cada degrau rangendo levemente, um som que há muito tempo se tornara parte da rotina. O único lugar onde eu realmente me sentia, se é que essa palavra faz algum sentido para mim, um pouco mais... eu mesma, era o meu quarto. Aquele espaço, isolado de tudo, era onde eu podia deixar cair a máscara fria e distante que uso para o mundo. Lá, eu existia de verdade, sem expectativas ou julgamentos.

Ao abrir a porta, o ar familiar do quarto me envolveu. As paredes eram cobertas de pôsteres de bandas e artistas que quase ninguém sabia que eu admirava. No canto, alguns instrumentos empoeirados, esquecidos com o tempo, me observavam em silêncio. Havia uma parte de mim ali que poucos conheciam, uma parte que, por um tempo, foi viva.

Caminhei até a guitarra que repousava sobre um suporte, sem uso há tempos. Fiquei olhando para ela por alguns segundos, e um turbilhão de memórias se agitou dentro de mim. Foi aqui que eu, Bianca e Tyler, durante um breve surto de inspiração juvenil, decidimos montar uma banda. Passávamos horas tocando, explorando acordes, compondo melodias que só faziam sentido para nós. Tudo isso parecia pertencer a outra vida, uma vida que desmoronou no dia em que Pugsley morreu.

Ele sempre nos apoiava. Sentava-se ao lado, com um sorriso que eu jamais admitiria em voz alta que sentia falta. Quando ele partiu, a vontade de tocar morreu junto com ele. As músicas, os ensaios... tudo perdeu o sentido. Até escrevi algumas letras depois disso, mas elas se transformaram em nada mais que rascunhos esquecidos, ecoando a tristeza que tentava esconder.

Por um momento, hesitei. Mas então, peguei a guitarra. O peso familiar em minhas mãos trouxe uma sensação estranha de conforto. Toquei alguns acordes, simples, quase sem pensar. E, sem perceber, meus pensamentos foram parar em Enid. Seus olhos azuis invadiram minha mente, tão cheios de vida, em contraste com tudo o que eu sou. Algo em seu olhar, tão brilhante e intenso, me fazia pensar que talvez, só talvez, nem tudo estivesse perdido.

Os acordes ficaram mais lentos enquanto eu tocava, perdida em pensamentos.

O tempo passou enquanto eu tocava, cada acorde ecoando pelos meus pensamentos, misturando-se com lembranças e inquietações. Me perdi naquela melodia improvisada, deixando os sons carregarem tudo o que eu sentia, até que um som externo quebrou o fluxo: a campainha.

Rebel Hearts (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora