Capítulo 6- Wednesday Addams

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  A enorme mansão dos meus pais se ergueu diante de mim, imponente como sempre. Minhas mãos tremiam ligeiramente enquanto eu subia os degraus da entrada, o nervosismo crescendo a cada passo. O que será que meu pai queria?

  Quando entrei, a governanta, com seu olhar habitual de impassibilidade, me cumprimentou com um aceno. Eu apenas respondi com um sorriso nervoso antes de seguir em direção à sala de estar. Lá, meu pai estava sentado no sofá, o rosto impassível.

  — Olá, pai — disse, tentando manter a voz firme.

  Ele não respondeu. Apenas apontou para o sofá em frente a ele, sinalizando que eu deveria me sentar. Sentei-me, tentando não demonstrar a ansiedade que me consumia. Meu pai começou a falar, a voz grave e autoritária.

  — Na próxima semana, teremos uma reunião de negócios com alguns empresários importantes. Você vai comigo para observar como as coisas funcionam.

  Eu me contive para não protestar, mas a ideia de estar ali me deixou inquieta.

  — Mas eu... — comecei a protestar, mas fui interrompida pelo grito de meu pai.

  — Você não tem escolha, Wednesday! Vai herdar a empresa, querendo ou não! Fotografia não vai levar você a lugar nenhum!

  Seu tom era irredutível, e a frustração no meu peito se misturou com uma ansiedade quase insuportável. Meu pai se levantou abruptamente, deixando a sala sem um olhar para trás. Eu fiquei lá, sozinha, a ansiedade quase me dominando enquanto as palavras dele ecoavam na minha mente.

  Saí da mansão em passos rápidos, o coração ainda acelerado pela conversa com meu pai. Dirigi-me à garagem e, com mãos tremendo, peguei meu capacete e montei na moto. O motor rugiu ao ser ligado, e eu acelerei, fugindo das emoções que me afligiam.

  As ruas passaram em um borrão enquanto eu corria, a velocidade ajudando a dissipar a dor no meu peito. As lágrimas começaram a escorregar pelo meu rosto, misturando-se com o vento que batia contra meu rosto. A moto parecia ser a única coisa que me dava um pouco de alívio, uma sensação de controle em meio ao caos que minha vida estava se tornando.

  Continuei a acelerar, sem destino claro, apenas tentando escapar da sensação opressiva de impotência que meu pai me havia imposto. A cidade ao meu redor tornou-se um borrão de luzes e cores, uma tentativa desesperada de afastar os pensamentos que não me davam paz.

  Após um tempo sem rumo, a moto me levou ao cemitério onde Pugsley estava enterrado. Desliguei o motor e caminhei até o túmulo dele. A pedra fria e imponente com seu nome gravado parecia me encarar com uma tristeza silenciosa.

  Sentei-me de frente para o mármore, as pernas fraquejando sob o peso da dor que carregava. Olhei para o nome de Pugsley e, com a voz embargada, falei, como se ele pudesse ouvir.

  — Eu desejaria ter morrido no seu lugar, Pugsley. Se você estivesse aqui, tudo seria mais fácil...

  As lágrimas escorriam livremente agora, misturando-se com o chão frio sob mim. Senti uma solidão profunda, uma falta que nada parecia preencher. O luto pela perda de meu irmão e a pressão de meu pai pesavam igualmente sobre mim. Meu desejo de que ele ainda estivesse aqui, ao meu lado, era quase insuportável.

  Depois de um tempo no cemitério, já era noite quando decidi voltar para o prédio. Estacionei a moto e, com os pensamentos ainda tumultuados, entrei no prédio e subi para o meu dormitório. No corredor, avistei Divina em seu habitual estado de distração, conversando animadamente ao telefone.

  Sem dar atenção, fui diretamente ao frigobar, peguei a bebida mais forte que encontrei e a levei comigo até o meu quarto. Joguei-me na cama, a garrafa ao meu lado, e peguei meu celular. Com a mente ainda girando, decidi buscar um pouco de distração nas redes sociais.

  Pesquisei o nome "Enid Sinclair" e logo encontrei o perfil dela. Ao rolar pelas fotos, fui capturada pela beleza de Enid —seus olhos azuis brilhavam com uma vivacidade que me parecia inatingível. Enid parecia ter uma vida perfeita, ao contrário do caos em que eu me encontrava. O perfil dela mostrava uma vida de sucesso e simplicidade, e descobri que ela era bolsista na faculdade, algo que me impressionou.

  Admirei a forma como Enid parecia tão bem resolvida, com uma vida equilibrada e cheia de promessas. Fiquei refletindo sobre como sua existência parecia ser a polaridade da minha—um contraste tão marcado que me fez sentir ainda mais o peso das minhas próprias escolhas e responsabilidades.

  Acordei com uma dor de cabeça latejante e uma sensação de mal-estar. Quando abri os olhos, a luz do sol já estava filtrando-se pelas cortinas. Ao olhar para o chão ao lado da cama, vi a garrafa de bebida vazia caída, um lembrete silencioso da noite anterior.

  Desbloqueei meu celular e, para minha surpresa, descobri que ainda estava no perfil de Enid. O rosto dela aparecia na tela, as fotos ainda abertas. Percebi que tinha adormecido enquanto observava suas imagens, a sensação de admiração misturada com a amargura de minha própria situação.

  Suspirei, sentindo uma mistura de vergonha e tristeza. O contraste entre a vida aparentemente perfeita de Enid e o caos que eu enfrentava parecia ainda mais pronunciado agora. Levantei-me com esforço, tentando afastar o peso da ressaca e as emoções confusas que me atormentavam.

  Depois de um banho relaxante, dirigi meu carro até o campus e o estacionei. Encostei-me nele e acendi um cigarro, observando o movimento ao redor. Foi então que avistei Enid passando por mim. Sem pensar, fui até ela e a puxei pelo braço.

  — O que você quer dessa vez? — ela perguntou, claramente irritada.

  Ignorei o tom cortante e soltei uma risada leve.

  — Vai ao luau na praia hoje à noite?

  Ela franziu a testa.

  — Não sei, ainda estou decidindo.

  Não perdi tempo e ofereci:

  — Que tal eu te dou uma carona?

  Ela hesitou, respondendo:

  — Vou pensar.

  Ri, achando a situação divertida, e pedi:

  — Você precisa ser menos chata e se soltar mais.

  Enid, visivelmente desinteressada, respondeu:

  — Se você continuar fumando essas porcarias, só vai fazer mal para você.

  — Você não entende os meus motivos — respondi, a fumaça flutuando entre nós.

  Eu ainda olhava para Enid, dando uma longa tragada no cigarro e soltando a fumaça lentamente, mantendo o olhar firme nos olhos de Enid. Ela apenas revirou os olhos e virou-se, dando as costas para mim.

  Eu ri, divertida com a reação de Enid, e fechei o carro com a chave. Com um último olhar para Enid, que se afastava,fui em direção à minha aula, a fumaça do cigarro ainda pairando no ar ao meu redor.

Rebel Hearts (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora