Capítulo 3- Enid Sinclair

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  Eu estava parada, observando Wednesday, que agora estava completamente fora de si, bêbada e falando coisas sem sentido. A cada palavra que saía da boca dela, mas eu sentia minha paciência se esvaindo.

Wednesday era o tipo de pessoa que eu sempre quis manter distância – arrogante, despreocupada, alguém que nunca leva nada a sério. E, claro, completamente oposta a mim.

  "Já chega", pensei. Eu não deveria ter vindo a essa festa. Não deveria ter perdido meu tempo tentando socializar com esse tipo de gente.

  — Eu vou embora — anunciei, virando as costas para ela.

  — Onde você vai, Sinclair? — ouvi Wednesday perguntar, com a voz arrastada e a risada no fim da frase, sem um pingo de sobriedade.

  — Já deu pra mim — respondi friamente, continuando meu caminho sem olhar para trás.

  Enquanto eu me afastava, ouvi os passos dela tropeçando atrás de mim. Ótimo, era só o que faltava. Eu não queria lidar com ela, não assim, não agora. Mas, aparentemente, Wednesday tinha outros planos.

  Ela estava indo na mesma direção que eu, saindo da casa cheia de pessoas bêbadas e indo em direção aos carros estacionados na rua. Eu apenas queria ir embora e esquecer esse dia, mas o que vi me deixou ainda mais irritada.

Wednesday estava cambaleando na direção de um carro luxuoso, mal conseguindo manter o equilíbrio.

  "Você só pode estar brincando," pensei, enquanto meus pés se moviam quase instintivamente. Entrei na frente dela antes que ela pudesse abrir a porta do carro.

  — Você não vai dirigir assim — declarei, cruzando os braços.

  Ela me olhou por um segundo, com um sorriso bêbado no rosto, claramente se divertindo com a situação.

  — Está preocupada comigo, Sinclair? — Wednesday provocou, com aquele tom debochado que já estava me dando nos nervos.

  Revirei os olhos e mantive a voz firme:

  — Eu estou preocupada com as pessoas que você pode matar dirigindo assim. Não com você.

  Wednesday riu, balançando a cabeça como se achasse a situação hilária. Ela tentou passar por mim, mas eu blqueei o caminho de novo, determinada a não deixá-la fazer algo tão estúpido.

  — Você não vai a lugar nenhum desse jeito — continuei. — Dá pra ver que mal consegue ficar em pé, quanto mais dirigir.

  Ela tentou focar o olhar em mim, mas claramente estava lutando contra o álcool que circulava pelo corpo. Eu sabia que ela era teimosa, mas não podia deixar que fizesse uma besteira dessas.

Meu instinto de proteção era maior do que qualquer irritação que eu sentisse por ela.

  Não sabia o que estava me impulsionando a ajudar alguém como Wednesday, mas eu simplesmente não conseguia deixar alguém tão bêbado dirigir um carro. O risco era grande demais, e, por algum motivo, não consegui simplesmente deixá-la. Fui até ela e peguei as chaves do carro que ela estava tentando abrir.

  — Vamos, entre no carro — ordenei, tentando ser o mais prática possível. — Não estou com paciência para discutir.

  Wednesday se deixou ajudar, balançando a cabeça como se estivesse em um pesadelo. Ajudei-a a entrar no banco do passageiro, um pouco bruta na minha urgência para garantir que ela estivesse segura. Em seguida, entrei no banco do motorista, respirei fundo e liguei o carro.

  Eu sabia que dirigir esse tipo de carro não era exatamente o que eu estava acostumada, mas a situação me fazia ignorar o desconforto. O carro deslizou pela rua enquanto eu tentava manter o foco.

  Quando parei em um semáforo, olhei para Wednesday, que estava com a cabeça encostada no vidro e respirando pesadamente. Eu não queria me dar ao trabalho de ficar conversando com ela se ela não estava em condições de responder.

  — Ei — chamei, mas ela apenas murmurou algo inaudível e continuou ali, dormindo. — Onde é seu dormitório?

  Ela murmurou alguma coisa sobre o dormitório no prédio C. Era claro que Wednesday não estava em estado de responder a perguntas ou se preocupar com direções. As ruas estavam silenciosas naquela noite, e dirigir me dava um tempo para pensar, embora eu estivesse apenas tentando resolver a situação da melhor forma possível.

  Finalmente, avistei o prédio C. Encostei o carro e olhei para Wednesday, ainda inerte ao meu lado. Eu não tinha ideia se ela tinha certeza de onde estava, mas pelo menos conseguiria deixá-la segura.

  Puxei a chave e fui até o lado do passageiro, ajudando Wednesday a sair do carro e apoiando-a enquanto caminhávamos para a entrada do dormitório, que ela me disse ser na porta 7. O ar frio da noite parecia trazer um pouco de clareza, e eu estava determinada a não deixar Wednesday se machucar ou fazer algo estúpido.

  — Vamos, acorde — tentei acordá-la, enquanto usava a chave da portaria para entrar no prédio. — Estamos quase lá.

  Com esforço, consegui levá-la até o elevador e, finalmente, até o andar onde ficavam os dormitórios. Quando chegamos ao quarto dela, eu esperava que ela estivesse um pouco mais consciente, mas não foi o caso. Eu abri a porta e a ajudei a entrar, finalmente deixando-a na cama.

  Ao olhar para ela ali, deitada e dormindo, eu me senti um pouco mais aliviada. Não era o que eu planejava para a noite, mas pelo menos, tinha feito algo certo. A irritação ainda estava lá, mas agora eu só queria garantir que ela estaria bem e segura.

  Enquanto ajustava o cobertor sobre Wednesday, ouvi um murmúrio incoerente vindo dela. Ela estava tão fora de si que parecia falar em sonhos.

  — Pugsley... — Valentina sussurrou, o nome escapando de seus lábios com uma tristeza inesperada.

  Eu não sabia o que significava ou quem era Pugsley. Não tinha certeza se era um namorado, um amigo ou alguém próximo. Mas, francamente, não estava interessada em descobrir. O nome pairava no ar, misterioso e distante, enquanto Wednesday continuava em seu estado de torpor.

  Olhei ao redor do quarto, sentindo a necessidade de deixar aquele lugar o mais rápido possível. Era tarde, e eu tinha aulas cedo no dia seguinte. O cansaço começava a pesar em meus ombros, e eu só queria voltar ao meu dormitório e dormir.

  Com um último olhar para Wednesday, ainda adormecida e murmureando, virei-me e saí do quarto. O corredor do dormitório estava silencioso e deserto, refletindo meu próprio desejo de escapar da noite e da confusão que ela trouxe. Caminhei até a saída do prédio, onde a brisa fria da noite parecia um alívio bem-vindo.

  Ao entrar no meu próprio dormitório, respirei fundo e fechei a porta atrás de mim. Estava exausta, tanto física quanto mentalmente. Com um último pensamento sobre o nome Pugsley, me arrastei para a cama e deixei o cansaço me envolver, esperando que o dia seguinte trouxesse uma nova perspectiva.

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