Karolina Stevens

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Sozinha, com o coração acelerado, adrenalina entorpecendo meu corpo, corria loucamente atrás deles e das criaturas que o capturaram. Elas ficaram mais longe, comecei a correr mais rápido, o meu grupo de soldados já não conseguiam acompanhar meus passos, o único jeito era tentar salvar a mim, Álvaro e os outros lutando até a morte.

– ÁLVARO! – Gritei perdendo todos de vista.

– SUPREMA! – Ele gritava pela minha ajuda, com sua voz consegui distinguir a direção que eles tinham ido. Corri novamente.

De repente tudo ficou em silêncio, o som de pessoas lutando se dissipou, restando apenas o barulho da minha respiração desregular. Meu instinto de sobrevivência gritava para eu ir embora, fugir dali, mas meu dever como Suprema Alfa me fazia seguir adiante. Olhei ao redor procurando pelo Álvaro que sumiu de vista, tive que seguir meu olfato para localizá-lo. Tudo estava quieto. Quieto demais! Medo era só o que sentia, desde quando aquela coisa atacou o Alec, medo do desconhecido, eu não sabia o que era aquilo, e minha pele se arrepiava de medo. Seguindo meus outros instintos, voltei a correr novamente.

Até que os avistei.

Os soldados e Álvaro haviam sido amarrados numa espécie de cruz invertida, todas as criaturas estavam ao redor formando uma meia-lua, no mínimo cem criaturas estavam presentes, havia uma pedra imensa com facas e objetos em cima e logo atrás um santuário macabro com caveiras e ossos de pessoas e animais aos pés de uma estátua feminina. Eles iam fazer sacrifícios para aquela mulher da estátua, que mesmo estando diferente, eu logo percebi quem era.

– Anealix... – Murmurei estupefata.

Escondida e agachada entre as árvores, esperando o momento certo para salvá-los, pois estava em desvantagem, escutei as criaturas falando uma oração como se fosse um canto.

– "Ó Salvadora, aqui é o seu subordinado,

Hoje, eu lhe peço, venha logo ao meu chamado,

Você é a filha do nosso senhor,

Portanto, ao seu lado, contigo, eu estou."

"Hoje, mais um se juntará ao seu coração,

E caminharemos à longa estrada da escuridão,

Para que possamos cumprir a nossa missão."

Ainda orando, uma daquelas coisas de olhos pretos pegou algo pontiagudo da pedra, cortou sua própria pele, sangue preto escorria de lá, outros agarram a cabeça de um dos soldados, abriram sua boca e o forçaram a beber o sangue daquele que havia se cortado. O soldado era um vampiro, aquele sangue não deveria fazer nenhum mal, além de fortificá-lo, porém poucos segundos depois, ele começou a se contorcer e um sorriso macabro apareceu em seus lábios. O homem que antes era somente um vampiro comum tornou-se uma criatura.

Rapidamente eu entendi: Aquelas criaturas, na verdade, eram pessoas possuídas sob o controle da Anealix. A cena de uma pessoa que também vi com olhos negros e sorriso macabro passou pela minha cabeça: Lúcius.

Ele também ficaria assim? O medo do futuro assolou em mim novamente.

As pessoas possuídas começaram a colocar o sangue na boca dos outros soldados enquanto eles gritavam desesperados. Não! Eu não podia deixar aqueles homens serem possuídos! Tinha que salvá-los! Álvaro era o próximo, enquanto gritava por socorro, os possuídos abriram sua boca para colocar o sangue.

Respirei fundo, fechei os punhos e os olhos, saí de trás das árvores e pulei na direção deles. Ainda no ar, segurei o cabo da minha espada com as duas mãos, a perna direita em apoio, coloquei a lâmina na altura do meu pescoço em horizontal, caindo em pé atrás do que estava com a pele cortada deixando seu sangue escorrer pelo braço, atravessei a espada no seu pescoço, decepando-o. Meus olhos se cruzaram com os de Álvaro, ele estava espantado, mas ficou aliviado quando me viu, era como se tivesse diante da sua salvadora que mais parecia uma demônia, com gotículas de sangue pelo rosto todo e olhos vermelhos brilhando.

– AAAAAHHHH! – Os outros possuídos começaram a gritar enfurecidos e me atacaram.

Um por um, corpos mortos caiam na minha frente quando eu os acertava rapidamente. A adrenalina percorria pelas minhas veias como sangue, em um único golpe soltei o Álvaro que com muito esforço começou a soltar os outros. Minha espada fincou no crânio de uma mulher e não consegui tirar, ela caiu ao lado, o sangue preto escorria pela testa e seus olhos pretos estavam abertos, mas sem vida. Abri as mãos nas laterais do corpo, transformando em garras esperando a próxima possuída pular em cima de mim loucamente, antes de me alcançar, a golpeei com minha garra direita no seu rosto e a esquerda arrancou sua garganta, ela caiu bruscamente no chão.

– SUPREMA! – Álvaro gritou atrás de mim, virei-me e vi outro homem correr na minha direção com os dentes à mostra.

– VÃO! – Mandei Álvaro e meus soldados irem embora. Corri na direção daquele que vinha até mim, assim que nos chocamos, apoiei meus pés em seu corpo, como se estivesse subindo em uma escada, sentei nos seus ombros, agarrei sua mandíbula e torci sua cabeça para o lado, quebrando o pescoço no meio. Ele caiu morto no chão e eu fiquei de joelhos ainda com as pernas envolta dele. Senti meu cabelo sendo puxado por trás, surgiu uma dor no couro cabeludo. Com as duas garras, perfurei aquela mão que me segurava, cortando também seu pulso, um grito de dor saiu dos lábios daquela criatura e de repente senti uma mordida no meu braço esquerdo.

A dor era insuportável! Minha pele queimava, doía mais que qualquer ferida que já tive, era horrível, parecia que meu braço estava em chamas.

Meus olhos lacrimejaram com a dor, meu corpo pensava só em gritar e se debater desesperadamente, mas não era racional. Tive que aguentar a dor para pensar numa forma de me livrar das presas daquela pessoa. E eu mais forte que eles! Essas pessoas possuídas não podiam me vencer assim tão fácil!

Ainda de costas para aquela pessoa, com os olhos lacrimejados, puxei o ar pelos pulmões, soltei minha mão direita, aguentando a dor, fiquei de lado e atravessei minha garra preta na sua barriga, segurei seu intestino e puxei. Ela gritou e caiu de joelhos.

Ainda sob o corpo do outro que havia matado, me levantei e fiquei de frente para aquela garota de no máximo dezesseis anos que gritava segurando sua barriga, sua boca estava suja do meu sangue, ela começou a vomitar algo preto e pastoso, com lágrimas nos olhos e suas mãos ainda na barriga tremendo, ela olhou para mim e seus olhos totalmente negros voltaram ao normal.

Franzi as sobrancelhas, encarando aquela mulher que abriu a boca para falar algo, mas caiu já sem vida. Outros correram na minha direção, acelerei meus passos e antes de alcançá-los, apoiei meu pé direito em uma das cruzes invertidas, impulsionei meu corpo em um pulo desviando deles, de cabeça virada para baixo, apoiei minhas duas mãos no chão e em um salto bati meus pés onde queria alcançar, na pedra que continha facas e objetos pontiagudos.

Eles se aproximaram de mim enquanto eu estava em pé em cima da pedra pegando as facas, meus chutes eram tão ferozes que quebrava os ossos dos rostos daquelas pessoas, mesmo assim eles tentavam me pegar, carcando a pedra gigante. Comecei a lançar facas nos crânios deles, eu estava cercada e sozinha naquele covil, mas só a morte iria me parar.

As facas estavam acabando, a qualquer momento eu iria entrar em luta corporal novamente, mas nunca pensei em desistir ou me render.

Quando joguei as últimas facas nos crânios daquelas criaturas, fiquei parada e por um segundo tudo ficou em câmera lenta, só consegui ouvir o som acelerado do meu coração e minha vida toda passou em fração de segundos pela minha mente.

Desde a morte do meu tio, nunca mais me senti segura e protegida, sempre tive que zelar pela minha vida e a de Kamilla e agora não seria diferente. Eu estava sozinha e um pouco ferida cercada por pessoas possuídas, algo que nunca tinha presenciado na vida, mesmo assim preciso lutar pela minha vida e pela segurança das outras pessoas, sozinha, completamente sozinha.

A solidão é um sentimento deprimente que nos faz sentirmos inúteis e vulneráveis.

Antes de entrar em combate novamente, peguei no meu pescoço e senti o pingente pequeno daquele colar... Lúcius, se ele ao menos estivesse ao meu lado para me ajudar.

Senti meu tornozelo sendo agarrado por uma mão e um homem subia na pedra para me atacar, assim, voltei a lutar. 

Luz Dos Teus Olhos VermelhosOnde histórias criam vida. Descubra agora