𝐶𝑎𝑝 23

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No dia seguinte, a casa estava estranhamente silenciosa. Alexander circulava pela cozinha com movimentos lentos, preocupado com o silêncio que ainda emanava do quarto de Fyodor. O relógio da sala marcava às horas, mas o tempo parecia não passar. O pai se perguntava o que teria acontecido durante o encontro do filho com os amigos para deixá-lo tão abatido.

Ele considerou perguntar novamente, mas lembrava-se do olhar triste e da voz trêmula do seu filho, e decidiu dar mais tempo ao garoto. No fundo, desejava que a dor passasse, que os momentos de tristeza logo se transformassem em diálogos mais leves, como costumavam ter antes. Mas sabia que, no ritmo certo, Fyodor iria procurar conforto e, quando estivesse pronto, ele estaria lá.

⸻ Nataly, como posso fazer para entender o nosso filho? Era tão fácil com você. Seu trabalho como psicóloga e seu papel de mãe ajudavam muito a compreender a mente dessas crianças de hoje em dia. ⸻ O homem deixou suas palavras vagarem pelo silêncio da cozinha enquanto encarava com melancolia a foto de sua mulher no papel de parede do telefone.

No entanto, quando levou a xícara com café até os lábios, algo começou a mudar. O barulho de passos leves desciam pela escada, e o jovem apareceu no vão da porta da cozinha, com os olhos ainda inchados, mas - consideravelmente - mais calmo.

Entretanto, nada mudou. O jovem russo ainda continha aquela expressão mal humorada e seu silêncio era desconfortável. Sem aguentar mais, o mais velho perguntou:

Fedya, está melhor? Como foi com os seus amigos?

Fyodor não respondeu. Permaneceu parado em frente a mesa encarando fixamente o olhar do seu pai.

Meu Deus, não me diga que foi possuído por alguma entidade maligna. ⸻ Tentou fazer uma piada sem graça para afastar o peso do momento.

Pai, eu sou gay.

Alexander congelou, com a xícara ainda em suas mãos. O choque não vinha tanto das palavras em si, mas do momento, foi simplesmente do nada. Ele observou o filho com cuidado, percebendo que Fyodor estava tentando se manter firme, embora seus olhos denunciassem a vulnerabilidade. O pai colocou a xícara sobre o balcão, tentando processar o que havia acabado de ouvir. As palavras ecoavam em sua mente: "Eu sou gay".

O silêncio que seguiu foi denso, quase sufocante. Alexander sentiu o peso do momento, sabendo que qualquer palavra poderia criar um abismo ainda maior entre eles, ou talvez, trazer o conforto que tanto desejava dar. Ele se lembrou de Nataly, de como ela lidaria com a situação, com toda a sua paciência e empatia. Ele não tinha essas habilidades. Mas, de alguma forma, precisava fazer isso funcionar.

Bom... Não direi que estou surpreso. Já cogitei essa ideia diversas vezes.

⸻ Então... Você sabia?

⸻ Não exatamente, mas você nunca comentou de nenhuma menina que achava bonita, e quando trouxe aquele... ⸻ Alexander estalou os dedos para se lembrar ⸻ Branquinho... Não lembro o nome dele...

Nikolai.

⸻Isso! O tal do Nicolas!

⸻ Nikolai, pai.

⸻ Meu Deus, Nikolai. Notei a maneira como ele te admirava com aqueles olhos.

⸻ O Kolya nem esconde mesmo, mas como você me descobriu?

⸻ Nesse exato momento você está chamando ele por um apelido, algo que nunca vi fazer nem com seus amigos quando era criança.

Fyodor baixou os olhos, notando a verdade nas palavras do pai. O silêncio se instalou novamente entre os dois, mas dessa vez era diferente, menos pesado, como se ambos estivessem tentando encontrar um ponto comum, uma ponte para atravessar o abismo que os separava.

6 months to conquer you - FyolaiOnde histórias criam vida. Descubra agora