Deitado na cama, entrelaçando meus dedos, com mais um episódio de insônia. O click do relógio ecoava pelo quarto, assim como os pingos de chuva, que apesar da ventania, eles caiam gentilmente, e escorriam pelo telhado velho de madeira.” Vamos Ford, você precisa dormir um pouco ”
Eu pensei enquanto me sentava na cama.A cabana estava quieta e isso me deixava inquieto. Um clima ruim, com uma noite fria e pensamentos ruins. Ruim, ruim, ruim!
Bati com o travesseiro em meu rosto. Apesar de tudo, do isolamento, do vazio, do escuro, ainda parecia que tinha algo ali, alguma coisa ou alguém. Talvez eu soubesse quem é, talvez eu soubesse o porquê de tanta inquietude na casa. Mas... Eu não tinha tanta certeza, até ele me dar um sinal.
O mundo parou. Cores cinzas tomaram conta de tudo, o ar parecia pesado, ruim, que deixava um gosto amargo na língua apenas por inalar aquilo.
“ Ora ora, ora ora, ora ora ora! ”
aquela maldita voz ecoou pela minha cabeça.— Bill — disse e olhei em volta.
O silêncio voltou, então me levantei, peguei meus óculos e coloquei. Olhando em volta mais uma vez.
— Bill? — Chamei novamente.
Então ele apareceu em minha frente, flutuando, sua cor amarelada se destacava em meio àquele cinza — Stanford Pines! — seu tom soava animado, porém sádico — O que meu querido amigo faz acordado a essa hora? — Perguntou confuso e voou em minha volta.
— Aposto que você tem algo a ver com isso — Sorri — Estava tudo inquieto demais.
Ele se aproximou, ficando a centímetros de mim, seu olho esboçou um sorriso, então riu, como se alguma coisa tivesse graça.
— Oh, claro! — se afastou e foi explorar o resto do cômodo — Você parecia tão inquieto nesta tarde, então eu pensei! "Talvez pudéssemos conversar sobre isso mais tarde", mas você gastou todo o seu tempo com aquele... Aquele cara lá, FiddleFord! Isso — estalou seus dedos ao lembrar do nome.
— Bem, nós temos um trato, e eu estava tentando terminar minha parte — voltei a me sentar na cama, por algum motivo, me senti cansado, mesmo que meu cansaço estivesse quase nulo a minutos atrás.
— Sim... — ele voltou para perto — Stanford, eu posso possuir seu corpo quando eu bem entender, mas eu não posso saber o que passa nessa sua cabecinha sem você me dizer — Tocou em meu nariz.
Fiquei em silêncio por um momento, então o olhei e disse que apenas estava cansado de tanto trabalho. Dias e dias acordado, pensando, escrevendo e elaborando algo impossível, era desgaste às vezes, estava se tornando maçante e exaustivo, mas não escondi o fato de que me interessava profundamente pelo conhecimento adquirido em um curto espaço de tempo. Bill era a fonte que eu precisava, o amigo que eu queria, alguém como um eu, que me completava.
Nós como um todo, estamos imbatíveis, perfeitos. Uma dupla excepcional.
— Talvez esteja se desgastando de mais — falou com um tom brincalhão, porém dava para sentir um pouco de sinceridade no meio disso — Proponho uma trégua entre nossos acordos — se apoiou em meu ombro e me encarou — Você relaxa um pouco, e eu não te atormento tanto quanto o de costume — Sorriu.
Demos risada — Uma trégua? — Indaguei curioso — Você parece estar querendo outra coisa — indaguei, sentido aquele cansaço me corroendo por dentro.
Bill me encarou por um tempo, seu silêncio consentia com o que eu havia dito, algo a mais, talvez seja por isso que ele está aqui...
— Pode ser que eu queria algo — Respondeu.
Dei um sorriso e deitei na cama — Ah... Bem, sendo isso, o que você deseja? — o olhei — Diga.
Ele pareceu pensativo, por alguns segundos, seu enorme olho se fechou e enquanto ele veio ao meu lado.
Ainda em silêncio, se deitou ao meu lado e olhou para o teto.— Andei pensando, que talvez eu pudesse ajudar você com o nosso projeto, afinal, somos parceiros, Stanford — seu tom foi sincero, de como que fazia aquela fala não parecer de Bill — Estou mexendo um pauzinhos há um tempo, logo logo você vai entender isso.
— Você realmente é cheio de surpresas... — falei sonolento, bocejei e fechei os olhos — Mas... Eu quero saber o que quer...
Ficamos em silêncio, um longo silêncio dessa vez, senti meu corpo desligar, ao mesmo tempo que tentava me manter acordado, parecia que algo queria me apagar a qualquer custo.
— Vai ter que esperar um pouco mais — ainda com os olhos fechados, senti ele tocar em meu nariz, seu toque suave, foi a última coisa que senti, antes de apagar de vez.
Então eu dormi, por muito, e muito tempo.

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Na sua mente - Billford
RomanceJovem, inseguro, ingênuo, porém excepcionalmente destemido e determinado, esse era Stanford. Um jovem adulto apaixonado por mistérios, tão apaixonado que acaba se perdendo entre a paixão e admiração pelo ser que o guia nessa jornada.