012: Linha tênue

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A música pulsava forte, quase como os batimentos acelerados no peito de Ashtray. O clima da festa estava em um crescendo tenso, como uma bomba-relógio prestes a explodir. Mia ainda estava em seu colo, mexendo no cabelo, falando algo sobre como a festa estava "incrível", mas para Ashtray, tudo ao redor parecia desbotado e sem importância. Seus olhos estavam fixos em Emma.

Ela estava no outro canto da sala, como se fosse a única coisa que ele conseguisse ver em meio ao caos. A luz suave refletia em seus cabelos e destacava seus traços de uma maneira que fazia tudo parecer irreal. Ela tragava o beck calmamente, o olhar cruzando com o dele de vez em quando, como se estivesse testando seus limites, provocando-o. E ele sabia que, no fundo, essa era a jogada. Ela queria ver até onde ele iria.

Mia se remexeu em seu colo, o puxando de volta para a realidade.

— Ei, você tá me ouvindo? — perguntou, com uma leve irritação na voz, notando que ele estava distante.

— Hm? — Ashtray respondeu, sem realmente prestar atenção. Seus olhos ainda focados em Emma, que agora sorria para alguém ao seu lado.

— Você não tá prestando atenção em nada que eu tô falando, né? — Mia cruzou os braços, claramente frustrada. Mas ele nem se importava. Mia era apenas uma distração temporária, nada mais. Não era quem ele queria ali.

Ele olhou para Mia por um segundo, os olhos sem emoção.

— Vou pegar uma bebida. — Ele disse de forma brusca, colocando Mia de lado e se levantando. Ela ficou parada, atônita, mas não o seguiu.

Ashtray caminhou em direção à cozinha, mas no fundo sabia que não estava atrás de bebida nenhuma. Ele queria uma desculpa para sair da confusão que Mia trazia e pensar em algo. Talvez até em como lidar com o fato de que estava completamente ferrado por causa de Emma Miller. O problema não era apenas o fato de ela ser filha de Rato, seu maior inimigo — era mais do que isso. Ele estava perdendo o controle, e isso era algo que ele nunca permitia.

Quando entrou na cozinha, o som da festa pareceu diminuir, mas o peso da noite o seguiu. Ele pegou um copo e encheu de água, mas não tomou. Sua mente girava. O jeito como Emma o olhava, como ela parecia desafiá-lo, jogando gasolina em uma fogueira que ele tentava desesperadamente apagar.

De repente, uma voz suave soou atrás dele.

— Fuga rápida, hein?

Ashtray se virou devagar, já sabendo quem era. Emma estava parada na entrada da cozinha, com o mesmo beck pendendo entre os dedos, um sorriso malicioso no rosto.

— Mia tava me entediando — ele respondeu, o tom casual, mas os olhos atentos aos movimentos dela.

Emma entrou na cozinha, encostando-se contra a bancada próxima. Ela parecia tranquila, como se não soubesse o caos que estava criando dentro dele. Mas Ashtray sabia que ela sabia. Ela tinha que saber.

— Você parece mais distante hoje, mini traficante. — Emma provocou, dando uma tragada no beck e soltando a fumaça lentamente.

Ashtray deu um meio sorriso, o apelido já comum, mas desta vez carregava um peso diferente. Estar perto dela sempre o deixava alerta, mas também o desarmava de maneiras que ele odiava admitir.

— E você parece estar se divertindo mais do que o normal, princesinha. — Ele rebateu, o sarcasmo pingando nas palavras.

Emma riu suavemente, mas não era uma risada alegre. Era mais um som que carregava uma certa compreensão sombria, como se ambos soubessem que estavam em um jogo perigoso.

— Você sabe que ele me mataria se soubesse, né? — Emma disse, referindo-se ao pai, Rato. A voz dela estava calma, mas havia um desafio implícito ali, algo que fez o estômago de Ashtray apertar.

— Talvez me matasse primeiro. — Ashtray respondeu, o tom despreocupado, mas por dentro, ele sabia que a situação era real. Rato não toleraria isso. Se ele soubesse que Ashtray estava se aproximando de sua filha, as consequências seriam fatais.

Os dois ficaram em silêncio por um momento, como se o perigo estivesse pairando entre eles. Ashtray se perguntou se Emma gostava de viver na beira do abismo tanto quanto ele. Ela tragou novamente e passou o beck para ele, o quebrou o momento de tensão.

— Aqui. — Ela disse simplesmente.

Ele pegou o beck e deu uma tragada profunda, o sabor familiar misturando-se com a adrenalina. Quando ele soltou a fumaça, seus olhos encontraram os dela novamente. Havia algo não dito entre eles, algo que nenhum dos dois parecia disposto a admitir, mas que estava ali, fervendo sob a superfície.

— Por que você faz isso, Emma? — Ele perguntou de repente, a voz mais grave do que pretendia.

— Faço o quê? — Ela perguntou de volta, os olhos brilhando com um ar desafiador.

— Isso. Ficar me provocando, sabendo o que isso significa. — Ashtray deu mais um passo em direção a ela, sentindo o coração acelerar.

Emma o observou em silêncio por um momento, os olhos escuros parecendo ler cada pedaço dele, antes de dar de ombros.

— Talvez eu goste do perigo. Ou talvez eu só queira ver até onde você vai, Ash. — A voz dela era um sussurro, mas cada palavra parecia perfurar o controle que ele tentava manter.

Ashtray riu, mas sem humor.

— Você realmente quer descobrir? — Ele perguntou, a proximidade entre os dois agora mínima.

Emma olhou para ele com uma intensidade que o fez esquecer completamente o caos lá fora. O som da festa, as pessoas, Mia, tudo desapareceu. Só existia ela, e a linha tênue entre desejo e destruição que eles estavam pisando.

— Talvez. — Ela disse, a voz firme, mas o suficiente para deixá-lo ainda mais inquieto.

Ashtray sabia que, ao cruzar essa linha, não haveria volta. O problema não era apenas Rato. Ele podia lidar com inimigos. O problema era o que Emma o fazia sentir — como se ele estivesse caindo sem fim, sem ter onde se segurar.

Mas naquele momento, ele percebeu que já havia caído. Não importava mais o quanto ele tentasse resistir.

𝑨𝒑𝒂𝒊𝒙𝒐𝒏𝒂𝒅𝒐 𝒑𝒆𝒍𝒂 𝒇𝒊𝒍𝒉𝒂 𝒅𝒐 𝒊𝒏𝒊𝒎𝒊𝒈𝒐 • 𝐀𝐬𝐡𝐭𝐫𝐚𝐲 Onde histórias criam vida. Descubra agora