Desejos e traições

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Christopher estava exausto. A pressão do trabalho e o turbilhão de sentimentos que Dulce havia provocado nele estavam tornando seus dias cada vez mais difíceis. Ele não conseguia se concentrar em nada que não fosse a lembrança dela, a forma como ela o desafiou, exigindo conhecer o cliente misterioso. Depois daquela última troca de mensagens no OnlyFans, ele havia desaparecido por dias, sumido de todas as redes, buscando algum tipo de clareza sobre como proceder.

Ele sabia que, se continuasse a escondê-la, a situação sairia de controle. Mas revelar-se também parecia arriscado demais. Afinal, ele estava completamente envolvido emocionalmente, muito mais do que deveria.

Decidido a tirar Dulce da cabeça, ao menos por uma noite, Christopher aceitou o convite para uma festa à fantasia em uma boate renomada da cidade. O evento prometia distração, mulheres mascaradas e a oportunidade de se perder entre bebidas e música alta. Talvez fosse o que ele precisava para esquecer Dulce, nem que fosse por algumas horas.

A festa estava no auge quando ele chegou, usando uma máscara preta e um terno escuro que o fazia parecer misterioso, quase invisível na multidão. O lugar estava lotado, com pessoas rindo, dançando e se deixando levar pelo clima de fantasia. Christopher pegou um drink no bar e se posicionou em um canto mais reservado, observando a movimentação.

Mas, de repente, algo chamou sua atenção. Entre as luzes piscantes e a multidão de mascarados, ele viu uma figura familiar — cabelos vermelhos intensos, uma energia que ele reconheceria em qualquer lugar. Dulce.

Ela estava deslumbrante, com um vestido preto justo e uma máscara que cobria apenas uma parte de seu rosto. Seu cabelo brilhava sob as luzes, e ela parecia estar se divertindo como se nada mais importasse. Mas o que realmente o fez congelar foi o homem ao seu lado.

Alfonso.

O irmão de Christopher estava próximo a Dulce, segurando um drink, e a proximidade entre os dois era alarmante. Eles riam, conversavam de maneira íntima, e a cada segundo que passava, Christopher sentia um nó se formar em seu estômago. Ele sabia que Alfonso era um sedutor nato, que adorava flertar e conquistar mulheres. Mas Dulce? Aquilo o irritava profundamente.

Ele observava à distância, tentando manter o controle, mas a cada risada, a cada gesto de cumplicidade entre eles, a raiva de Christopher aumentava. Ele segurava o copo com força, os nós dos dedos ficando brancos. E então, antes que ele pudesse processar o que estava acontecendo, viu Alfonso inclinar-se mais perto de Dulce.

E eles se beijaram.

Não foi um beijo casual, ou um simples roçar de lábios. Foi um beijo carregado de tesão, com uma intensidade que fez o sangue de Christopher ferver. Alfonso a puxou pela cintura, e Dulce correspondeu, suas mãos segurando o rosto dele enquanto o beijo se aprofundava. O beijo foi se intensificando e as mãos de Alfonso começaram a percorrer o corpo de Dulce.

Christopher sentiu como se o mundo ao seu redor tivesse parado. Tudo o que ele conseguia ver era aquele beijo, o desejo claro entre os dois. Ele sempre soube que Alfonso tinha interesse em Dulce, mas nunca achou que ela retribuiria. Ela era diferente, especial. Pelo menos, ele queria acreditar nisso.

Com o coração acelerado e o corpo tenso, Christopher virou o resto do drink de uma vez, tentando abafar a frustração que subia como um vulcão prestes a entrar em erupção. Ele precisava sair dali, mas ao mesmo tempo, não conseguia desviar o olhar.

O beijo entre Dulce e Alfonso terminou, mas a proximidade entre eles continuou. Eles riam, como se nada mais importasse, alheios à presença de Christopher a poucos metros de distância. Ele se sentiu impotente, perdido em um misto de ciúmes, raiva e algo que ele odiava admitir: dor.

Ele se afastou, sem conseguir mais assistir àquela cena, sentindo-se mais confuso do que nunca. Dulce era uma mulher que o dominava de uma forma que nenhuma outra conseguia. E agora, vê-la nos braços de seu irmão fazia sua mente girar em mil direções.

Sem dizer uma palavra, Christopher saiu da boate, deixando para trás a festa, as risadas e o beijo que o atormentaria pelas próximas noites.

Christopher não conseguia ir para casa naquela noite. O peso do que havia visto na boate, o beijo entre Dulce e seu irmão Alfonso, o deixou inquieto demais para conseguir descansar. Em vez disso, dirigiu-se para o escritório, buscando um refúgio em meio aos papéis e à rotina que, de alguma forma, o mantinha longe dos sentimentos que o atormentavam.

Chegando ao prédio, ele subiu diretamente para a cobertura, o espaço luxuoso que normalmente lhe oferecia controle e ordem, mas naquela noite parecia uma prisão de seus próprios pensamentos. Após horas refletindo e bebendo no sofá, Christopher se pegou deitado, tentando encontrar algum alívio, mas a mente continuava a girar, presa nas imagens de Dulce e Alfonso rindo e se beijando com tanta naturalidade.

O silêncio do escritório, por um momento, parecia ser seu único companheiro, até que um som o fez erguer-se ligeiramente. Ele franziu a testa, ouvindo um leve clique na porta. Alguém estava entrando. O coração de Christopher acelerou, e por instinto, ele se moveu para uma posição em que pudesse observar sem ser visto, ocultando-se nas sombras próximas à grande estante de livros.

A porta se abriu, e para sua surpresa — ou talvez nem tanto —, Dulce e Alfonso entraram. O riso baixo deles ecoava no ar, e a familiaridade entre os dois fez com que o estômago de Christopher revirasse. Ele se manteve oculto, observando em silêncio, enquanto os dois, sem perceber sua presença, cruzaram o escritório em direção ao sofá onde ele estivera minutos antes.

Alfonso puxou Dulce para si, beijando-a com intensidade, e ela retribuiu de forma igualmente apaixonada. A situação evoluiu rapidamente, e logo eles estavam envolvidos em um ato que Christopher desejava desesperadamente não ter que testemunhar. No entanto, ele não conseguia desviar os olhos. Cada risada abafada, cada toque e gesto entre os dois parecia um golpe em sua resistência.

Ele se escondia, ouvindo os sons que se seguiam, cada vez mais íntimos e carregados de desejo. A visão que tinha era ampla, fechou os olhos e algumas lágrimas escorreram sobre seu rosto, voltou a olhar a cena, Dulce estava de costas, nua e perfeita, seu corpo exatamente como ele enxergava nas telas. Christopher desejou sair dali correndo, mas preferiu se deitar no chão e fechar os olhos, na esperança de que aquilo fosse apenas alucinação... mas o que conseguia captar era o suficiente para deixar sua mente em frangalhos. O toque de Alfonso, os suspiros de Dulce, tudo parecia ecoar com mais força no silêncio do ambiente.

Christopher se agarrou à estante, lutando contra o desejo de interromper a cena que se desenrolava diante de seus olhos: Dulce montada em Alfonso e soltando um gemido alto após gozar de prazer com o irmão. Ele sentia ciúmes e uma raiva que fervia, mas misturada com uma profunda frustração e algo mais difícil de admitir: ele estava emocionalmente envolvido. Dulce era mais do que apenas uma mulher de desejo para ele, mesmo que nunca tivesse admitido isso.

O que mais o incomodava não era o ato em si, mas a conexão óbvia entre os dois. Havia algo mais profundo ali, algo que ele nunca havia experimentado com ela. Quando os sons finalmente começaram a se acalmar, ele sentiu como se algo dentro dele tivesse sido destruído.

Dulce e Alfonso permaneceram juntos por mais algum tempo, sussurrando entre si enquanto Christopher permanecia escondido, imóvel. Ele aguardou até que eles finalmente saíssem do escritório, rindo baixinho enquanto saíam pela mesma porta por onde entraram.

Quando o silêncio finalmente voltou ao ambiente, Christopher emergiu de seu esconderijo, sentindo o peso de tudo o que havia acontecido cair sobre seus ombros. Ele passou a mão pelos cabelos, frustrado, tentando entender como as coisas haviam chegado a esse ponto. Por mais que ele quisesse odiar Alfonso ou mesmo Dulce, a verdade era que ele se odiava mais — odiava o quanto havia deixado essa situação afetá-lo.

Sozinho novamente no escritório, ele se sentou no sofá onde tudo havia acontecido e viu que Dulce esqueceu sua calcinha, um fio dental vermelho, levou até seu rosto para sentir um pouco de forma real, aquilo que ele deseja mas não tem, encarando o vazio e se perguntando o que faria a partir dali. Uma coisa era clara: nada mais seria o mesmo entre eles.

CAM | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora