CAM | Vondy

Desejo e Controle

Maitê, a recepcionista da agência de modelos mal levantou os olhos da tela quando ela entrou. O olhar da mulher era frio e profissional, já ensaiado para lidar com pessoas que chegavam sem avisar, na esperança de encontrar uma oportunidade. Assim que ela explicou o motivo de sua visita, a recepcionista soltou um suspiro impaciente, balançando a cabeça.

"Desculpe, não estamos aceitando novas modelos no momento. A lista de espera está lotada," disse, com um sorriso forçado.

Dulce insistiu, tentando explicar que só precisava de uma chance. Mas a recepcionista a interrompeu, seu tom mais firme agora, como se estivesse repetindo algo pela milésima vez.

"Olha, moça, tem muita gente na sua frente. Não é fácil entrar aqui. Especialmente sem experiência."

A ruiva sentiu a frustração crescer. Ela não era uma novata sem noção, sabia como o jogo funcionava. Estava prestes a argumentar novamente quando a porta da sala ao lado se abriu com força, e um homem entrou, jogando um amontoado de papéis sobre a mesa da recepcionista.

"Eu já disse que não temos vagas!" Christopher exclamou, sua voz grave e cheia de irritação. Ele estava claramente ocupado e sem paciência para lidar com mais um "caso perdido". "Não adianta insistir, ninguém vai entrar sem uma reunião marcada."

Seu tom duro fez com que Dulce Maria estremecesse por um segundo, mas foi quando ele ergueu a voz pela segunda vez que as coisas mudaram. "Não temos espaço para mais ninguém!"

Ela se virou lentamente, o coração batendo forte no peito, e foi naquele instante que os olhos dele se fixaram nela.

Christopher congelou. A respiração dele parou por um momento, seus olhos fixos na figura daquela mulher que ele conhecia tão bem, mas que nunca esperava encontrar naquele lugar. O choque o atingiu com força, a ponto de suas mãos perderem o controle, e os papéis que segurava caíram no chão, espalhando-se por todo lado.

A recepcionista, sem perceber a tensão que se instalara, soltou uma risadinha debochada, inclinando-se na cadeira enquanto olhava para a ruiva de cima a baixo. "Parece que o chefe deixou claro. Acho que essa carreira não é bem para... pessoas do seu tipo."

Ela ficou ali, de pé, tentando ignorar a humilhação que sentia ao ser julgada pela recepcionista. Mas o que mais a desconcertava era o olhar de Christopher. Ele, que há pouco estava cheio de arrogância, agora parecia incapaz de falar, os olhos arregalados e confusos.

"Você..." ele finalmente murmurou, a voz vacilante.

Christopher deu um passo para frente, passando as mãos pelo cabelo, claramente abalado pela surpresa. A expressão de grosseria sumiu de seu rosto, substituída por uma mistura de choque e, ao mesmo tempo, admiração. Ele finalmente se recompôs, ignorando os olhares da recepcionista, e se inclinou para pegar os papéis que havia derrubado.

"Desculpe por isso," ele disse rapidamente, tentando disfarçar o desconforto. "Eu... eu não sabia que... era você."

A secretária, agora confusa com a mudança repentina de tom, olhou de Christopher para a ruiva, tentando entender o que estava acontecendo. Mas ele não deu tempo para que a situação piorasse. Sem pensar duas vezes, ele rapidamente mudou de postura, assumindo o controle da situação como costumava fazer.

"Na verdade, podemos arrumar algo," disse ele, ignorando completamente o olhar debochado da recepcionista. "Entre. Vamos conversar."

Ela ficou ali por um segundo, surpresa pela reviravolta. Não sabia se ficava aliviada ou desconfiada. Mas uma coisa era certa: aquela não era a mesma interação de sempre. E, ao ver a maneira como Christopher a olhava agora, com um misto de arrependimento e um desejo velado, ela sabia que algo maior estava em jogo.