Cada pedaço de ti

Capítulo 7

𝄞 Se eu não soubesse melhor, pensaria que você ainda está por aqui. 𝄞

*

Harry acorda com um sobressalto.

Tudo está certo com o mundo por um breve momento antes de seus sonhos escaparem e ele voltar à realidade.

Inspire—um, dois, três, quatro—e solte.

O espaço ao seu lado na cama está vazio e frio onde um corpo adorável costumava estar. Agora ele está sozinho, e seu coração foi arrancado do peito, e ele está sangrando, deixado para morrer.

Ele gostaria que morresse. Seria mais fácil do que enfrentar isso.

Inspire—um, dois, três, quatro—e solte.

Debaixo do travesseiro estão os pijamas de Draco, dobrados cuidadosamente, aguardando seu próximo uso. Harry os puxa para perto e entoca seu nariz no tecido, o cheiro de detergente floral, e o perfume levemente temperado e algo mais, algo inexplicavelmente dele.

Inspire—um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito—

Seus olhos se enchem de lágrimas, então ele os fecha com força e imagina, por um momento, como acordaria com os olhos cinzentos encontrando os seus, nebulosos e suaves com os sonhos da noite passada se dissipando. Ele se aninharia mais perto, jogaria a perna sobre as coxas de Draco, as mãos espalhadas enquanto percorriam seu peito e se acomodavam em algum lugar na nuca dele. Seus corpos se entrelaçariam como um só—dois fios do mesmo tapeçaria—e eles se beijariam enquanto se livravam dos pijamas (por que eles se dão ao trabalho de usá-los desde o começo?), a mesma rotina de sempre.

Inspire—um,dois, três, quatro

Ele faria amor com Draco gentilmente, ou Draco o faria, onde quer que seus corpos caíssem. Sem pressa e meio adormecidos, beijos lânguidos que se transformavam em gemidos suaves e bocas abertas e o lento balançar de seus quadris.

Inspire—um,dois, três

Seria confortável e sem esforço, nenhum dos dois buscando o clímax, mas alimentando a fome insaciável, encontrando consolo no toque.

Inspire—um,dois—

Harry se ergue abruptamente, balançando ligeiramente com o levantar e cair de seu peito. A casa está estranhamente silenciosa, e o silêncio grita com o que foi tirado dele.

Hermione estava certa; talvez deixar o rádio ligado ajudasse a aliviar a tensão. Mas ele não quer acordar com música ou vozes animadas estalando pelo alto-falante. Ele quer acordar com o som da chaleira, ou o ritmo familiar dos passos no corredor, ou um "amo você, vejo você à noite!" antes do fechamento da porta da frente.

Ele conseguiria lidar com o silêncio que vem depois disso, porque significaria que Draco estava voltando para casa.

Respire. Apenas respire.

Ele se arrasta até a cozinha porque é rotina, não porque está com fome. A ideia de comida agora o faz querer vomitar. O cheiro do Earl Grey que ainda paira é simplesmente cruel.

Ele se senta, queixo na palma da mão, e olha pela janela da cozinha até seus olhos vermelhos e irritados ficarem desfocados. Do lado de fora, os pássaros cantam, estranhos seguem com seus dias como se o mundo não tivesse acabado.

Como se atreve tudo ao seu redor continuar a se mover quando sua vida acabou de desmoronar? Com toda a perda que ele enfrentou, pensou que isso poderia ser familiar agora, mas não é. E não é uma morte, porque Draco não morreu, ele está em coma, dormindo, arrastado para as profundezas da nulidade nas garras dessa maldição mórbida.