Capítulo 2: Primeiros Encontros

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O sol de fim de tarde pintava São Paulo com tons alaranjados quando Tábata chegou ao local da coletiva de imprensa. Políticos, jornalistas e assessores lotavam a sala, todos em alvoroço para discutir o próximo passo da corrida eleitoral. Ela estava ali a trabalho, claro, mas, por mais que tentasse focar no que estava acontecendo ao seu redor, seus pensamentos voltavam constantemente a um nome: Pablo Marçal.

Ela ainda não sabia explicar por que o pensamento dele a incomodava tanto. Desde o primeiro debate, algo nele a provocava de maneira diferente. Era como se Marçal tivesse encontrado um ponto frágil dentro dela, e agora, sem pedir permissão, ocupasse aquele espaço. Sua confiança inabalável, a forma como ele desafiava as normas e, acima de tudo, a maneira como ele parecia lê-la de uma forma que ninguém mais conseguia.

Quando Tábata entrou na sala de imprensa, sentiu o olhar de Marçal pousar sobre ela. Ele estava no canto, conversando com sua equipe, mas assim que ela apareceu, ele desviou a atenção de tudo ao redor e focou nela. O ar entre os dois ficou pesado, e Tábata sentiu um leve arrepio subir por sua coluna.

Enquanto a coletiva prosseguia, os dois trocaram olhares discretos. Cada vez que ela o fitava, encontrava um sorriso malicioso nos lábios dele, como se ele soubesse exatamente o efeito que estava causando nela. Ela tentou ignorar, focando nas perguntas dos jornalistas e nas respostas dos outros candidatos, mas a presença de Marçal era avassaladora.

Após a coletiva, Tábata decidiu sair sem pressa, aproveitando o caos ao seu redor para ganhar algum tempo antes de encarar o trânsito de volta. Estava se preparando para sair pela porta lateral quando ouviu uma voz atrás dela.

— Achei que você fosse fugir sem ao menos se despedir.

Era Pablo. A voz dele tinha aquele tom provocativo, mas ao mesmo tempo envolvente, que a deixava sem saber se deveria rir ou se irritar. Tábata virou-se lentamente, controlando a respiração para não demonstrar o impacto que ele causava.

— Fuga não faz parte do meu repertório — respondeu, com a voz firme, mas incapaz de esconder o brilho de desafio em seus olhos.

Marçal se aproximou, reduzindo a distância entre eles. Ele não parecia com pressa, movendo-se com aquela calma que só homens extremamente confiantes exibem. Quando parou a poucos passos dela, Tábata pôde sentir o calor que emanava do corpo dele.

— Eu gosto disso em você — disse Marçal, seu olhar mergulhando nos olhos de Tábata. — Essa firmeza, essa determinação. Você parece sempre saber o que quer.

O tom dele era mais baixo agora, quase um sussurro, e isso a fez sentir uma tensão diferente. A sala ao redor parecia desaparecer, e tudo o que restava era aquele espaço estreito entre eles, carregado de energia não resolvida. Tábata podia sentir o coração bater mais rápido, mas não iria ceder tão facilmente.

— O que você quer, Pablo? — ela perguntou, mantendo o controle em sua voz, mas a respiração ligeiramente mais pesada.

Ele deu um passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre eles. Seus rostos estavam próximos o suficiente para que ela pudesse sentir o cheiro amadeirado do perfume dele. Era um cheiro que a confundia, entre a atração e o desejo de se afastar.

— Eu quero entender você — ele respondeu, a voz carregada de intenções ocultas. — Você é diferente de todos os outros políticos que conheci. É inteligente, é bonita... e é inacessível.

A palavra "inacessível" ficou pendurada no ar entre eles, e Tábata sabia exatamente o que ele estava insinuando. Ela poderia ter se afastado naquele momento, poderia ter dado uma resposta cortante e seguido em frente. Mas, ao invés disso, ela permaneceu onde estava, como se algo além de sua própria vontade a mantivesse presa naquele lugar.

— E por que isso importa tanto para você? — ela perguntou, a voz levemente mais baixa, mas sem perder o tom desafiador.

Marçal sorriu, aquele sorriso cínico que a fazia se perguntar até onde ele iria para conseguir o que queria.

— Porque eu gosto de desafios — ele disse, seus olhos escurecendo com a intensidade do momento.

Por um segundo, tudo parou. Tábata sentiu seu corpo tenso, os músculos rígidos sob a pressão daquela proximidade perigosa. O calor entre eles parecia quase palpável, e ela sabia que, se ficasse ali por mais um segundo, algo inevitável aconteceria.

Mas antes que ela pudesse reagir, um assessor entrou na sala, quebrando o encanto. Tábata deu um passo para trás, retomando o controle, e virou-se rapidamente, tentando disfarçar o quanto aquele momento a havia afetado.

— Tenho compromissos — ela disse, quase apressada, enquanto saía da sala.

Enquanto caminhava para o carro, sua mente estava a mil. O que foi aquilo? Como Marçal conseguia desestabilizá-la tão facilmente? Ela era uma mulher de princípios, casada, e comprometida com sua carreira. Não havia espaço para distrações como Pablo Marçal. Mas, por mais que tentasse afastar esses pensamentos, a sensação do olhar dele, o tom rouco de sua voz, e a forma como ele havia invadido seu espaço continuavam a ressoar dentro dela.

Mais tarde, naquela noite, já em seu apartamento, Tábata se pegou pensando em Marçal novamente. Sentia o corpo tenso, como se ainda estivesse no calor daquela sala, e sabia que aquilo não era algo que passaria facilmente. O desejo reprimido começava a ganhar forma dentro dela, e por mais que lutasse contra, havia algo em Marçal que a atraía como um ímã.

A tensão entre eles era como um jogo, mas um jogo perigoso. Um passo em falso, e tudo poderia desmoronar — sua carreira, seu casamento, sua reputação. Mas havia algo de excitante nisso. Algo proibido e tentador, que fazia seu corpo estremecer só de pensar.

Deitada na cama, Tábata fechou os olhos, tentando afastar os pensamentos. Mas, mesmo no silêncio da noite, ela sentia o calor da lembrança de Marçal, de seu sorriso provocador, de sua presença dominante.

Ela sabia que estava à beira de algo. Algo que, se deixasse acontecer, mudaria tudo.

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