Capítulo 17 - Amar

75 6 41
                                    

|Vincent|

Observei o Rody enquanto ele dormia, toda a situação por mais que eu não estivesse envolvido no passado dele, causava um aperto dentro de mim ao pensar que ele sempre foi tratado de forma estranha por causa do preconceito - mesmo que no final estivessem certos sobre ele - e que isso o fez ficar mal consigo mesmo até esse momento.

Seu rosto transbordava a calmaria de alguém que estava tendo bons sonhos, eu nunca tive um sonho, pois nunca dormi, mas a forma como minha mãe descrevia o sonho que essas outras especies tem, é igual a uma outra vida criada pela sua própria cabeça, lá qualquer pessoa pode aparecer, até os mortos, e qualquer coisa pode acontecer, não há limites.

Eu queria muito poder sonhar, poder reencontrar pessoas que me causam saudade, abraça-las e viver aquele momento até o dia seguinte chegar, ou pelos menos até que eu me fosse desse mundo.

Pensar na vida era uma coisa que eu fazia com bastante maestria, até porque não se da para pensar na morte sendo que nunca vivi ela, apenas cheguei próximo em alguns momentos.

Depois de passar a mão pelos cabelos morenos do Rody, decidi me levantar para conversar um pouco com a Rose, não tinha mãe para me guiar pelo caminho correto, então precisava de pelo menos uma figura feminina a quem confiar as minhas mais profundas inseguranças. Temos sempre o medo de estarmos fazendo algo errado, então a opinião de terceiros sempre é válida.

Ao sair do quarto, me guiei pelo cheiro da comida, até chegar na cozinha, no qual encontrei Rose olhando a vista da janela enquanto algo era feito no fogo, parei ao lado dela e a acompanhei na observação, a minha chegada parecia ser esperada por ela, já que se manteve da mesma forma até que eu começasse a falar.

- Eu preciso de ajuda...

Rose: Que tipo de ajuda? Dependendo de qual for eu sou especialista.

Respirei fundo para conseguir organizar as palavras sem que saisse tudo para fora como um vômito.

- Como que faz para ajudar alguém que está numa situação difícil? Tipo, alguém que está na mesma profundidade do fundo do poço que você, porque normalmente se ajuda alguém quando você está na parte de cima para puxar ela, mas lá embaixo eu me sinto tão impotente, fraco talvez.

Rose: Olha, é uma situação complicada Vincent - Ela fechou seus olhos, enquanto eu esperava ansiosamente pelas suas próximas palavras - não existe uma fórmula exata para se ajudar alguém, mas para um bom começo, é bom que a pessoa queira ser ajudada, tentar tirar alguém da merda sem ela querer sair de lá só vai te colocar na mesma situação.

O silêncio entre nós se perdurou um pouco, a brisa do lado de fora era agradável o suficiente para que não fosse necessário a urgência de palavras entre nós. Esperei que o eco em minha cabeça parasse para enfim, escutar suas próximas palavras.

Rose: Na sua situação, o melhor que você pode fazer é entregar todo o amor que está guardado em você, um dia, tudo passa.

- E se não passar?

Rose: ...Vai passar.

Ela se aproximou de mim e me envolveu com seus braços, não sabia, mas eu precisava daquele abraço, o carinho envolvendo toda a minha insegurança e medo, a última vez que eu tinha recebido um abraço tão bom quanto aquele, foi de uma pessoa cujo o qual eu não tive o prazer de dizer "eu te amo".

Sem que eu percebesse, um rio transbordou de meus olhos, e eu a agarrrei como se minha vida dependesse disso, senti como se acaso eu a soltasse, ela desapareceria assim como minha mãe, minha irmã e meu pai.

Seus dedos deslizaram sobre meus cabelos escuros, a ardência dentro da minha garganta se assimilava a algo entalado, uma coisa grande mais para descer, porém também para subir, entrei em desespero sem perceber, achava que tinha superado tudo aquilo, mas aparentemente eu carregaria essa dor por mais alguns anos.

Pretty Blood • Rocent Dead PlateOnde histórias criam vida. Descubra agora