Capítulo 6 - O passeio

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|Rody|

Em nosso passeio, levei o Vincent de volta para aquele lago, mas por estar de dia aquele lugar parecia ser apenas um lago comum, nada igual a como ele fica durante a noite.

- Esse aqui é o mesmo lugar de ontem, não parece ser nada especial não é mesmo? Me lembra um pouco de mim.

Do nada eu senti uma mordida e quase tirei a mão de cima dele, mas mesmo com a dor eu apenas gritei e usei uma das mãos para ver o que era, conclusão, foi apenas o Vincent que me mordeu e estava nesse momento me olhando fixamente.

- Não posso mais me autodepreciar? - ele voltou a olhar para frente - Você é um ser difícil.

Olhei ao redor e vi um lugar que as árvores estavam fazendo uma sombra enorme, caminhei até lá e tirei o Vincent de onde ele estava para poder voltar ao normal, e assim ele fez.

Vincent: Saímos da caverna justamente para não ter nada depressivo, e você vai la e fala mal de si mesmo?

- Eu estava brincando, eu sei que você gosta muito de mim, bom, acho que sim pelo menos.

Vincent: Vem aqui - ele caminhou até a raiz da árvore e se deitou nela, o segui fazendo a mesma coisa - O céu é muito bonito pela manhã, é impressionante como coisas tão bonitas podem simplesmente te matar.

- Não é só o céu que pode matar, existem diversas outras coisas.

Vincent: Para mim esse é a forma mais fácil de morrer, me distrair com a beleza do céu e ser pego pela luz do sol.

- Alias, só para tirar uma duvida, quantos anos você tem?

Vincent: 20, eu tinha acabado de completar 20 anos quando você me encontrou, é uma história bem trágica perder a família no dia do seu aniversário, mas faz parte.

- Essa é uma dor que eu não consigo imaginar.

Mesmo vindo para um lugar especial nosso, era inevitável não falar de coisas ruins, Vincent e eu nos conhecíamos em apenas 3 dias, e ambos estávamos na merda, como que melhora uma situação que já está fadada ao fracasso? Exato, não melhora.

Naquele momento eu olhei pro Vincent de canto de olho, vendo o seus olhos vidrados no azul do céu, o seu rosto me dizia silenciosamente o que ele sentia, tristeza, medo e acima de todos os sentimentos anteriores, uma angústia, ou talvez um tédio por não saber o que fazer naquele momento, eu me identifiquei naquele olhar, porque era exatamente o que eu estava sentindo.

Admito que eu provavelmente projetei a mim mesmo nessa descrição. Pois tudo estava preso em mim, sem alguém exato para desabafar, afinal, nem a Manon fazia ideia de tudo isso.

Voltei a olhar pro céu, para ter a mesma visão que o Vincent, e consequentemente ter a mesma sensação de vazio existencial, o céu era tão vasto, e eu tão pequeno.

- Você já pensou sobre o sentido da vida?

Vincent: Isso já está se tornando um papo de louco.

- É sério, eu quero saber a sua visão de mundo.

Vincent: O sentido da vida? - ele pensou um pouco antes de dizer - É uma resposta bem subjetiva e complexa, mas na minha visão, o sentido da vida engloba a sua perspectiva de vida e morte, se você acredita em um pós vida ou não, se você tem sonhos, tudo isso faz a sua vida ter algum sentido, mesmo que seja apenas para você.

- Então eu acho que o único sentido da minha vida se tornou uma pessoa.

Vincent: Esse é o pior sentido de vida que existe.

Pretty Blood • Rocent Dead PlateOnde histórias criam vida. Descubra agora