022 | Mentiras

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Jonathan

Algo estava fora de lugar, eu sabia disso. Cada vez que Cecília mandava uma desculpa, um compromisso de última hora, eu sentia o gelo no meu peito. A relação que estávamos construindo, antes tão intensa, parecia estar desmoronando lentamente, como um castelo de cartas prestes a cair.

Hoje, a desculpa era mais uma vez a madrasta dela, Ludmila. Ela disse que tinham um compromisso juntas. Mas eu conhecia Cecília o suficiente para sentir a mentira. A hesitação nas palavras, a falta de detalhes... Era como se ela estivesse erguendo um muro entre nós, tijolo por tijolo.

Li a mensagem dela pela décima vez, cada vez com mais raiva e confusão. Eu queria acreditar nela. Sempre quis confiar. Mas, honestamente, as mentiras estavam se tornando evidentes demais. E pior, eu sabia que havia algo a mais, algo que ela não estava me dizendo.

"Você está paranoico, cara," eu dizia a mim mesmo, mas, no fundo, sabia que não era só paranoia. Havia algo errado.

Eu sabia que ela estava fugindo, mas de quê? De mim? Do que nós poderíamos ser? O mais frustrante era o silêncio dela, o jeito como ela nunca falava sobre seus medos. Eu a via se afastando e não podia fazer nada. Queria gritar, perguntar o que diabos estava acontecendo, mas toda vez que tentava, ela se fechava ainda mais.

Peguei o celular novamente. Não podia mais ignorar isso. Não podia mais deixar que ela fugisse.

"Tudo bem por aí? Eu não vou te pressionar, mas a gente precisa conversar logo, ok? Amanhã podemos sair?"

Esperei, com o coração pesado e a cabeça cheia de pensamentos que eu não queria ter. Eu sabia que ela estava mentindo. Mas eu não sabia o porquê.

Cecília

Meu coração martelava no peito enquanto olhava para o celular. Mais uma mentira. Mais uma desculpa. Eu disse que tinha um compromisso com Ludmila, mas a verdade era que estava em casa, sentada na beira da cama, olhando para o nada.

Não tinha compromisso algum. Eu estava evitando Jonathan. Mais uma vez.

Ludmila me aconselhara a ser honesta, a deixar Jonathan se aproximar. Mas era mais fácil falar do que fazer. Eu já havia sido machucada antes, e a simples ideia de abrir meu coração novamente me aterrorizava. O Jonathan era diferente, eu sabia disso. Mas, ao mesmo tempo, era essa diferença que me assustava.

Eu não queria repetir os erros do passado. Não queria acreditar em promessas que, no final, se revelariam vazias. E, por mais que eu sentisse que Jonathan era sincero, algo dentro de mim sempre me puxava de volta, sempre me fazia duvidar.

O celular vibrou, e meu estômago afundou quando vi a mensagem dele. Ele queria conversar. De novo. E eu? Eu queria fugir.

"Tudo bem por aí? Eu não vou te pressionar, mas a gente precisa conversar logo, ok? Amanhã podemos sair?"

Senti um nó apertar minha garganta. Ele não estava me pressionando, mas eu sabia que estava no limite. Eu sabia que, se continuasse a mentir, ele acabaria se afastando. E talvez fosse isso que eu quisesse. Talvez fosse mais fácil afastá-lo agora, antes que as coisas ficassem mais sérias. Antes que eu me entregasse de vez.

Mas não era só isso. A verdade era que eu estava me apaixonando por Jonathan. E isso me deixava apavorada.

Com os dedos tremendo, digitei a resposta:

"Amanhã parece bom."

A mentira saiu tão fácil, mas a culpa veio logo em seguida. Amanhã eu iria inventar outra desculpa. Era o que eu vinha fazendo há dias. E quanto mais eu mentia, mais me sentia presa nesse ciclo de auto sabotagem.

Morena Tropicana | Jonathan CalleriOnde histórias criam vida. Descubra agora