024 | Conselhos

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Cecília

Estava esparramada no sofá da sala, ao lado de Lara. Nós duas assistiamos a um filme qualquer, um clássico de comédia romântica que Lara adorava e que, para mim, servia de distração. O barulho da risada da minha irmã preenchia o ambiente, enquanto eu tentava se focar na tela, mas a minha mente estava longe, muito longe.

O som da porta sendo fechada suavemente trouxe a atenção dela de volta ao presente. Meu pai entrou na sala com um olhar tranquilo, mas atento. Ele ficou ali, observando as filhas por um momento, antes de chamar me com um gesto de cabeça.

  – Ceci, pode vir aqui um instante? — pediu, sua voz suave, mas com um peso que eu conhecia bem.

Eu assenti lentamente, dando um tapinha no joelho de Lara antes de me levantar. Ela me olhou com uma certa curiosidade, mas não questionou. Respirei fundo e segui o meu pai até o corredor, onde ele parou, cruzando os braços, como se estivesse tentando medir as palavras que diria.

  – O que foi, pai? — Perguntei tentando soar casual, mas sabendo que ele não havia chamado para uma conversa qualquer.

Zubeldía respirou fundo, passando a mão pelos cabelos curtos, e olhou diretamente nos olhos dela, com aquele olhar que sempre conseguia arrancar verdades de Cecília, mesmo quando ela não queria.

  –  Você não apareceu mais no CT ultimamente, não é? — começou, a voz carregada de preocupação. — Os garotos comentaram, Luciano até perguntou por você... Cecília, o que está acontecendo?

Eu senti o estômago revirar, uma mistura de culpa e desconforto ao saber que ele notou. Claro que notou. Zubeldía sempre notava. Eu desviei o olhar, mordendo o lábio inferior, enquanto tentava organizar os pensamentos.

  – Ah... É que as coisas na faculdade estão meio complicadas agora, sabe? — respondi, tentando soar convincente. — Tem um trabalho que tá me consumindo bastante tempo. Preciso de concentração.

Meu pai arqueou uma sobrancelha, cético, mas não a interrompeu. Ele apenas cruzou os braços mais firmemente e esperou, porque sabia que eu sempre acabava falando mais quando pressionada pelo silêncio. Respirei respirou fundo, buscando forças para continuar.

  – E... Além disso, tem esse cara da minha turma — Eu continuei, com cautela, e meus dedos nervosos começaram a brincar com a borda da blusa. — Ele é... complicado. Fico pensando muito nisso, sabe? Em como eu devo lidar com ele.

Os olhos de Zubeldía suavizaram. Ele sempre foi o tipo de pai que sabia quando algo era mais profundo do que parecia. Ele se aproximou, colocando uma mão suave no meu ombro.

  – Você quer falar sobre isso, filha? — perguntou ele, com a voz baixa e gentil.

Eu hesitei. Não queria expor Jonathan, não queria que o pai soubesse o quanto estava envolvida com ele e, ao mesmo tempo, confusa. Mas a culpa, o peso que sentia em carregar esse segredo, estava começando a sufocá-la.

  – Eu só... eu estou envolvida com alguém, pai. Mas, ao mesmo tempo, eu não sei se é a coisa certa. Eu quero... acho que quero, mas também tenho medo. Medo de me machucar de novo, medo de não conseguir confiar de verdade. — Eu baixei os olhos, sentindo as palavras escaparem como uma confissão que não podia mais segurar.

Zubeldía ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dela. Quando ele voltou a falar, sua voz era mais suave do que nunca.

  – Ceci, é normal ter medo. É normal ter inseguranças, principalmente se você já passou por coisas difíceis antes. Mas não pode deixar esse medo controlar o que você sente. — Ele fez uma pausa, olhando profundamente para ela. — E, pelo que estou vendo, você já está mais envolvida do que talvez queira admitir.

Senti os meus olhos lacrimejarem levemente, mas piscou rápido, tentando afastar as lágrimas.

  – Eu só... não sei se consigo, pai. E se não der certo? E se eu acabar machucada de novo?

Ele soltou um suspiro, dando um leve sorriso.

  – Não existe garantia no amor, filha. Nunca vai ter. Mas, pelo que me diz, parece que você está lutando mais contra você mesma do que contra ele. — Ele apertou suavemente o meu ombro. — Se você acha que vale a pena, se está realmente sentindo algo por esse rapaz, talvez seja hora de dar uma chance de verdade.

Eu fiquei em silêncio, deixando as palavras do pai ressoarem em sua mente. Parte dela sabia que ele estava certo, mas ainda assim, o medo era esmagador.

  – Você não precisa decidir tudo agora, Ceci. — Meu pai completou, percebendo a hesitação dela. — Mas se lembre, fugir não vai mudar nada. Se você se importa com ele, dê um passo de cada vez. Só não feche a porta antes de ver o que poderia ter sido.

Eu assenti, incapaz de formar uma resposta completa naquele momento. Meu pai me deu um beijo na testa, um gesto familiar e reconfortante, antes de sair, me deixando sozinha com seus pensamentos.

Eu fiquei parada no corredor, respirando fundo e tentando processar tudo. Sabia que, no fundo, meu pai tinha razão. Talvez fosse hora de parar de fugir tanto.

Volto para a sala, pegando o meu celular e mandando mensagem para o Jonathan, pedindo para encontrar ele. Espero que dê certo.


Agora vai, eu juro 😭😭 não odeiem a Cecília

Morena Tropicana | Jonathan CalleriOnde histórias criam vida. Descubra agora