Enquanto meus rabiscos ganham forma, percebo que estou desenhando o contorno de um rosto familiar. Lábios carnudos, bem definidos, olhos de um azul profundo que parecem sempre distantes, e cabelos negros que caem de maneira desordenada. Aos poucos, o esboço se transforma, e é inevitável reconhecer que estou desenhando ela. Uma onda de sentimentos conflitantes surge em meu peito. Será que estou me apaixonando por alguém com quem mal troquei algumas palavras?
Margot, claro, deve me odiar com todas as forças. Esse não é um sentimento novo para mim, já estou acostumado a ser o alvo de desprezo ou indiferença. No entanto, com Margot, talvez ela tenha motivos legítimos para isso. Há muito tempo desisti de muitas coisas na minha vida, desisti de lutar, de insistir, mas agora, essa garota — a dona dos olhos azuis e cabelos negros — tornou-se uma obsessão silenciosa, um objetivo constante em meus pensamentos.
A dúvida me consome: seria errado perturbá-la apenas para atrair sua atenção? E se, no fundo, isso fosse a única forma de expressar o que sinto? Será que incomodá-la seria, de algum modo distorcido, minha maneira de dizer "Eu te amo"?
— Como você é idiota, está desenhando a amiga do seu irmão? Pensei que queria destruí-la, não retratá-la como se fosse uma musa — observo o rosto no papel.
Sem hesitar, amasso o desenho e o lanço no lixo com indiferença.
— Já não está bêbado o suficiente, Henry? Não tinha dito que ia superar a morte da sua ex? — retruco, encarando-o com uma mistura de desprezo e impaciência.
Ele apenas dá de ombros e se senta em minha cama, o copo de cerveja quase vazio na mão.
— Já superei — responde com um tom desinteressado, mas seus olhos dizem o contrário.
Reviro os olhos e solto um riso irônico.
— Ah, claro, deu para perceber. — Minha voz carrega um toque de sarcasmo.
Henry estreita os olhos e me encara com uma raiva mal disfarçada.
— Você acha que é fácil esquecer alguém que você realmente amou? — A irritação dele é evidente agora, suas palavras saem entre dentes, mas o copo de cerveja permanece firme em sua mão trêmula. — O que você sabe sobre amor, afinal? Você nunca amou ninguém!
— Verdade — respondo, minha voz fria, quase indiferente. — Nunca amei ninguém, e talvez nem vou amar.
Henry suspira profundamente, seus ombros caindo como se estivesse à beira de um colapso. O olhar perdido, os olhos umedecidos, ele parece prestes a desabar em lágrimas a qualquer momento.
— Ficar vindo no meu apartamento e do Henrique não vai mudar nada! — continuo, incapaz de esconder o tom áspero na minha voz. — Vai, sei lá, arranja outra mulher... resolve isso de outro jeito.
Ele se levanta lentamente da cama, os movimentos pesados, como se estivesse cansado tanto física quanto emocionalmente. Seu olhar, agora carregado de uma exaustão silenciosa, encontra o meu por um momento antes de responder, a voz rouca de tristeza e cansaço:
— Um corpo se compra, mas um sentimento, Axel... isso não. Talvez um dia você entenda.
Sem esperar uma resposta, ele vira as costas e sai, fechando a porta atrás de si com um leve estalo. O silêncio que segue é sufocante. Fico parado ali, olhando para a porta fechada, sem saber como reagir. Não sei como consolar alguém, nunca soube.
E talvez, nunca vou aprender.
Sou insensível, grosso e estúpido. Eu sei disso. Não preciso que me digam, está claro como o dia. É fácil perder o controle quando você carrega tanto por dentro e não tem a mínima ideia de como deixar isso sair de forma decente. Sou enigmático, uma bagunça de sentimentos que nunca entendi. Não sei me expressar, não sei como lidar com o que sinto.
Às vezes, é mais fácil me esconder atrás dessa casca dura, me manter distante, do que tentar ser algo que não sou. O pior de tudo é que, em algum nível, sinto prazer em ver a dor dos outros, em perturbá-los, em testá-los até o limite. Ver a confusão, o desconforto no rosto das pessoas... é como se por um momento eu estivesse no controle, como se finalmente conseguisse dominar algo em um mundo onde não domino nada.
Mas no fundo, sei que isso não é certo. Sei que algo está quebrado dentro de mim, mesmo que eu não saiba como consertar. E talvez nem queira.
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Me 𝑨𝑷𝑨𝑰𝑿𝑶𝑵𝑬𝑰 Pelo Cara 𝑬𝑹𝑹𝑨𝑫𝑶
RomanceMargot sempre teve um amor secreto por seu melhor amigo, um sentimento que ela guardou desde a infância. No entanto, o medo de confessar seus sentimentos a impediu de falar, e seu coração foi partido quando ela o viu beijando sua rival. Esse momento...