natal passado

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Pela segunda vez naquela mesma noite eu acordei. Desta vez, escutando uma voz aguda cantar uma música natalina improvisada.

— Vaaamos lá, aaacordar, para ver as estrelas lá no céu, na noite mágica de Natal.

Será que a vizinhança perdeu o bom senso de civilidade? Pensei e bufei. E enfiei a minha cabeça debaixo do travesseiro.

— Olá, floco de neve da noite. Tudo bem com você, Ellen? — saudou uma voz doce e aveludada.

Quando levantei a máscara de dormir e abri olhos completamente, vi um espírito de uma adolecente (daria uns catorze anos) de pele branca translúcida, cabelos cor-de-rosa claro com franja que pareciam ser feitos de algodão doce presos em coque entrelaçado por uma fita de cetim brilhante azul-claro e uma coroa de cristal com cinco estrelas na ponta. Usava um tutu com o corselet listrado de rosa-claro e azul-claro com alça no estilo ombro a ombro de tule e, na cintura, um cinto de seda brilhante rosa-claro com faixas na vertical triangulares intercalados nas cores azul-claro e rosa-escuro, com as pontas feitas de pequenos sinos de metal dourado. Abaixo, uma estruturada saia de tule rosa brilhante com a barra feita de tecido de seda e, nos pés, calçava sapatilhas de ponta azul-claro em matelassê com pequenos cristais de quartzo rosa em forma de estrelas no meio vincos do matelassê. Ela dançava flutuando acariciando a cabeça de Safira nos braços.

Ao reparar que eu estava acordada, o espírito veio flutuando até mim, pousando Safira no chão.

— O-olá, tudo bem — cumprimentei gaguejando. — Q-q-quem é você? — interroguei, amedrontada.

O espírito fez uma pose confiante, flutuando bem em cima do meu banco rosa de matelassê, e respondeu:

— Sou Laila Navidad. Espírito do Natal passado — disse, e desfez sua pose confiante acrescentando: — Vim a pedido de sua tia Jaqueline. Pronta para rever o natal de sua infância? — Laila estendeu sua varinha, saltitando de júbilo.

Fiquei pensando por um momento se aquilo não passava de um sonho. Sacudi os ombros e deduzi que, mesmo que não fosse, mal não iria fazer. Então decidi aceitar.

— Sim. — respondi a Laila um pouco relutante.

Laila estendeu sua varinha outra vez, mas interrompi o ato no mesmo instante.

— E-e-eu posso ir assim? De pijama? — questionei, enquanto pegava Safira no chão.

— Claro que sim, sua boba. Não existe nada mais natalino do que passar a véspera do Natal de pijama — respondeu Laila, dando saltos extasiado no ar. — Ah, antes de irmos... — acrescentou com o olhar misteriosamente travesso.

Laila fez um malabarismo com a varinha e fez surgir em passe de mágica um gorro de Papai Noel listrado de verde-escuro e rosa-escuro com o meu nome gravado em fio prateado na barra de tecido pelucia alta na minha cabeça, e uma coleira listrada de rosa e vermelho com o pingente em forma bengala doce no pescoço de Safira.

— É sério isso?! — exclamei indignada, apontando para o gorro que surgiu na minha cabeça.

— Ora, só completei o seu visual. Afinal, seu pijama combina perfeitamente com o Natal. — Laila sacudiu os ombros e soltou uma risada travessa seguida de uma piscadela.

Revirei os olhos, sem acreditar que ela usou o meu pijama listrado de rosa e vermelho com as barras de tecido de pelúcia alta como desculpa para que eu entrasse no clima do Natal.

— Passado apressado, mostre o que mora ao lado — declamou Laila, eufórica, e um lampejo de luz rosa surgiu na ponta de sua varinha.

Hesitei, dando um passo para trás, e acariciei o queixo de Safira. O lampejo da varinha formou uma pequena bola de rosa que cintilava pulsante, semelhante a de um pó fino de purpurina, que evidencia ainda seu brilho em função de raios de luminosidade. Laila sorriu energeticamente, saltitando ao flutuar no ar de euforia, e usou a varinha, para que a bola luminosa, cintilante e rosada se aproximasse o suficiente dela, de Safira e de mim. Ela se desfez vagamente em feixes de luzes rosa-claro, nos envolvendo em uma espécie de efinese branda que nos transportou para um quarto com as paredes brancas, uma escrivaninha de madeira pintada de branco e uma cama de madeira marrom. Ao primeiro vislumbre, parecia o quarto que tive na infância. Só tive a real conclusão quando direcionei o meu olhar para a escultura de gato se espreguiçando sobre a prateleira de madeira (tá aí minha preferência por felinos, veio logo na infância).

Estilista no natalOnde histórias criam vida. Descubra agora