portais se abrem

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— Quarto! — gritei e levantei a máscara de dormir, esfregando as mãos nos olhos. — Que sonho louco que tive! — exclamei, bocejando. — Será que foi realmente um sonho? Parecia tão real... — questionei, apalpando instintivamente a cabeça, e senti a barra de pelúcia alta do gorro de Papai-Noel que ganhara de Laila. — Foi real mesmo! — gritei embasbacada, levantando da cama com as mãos nas bochechas. — Obrigada, universo, pela segunda chance! Prometo que não vou desperdiçar! — prometi, embora houvesse apenas Safira dormindo tranquilamente em sua cama.

Fui praticamente dançando abrir as janelas do meu quarto e parei para sentir os primeiros raios de sol penetrarem meu rosto, misturados com o clima gelado do bairro mais badalado de Paris. Mas,meu prestígio da paisagem vintage e movimentada durou até eu avistar uma menina andando de bicicleta em frente à casa de uma senhora de cabelos brancos que caminhava trivialmente até a caixa de ferro dos correios, evidentemente para depositar cartões natalinos (um deles tinha uma ilustração de um Papai Noel de regata e short debaixo de um guarda-sol na praia). Refleti sobre o que eu poderia fazer para abrir um daqueles portais...

— Ei,menina! — gritei, acenando com a mão para ela.

A menina freou bruscamente a bicicleta, esboçando um sorriso vívido nos lábios.

— Pois não, senhorita? — exclamou ela com o brilho de alegria nos olhos.

— Poderia ir até a padaria que fica no início da rua para comprar quatro cestas de biscoito de gengibre?

— Aquela cesta de biscoito que tem um laço do meu tamanho? — questionou a menina, impulsionando os pedais da bicicleta.

Dei uma piscadela e a menina saiu pedalando e tocando alegremente o sino da sua bicicleta. Aproveitei o tempo que ela levaria para comprar as cestas de biscoitos de gengibre e resolvi fazer as tarefas primordiais: tomar banho, trocar de roupa, tomar café da manhã (o que sobrou da pizza da noite anterior), escovar os dentes e colocar leite e água nos vasilhames de Safira. Quando a menina que eu tinha pedido para comprar as cestas de biscoito de gengibre para os colaboradores do estúdio tocou a campainha da minha casa, desci a escadaria penteando os meus cabelos.

— Já vai — gritei, girando a chave na fechadura da porta.

— Aqui está, senhorita! — exclamou a menina na bicicleta, estendendo a caixa grande de papelão com os cestos de biscoito de gengibre.

— Essa é minha garota — declamei, colocando a escova de cabelo dentro do bolso do meu robe verde estampado de panteras negras.

Peguei a caixa de papelão com as cestas de biscoito de gengibre dentro e encostei ao lado do aparador de mármore. Retirei de dentro do bolso do meu robe uma nota de cinquenta euros e entreguei à menina da bicicleta, que agradeceu me dando um abraço e saiu pedalando contente até a praça que ficava no final da rua. Fechei a porta e avistei o meu telefone repousado na mesa de centro vidro, mostrando no seu visor as horas.

— O desfile! — exclamei alto, me lembrando do e-mail que recebi na noite anterior, e

atirei o meu robe na arara de metal dourado na parede ao lado da porta.

Saí correndo para fazer os ajustes na coleção. Por sorte eu tinha uma equipe maravilhosa e eles adiantaram praticamente tudo, deixando todas as peças quase prontas. Só bastava eu realmente fazer alguns ajustes. Tomei nota mentalmente para dar uma remuneração pelo esforço que eles fizeram. Então tudo o que eu fiz foi aplicar as ideias que eles colocaram propositalmente na visão que eu tive com os Espíritos do Natal. Obviamente, eu dei o acabamento mais profissional nas manchas do suco de uva e do decote do vestido branco, que se transformou num lindo vestido estampado de lírio lilás com decote tomara que caia com cinto dourado de metal. O que me surpreendeu de fato, foi que o vestido combinou com o restante da coleção. Ao finalizar, coloquei toda a coleção de volta na capa de plástico, peguei o meu telefone sobre a mesa de centro de vidro e liguei para Natasha.

Estilista no natalOnde histórias criam vida. Descubra agora