Estilista no natal

enquanto a neve cai...

 A neve caía tranquilamente sobre o telhado de casa, coisa que raramente se vê em Paris. Me convinha que o universo quisesse nos presentear com aquele clima invernal dando mais ênfase para ambientação natalina que circulava pelo ar. Enquanto andava freneticamente em direção ao quarto de Tamara para me certificar de que ela estaria pronta para a festa beneficente que iríamos patrocinar em família, parei para conferir meu penteado no espelho, mas fui interrompi- da por Joe.

— Senhorita Ellen! Senhorita Ellen!

Me virei para ele.

— O que houve, Joe? Aconteceu alguma coisa? — perguntei com os olhos arregalados.

— Nada de mais, senhorita. Só gostaríamos de saber que guardanapo você gostaria de usar para a festa.

Joe estendeu dois pedaços de tecido.

— Vermelho ou branco?

Respirei aliviada e respondi sem pensar muito:

— Os dois. E na próxima vez você escolhe, ok? O senhor tem muito bom gosto.

Apesar da minha mudança drástica de vida, eu ainda queria transmitir confiança para colaboradores que trabalhavam no meu estúdio ou na minha casa. Eles consequentemente passaram a ser meus leais amigos.

Joe esboçou um enorme sorriso, transparecendo uma jovialidade consistente mesmo tendo cabelos brancos.

— Obrigado, quanta gentileza a sua — disse ele com um aceno com a cabeça.

Joe se direcionou para a escadaria de mármore, me deixando a sós novamente. Coloquei a mão na maçaneta quadriculada e prateada, dei três batidas na porta até ouvir a voz de Tamara ressoar no outro lado.

— Pode entrar!

Abrir a porta e me deparei com Tamara prontíssima vestindo um conjunto lilás de blusa com mangas de tule e calça de alfaiataria.

— Pronta para celebrar o Natal? — indaguei, estendendo os braços alegremente.

Ouvi o barulho incessante do salto das botas brancas de Tamara pontilhar a cabeceira da cama.

— Eu odeio o Natal! — gritou ela, soprando da frente da testa uma mecha dos cabelos cacheados.

— Como é que é? Por quê? — perguntei, arregalando os olhos.

Caminhei até o banco lilás matelassado na frente da cama de Tamara, receosa de

que ela estivesse deixando o Natal ser apenas uma data comercial.

— É tão...artificial. Pinheiros de plástico, pessoas postam fotos nas redes sociais em volta da lareira com um sorriso falso, meias penduradas nas lareiras...

Como eu pressenti.

— É estranho ouvir isso vindo de você. Afinal, conheci você no Natal. — balbuciei, pondo as mãos na beirada da cama.

Tara revirou os olhos, entediada, ao se endireitar na cama.

— Mas eu te entendo.Você acredita que a mamãe não gostava do natal?

— É sério? — Tamara elevou a voz, evidenciando seu sotaque francês.

— É sério. — repeti. — Se eu não tivesse mudado meu pensamento... eu teria perdido tudo, inclusive.... a vida — respondi, desviando o olhar para a enorme fotografia de uma plantação de lavanda atrás do aparador de Tamara.

— Me conta essa história?— Tamara pediu, puxando sua pelúcia em forma de concha do mar.

Observei a hora no meu relógio de pulso para garantir se tínhamos tempo suficiente antes dos convidados chegarem.

—Temos duas horas antes que todos os convidados cheguem. Então acho que posso te contar agora.

— Oba! — exclamou Tamara, batendo palmas.

— Tudo começou quando eu herdei o estúdio de moda da tia Jaqueline...