Prólogo

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No ano 277 da era da Aurora, o outrora majestoso reino de Asten jazia em ruínas, engolido pelas sombras de uma guerra implacável. O que começou como um sussurro inquietante nos confins do império, ignorado pela arrogância dos poderosos, agora rugia como uma besta faminta, devorando três quartos do território com suas mandíbulas de aço e fogo.

O rei, símbolo de autoridade incontestável, fora deposto, uma vítima das antigas e obsoletas leis que por séculos dormiam nas páginas empoeiradas da história. Em seu lugar, uma cúpula de militares — rostos endurecidos pela batalha e mãos calejadas pela guerra — assumiu o controle do que restava daquele império que já fora glorioso.

Nos confins do território que ainda resistia, os campos avançados se erguiam como últimos bastiões contra a maré negra que ameaçava engolir tudo. Essas fortificações, construídas com a urgência do desespero, eram palco de escaramuças diárias, onde os corajosos davam seu sangue para adiar o inevitável. As poucas cidades além dessas linhas de defesa oscilavam entre a existência e o abismo, protegidas apenas por uma tênue cortina de bravura e sacrifício. Era um equilíbrio frágil, sustentado pela coragem desesperada daqueles que, dia após dia, enfrentavam o horror com nada além da sua determinação e a esperança de que sua resistência fosse o último resquício de salvação para Asten.

Essas cidades, que um dia pulsaram com vida e prosperidade, agora são apenas sombras do que já foram. As ruas, antes vibrantes, estavam agora abarrotadas de refugiados, e o ar denso trazia consigo o odor amargo da decadência. O alimento, antes abundante, tornou-se um luxo inatingível para muitos. A fome esgueirava-se pelas vielas como um predador paciente, corroendo não apenas os corpos, mas também o espírito de uma nação.

Aqueles que possuíam os meios para tal já haviam partido, levando consigo o que restava de suas antigas vidas. Famílias inteiras lançaram-se à própria sorte, buscando abrigo nos reinos vizinhos, deixando para trás apenas casas vazias e memórias fugazes.

Alguns reinos próximos, movidos talvez mais pelo medo de que o destino de Asten se tornasse o seu próprio, do que por real compaixão, enviaram ajuda. Soldados com armaduras reluzentes que logo se manchariam com a lama e o sangue de uma terra agonizante.

Pois o inimigo que Asten enfrentava desafiava toda lógica e experiência prévia. Bestas que um dia foram consideradas pouco mais que animais agora marchavam com a precisão de exércitos treinados. Criaturas que antes lutavam com garras e presas agora brandiam armas forjadas e sitiavam cidades com a astúcia de estrategistas experientes. Foi uma mudança que ninguém previu, e que custou a Asten milhares de vidas. Muito mais do que seu já cambaleante reino poderia suportar.

E ainda assim, nas sombras dessa terra devastada, nos corações daqueles que ainda ousavam sonhar, algo começava a se mover. Um sussurro, tão suave quanto o primeiro sopro da primavera após um inverno brutal. Uma mudança estava no ar, imperceptível para muitos, mas sentida por aqueles que ainda se agarravam à esperança com as últimas forças.

O destino de Asten, há tanto tempo escrito nas estrelas como uma tragédia inescapável, parecia prestes a tomar um novo rumo. E enquanto a escuridão se adensava, pronta para dar seu golpe final, uma centelha de luz começava a brilhar, prometendo que talvez, apenas talvez, a alvorada ainda pudesse chegar para o reino caído.

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