Naquela mesma noite, com a mente abarrotada de pensamentos e a iminência de uma missão complexa atormentando-o, Kain se viu a vaguear pelo acampamento.
As fogueiras à distância brincavam com a brisa, espalhando um espetáculo de luz intermitente e sombras dançantes sobre o campo, transformando o panorama cotidiano em um caleidoscópio hipnotizante.
Nesse momento, ele avistou Unglar, o imponente meio-orc que conhecera no dia de sua chegada ao acampamento. A visão trouxe à tona uma lembrança clara daquele fatídico dia: Unglar segurando firmemente o escudo que carregava o corpo de Thorgal, com uma força que desafiava o próprio destino. Como um monólito resistindo à tempestade, o meio-orc se destacava, formidável e inabalável. Sua herança mista, para alguns, poderia ser alvo de desconfiança, mas para Kain, isso era pura bobagem, algo que não tinha relevância em seu julgamento.
Ele aproximou-se do meio-orc com determinação. Unglar prontamente reconheceu o general e endireitou-se em uma reverência respeitosa, embora um tanto desajeitada.
O estupor inicial do meio-orc, provocado pela abordagem direta de Kain, rapidamente se dissipou, dando lugar a um comportamento mais atento e diligente.
Kain, com a mesma gravidade com que havia recebido as ordens de Sourbonne, transmitiu-lhe suas instruções com clareza.
— Como é mesmo o seu nome, Bárbaro? — indagou o general.
— Desde pequeno sou conhecido como Unglar, senhor. — respondeu-o com um leve sorriso de satisfação no rosto largo. Era a primeira pessoa a perguntar seu nome desde que ele chegou nesse acampamento. — senhor... General.
— Unglar, tenho uma missão que exige sua presença. Daqui a dois dias, partiremos com a caravana em direção ao acampamento de Eleonoire. Quero que selecione alguns bons homens e esteja pronto para a jornada.
Entregou-lhe um pergaminho com instruções claras, que o nomeava como terceiro sargento e lhe conferia autoridade para selecionar e recrutar qualquer soldado que julgasse adequado, conforme seu próprio critério.
As palavras de Kain, juntamente com o voto de confiança, trouxeram um renovado vigor ao meio-orc. No ar fresco da noite, Unglar processou as informações com cuidado e, após um breve momento de reflexão, assentiu com firmeza, determinado a cumprir a missão.
Seus olhos verde-acinzentados brilhavam com determinação ao responder. — Como ordenar, General Kain. Tudo estará pronto.
Dessa forma, selado por uma promessa feita sob o céu estrelado, começou o prelúdio para a jornada que os aguardava.
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O Avatar de Gaia
FantasyNo ano 277 da era da Aurora, o outrora majestoso reino de Asten jazia em ruínas, engolido pelas sombras de uma guerra implacável. O que começou como um sussurro inquietante nos confins do império, ignorado pela arrogância dos poderosos, agora rugia...