Capítulo 5

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A noite caía sobre o acampamento militar, um véu de escuridão pontuado pelas estrelas que brilhavam indiferentes às tensões terrenas.

O sono provava ser uma miragem para Kain, o comandante interino que se encontrava encarando o vazio de dúvidas e temores, um oceano turvo que ameaçava engoli-lo. Embora os recursos, a segurança e os privilégios do seu cargo o acolhesse em seu conforto físico, praticamente renovado, seu espírito dançava em uma fogueira de preocupações.

Afastado do sono e imerso em seus pensamentos, Kain foi retirado de seu tumulto interno pela chegada inesperada de Palomides. A notícia que ele trazia era um mistério à espera de ser desvendado: uma audiência de emergência estava sendo solicitada. A ideia de tal encontro, no coração da noite, era desconcertante. Mas, quando soube da identidade dos visitantes, Kain esqueceu de tudo, a urgência suplantou o cansaço.

Isabella Devereaux, a embaixatriz de Asten em Leon, acompanhada por seu imponente guarda-costas, um homem de aparência dura com um tapa-olho e um bigode cinzento bem aparado, estavam à sua espera.

Tomado pela surpresa e o nervosismo, Kain pediu a Palomides que trouxesse pessoas para preparar a tenda para uma recepção à altura de tal dignitária. Mas Isabella, com um gesto elegante de sua mão, pediu que ele dispensasse as formalidades.

— General Kain — ela começou, sua voz suave contrastando com a tensão do ambiente. — Entendo sua preocupação, mas acredite, minha visita não requer tais cerimônias. Venho aqui não como uma representante da corte, mas como uma amiga, buscando acalmar seus temores.

Kain sentiu seu coração se acalmar à medida que as palavras de Isabella fluíam, revelando uma situação que era simultaneamente reconfortante e inesperada. A rainha de Leon não estava apenas informada sobre o tenso conflito, mas confiou a resolução da situação à própria embaixatriz, uma voz experiente e de peso nos corredores do poder.

— Sua Majestade já está ciente do encontro e das discussões de ontem. — começou Isabella, seus olhos brilhando com uma determinação feroz e consoladora. — Fui incumbida de trazer uma resolução pacífica para este impasse com o Conde e seus asseclas. Tenha certeza, general, você não está sozinho nessa empreitada."

Ela fez uma pausa, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as próximas palavras, antes de continuar. — A rainha está à espera de uma petição oficial, que estou elaborando em conjunto com outras autoridades do alto conselho, estamos montando uma estratégia adequada para lidar com a situação. Este é um assunto delicado, que requer habilidade diplomática, perspicácia política e um toque cuidadoso. Saiba que não esperamos que você carregue todo esse fardo sozinho.

Kain ouviu, cada palavra dita por Isabella ecoando em seu íntimo. A gravidade da situação era enorme, mas a perspectiva de não ter que enfrentá-la sozinho trouxe um conforto inestimável. A ajuda estava a caminho e, em breve, o dilema político seria tratado por mãos mais habilidosas e experientes. A sensação de alívio foi singular, como uma mão amiga estendida em um momento de necessidade.

Uma onda de alívio percorreu Kain enquanto Isabella fazia seus preparativos para partir. Sentindo-se em dívida com a embaixatriz.

— Embaixatriz Devereaux. — disse, a formalidade se misturando com a genuína preocupação em sua voz. — Permita-me fornecer alguns dos meus homens para acompanhá-la. Eles garantirão sua segurança.

A sugestão, no entanto, foi recebida com um sorriso caloroso e uma negativa com cabeça de Isabella. — Agradeço sua generosidade, general. — disse ela suavemente. — Posso sentir sua gratidão em cada palavra e em cada gesto. Contudo, devemos ser discretos. Esta visita precisa permanecer um segredo até que eu possa chegar ao conselho e à majestade para apresentar a devida petição.

Sua voz possuía uma resolução calma que impediu qualquer argumento adicional de Kain. Isabella voltou-se para seu guarda-costas.

— Edmund tem sido o escudo de minha família por gerações. Eu confio plenamente em sua habilidade para me proteger. Não há necessidade de qualquer alarme adicional, General Kain.

Kain assentiu, sua oferta foi gentilmente recusada, mas a segurança de Isabella aparentemente estava garantida. O respeito que sentia por ela, por sua determinação e coragem, só cresceu. Com uma última inclinação respeitosa de sua cabeça, ele permitiu que a embaixatriz Devereaux deixasse a tenda. Apenas quando ela desapareceu de vista, sua mente finalmente cedeu à tão almejada serenidade, abraçando a promessa de uma noite de sono profundo e reparador.

Ao deixar o acampamento, Isabella deixou para trás um Kain renovado. Sua presença, como um farol na escuridão, havia iluminado um caminho de esperança e possibilidade. Agora, ele poderia finalmente descansar, os sonhos de um futuro seguro e as regalias do cargo finalmente ao seu alcance.

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