Como um espectro incansável, a preocupação rondava o general Kain em um dia que, por outro lado, era tão comum quanto qualquer outro em meio à tensão da guerra. A tenda de comando estava meticulosamente preparada, cada detalhe alinhado para receber a tão esperada delegação. Palomides, fiel como sempre, havia lhe dado um relatório completo sobre a situação do campo de refugiados, um mar humano em constante fluxo que atravessava as terras de Leon diariamente. Eles se esforçaram para antecipar todos os possíveis tópicos de discussão que poderiam surgir no encontro, na esperança de estarem preparados para qualquer eventualidade.
Na hora exata, como havia sido anunciado, a delegação de Leon adentrou o acampamento. Uma carruagem ricamente ornamentada liderava o grupo, flanqueada por uma escolta de soldados da mesma região. Os homens ostentavam as armas da Astoria, com o emblemático leão impresso no peito das suas armaduras. Os trajes pretos por baixo das armaduras conferiam um contraste marcante, destacando ainda mais os emblemas e reforçando a imponência da comitiva.
— Ouçam todos, apresento-lhes o ilustre Audus Kurnovizek, leal servo e representante oficial de vossa excelência Sir Fife McDruffy, cavaleiro da Ordem do Leão Dourado e do Protetorado da Rainha, Terceiro Conde da Astoria. — O arauto fez uma pausa, assegurando que cada palavra encontrasse um lugar na mente daqueles presentes, aumentando o clímax e a solenidade da sua performance. Era uma figura esguia, ereta como um carvalho diante do vendaval, vestindo trajes de um vermelho e preto característicos. Na mão direita, um enorme papiro era desenrolado seguindo todos os protocolos necessários, a assinatura oficial do governador em cera vermelha. Seus olhos castanhos estavam fixos na carruagem que se aproximava, e ele parecia estar alheio a todos e à situação ao seu redor, um foco de calmaria na tempestade.
A carruagem parou, sua portinhola foi aberta por um soldado que ficou parado ao seu lado. O arauto, posicionando-se com deferência a uma distância apropriada da tenda de Kain, prosseguiu com sua apresentação. — Nobre em Linhagem, portador do Anel do Leão de Astoria, apresentamos Audus, cujos feitos e sabedoria ecoam nas câmaras do Grande Conselho, cuja prudência e diplomacia firmam-se como os pilares do nosso povo.
O general e seus homens, em formação precisa e atenta próximos à tenda, estavam prontos para a recepção. Contudo, a surpresa se fez presente na persona de Audus: um elfo negro de porte elegante e aura majestosa. Seus cabelos, alvos como a neve fresca, apresentam um contraste vívido contra a pele morena, enquanto seus trajes finos e postura altiva proclamavam, sem hesitação, sua posição de influência e autoridade.
Contudo, tal como o ocaso rende a noite ao firmamento, o semblante cerimonioso do momento foi bruscamente desfeito. Um murmúrio inquieto se insinuou entre os soldados de Asten, que aglomerados presenciavam a chegada da comitiva. Uma pedra, arremessada do meio daquela multidão, traçou um arco ameaçador na direção do ilustre visitante. Um dos guardas, com a agilidade de um predador, interveio, bloqueando a pedra antes que esta conseguisse atingir Audus. A atmosfera de reverência, laboriosamente construída por Kain, fragmentou-se naquele instante, incrementando o fardo do general já bastante pressionado.
O rosto de Audus se fechou, sua expressão se tornando um retrato de ofensa e cautela. Ele foi rapidamente cercado por seus guardas, que se moviam para protegê-lo de quaisquer novas ameaças.
Kain se voltou para Palomides, que já dava ordens para que o agressor fosse identificado e capturado. Apesar do caos momentâneo, sabia que eles precisavam retomar o controle da situação rapidamente. O prestígio de Asten e a trajetória das vindouras conversações estavam penduradas nesse fio de incertezas.
Sem um momento a perder, Kain acenou para que todos seguissem seu caminho, levando-os em direção à tenda. Imediatamente, a passagem se tornou um labirinto abstrato, uma passarela de diplomacia intrincada e uma elaborada dança de etiquetas. A urgência com que se moveram contrastava com o tranquilo balé de protocolos que se desenvolvia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Avatar de Gaia
FantasyNo ano 277 da era da Aurora, o outrora majestoso reino de Asten jazia em ruínas, engolido pelas sombras de uma guerra implacável. O que começou como um sussurro inquietante nos confins do império, ignorado pela arrogância dos poderosos, agora rugia...