Capítulo 8

10 2 3
                                    


O dia caminhava em passos preguiçosos, e a monotonia envolvia Kain como um cobertor pesado, mas reconfortante, trazendo um raro alívio ao caos habitual de sua vida. Porém, quando a rotina ameaçava engolir completamente o seu dia, dois eventos inesperados o arrancaram abruptamente desse torpor, trazendo consigo uma inquietação que ele não sentia há algum tempo.

O primeiro foi a volta inesperada de Sourbonne, que retornava de sua viagem à cidade de Biannor. Ele logo descobriu que o homem que estava diante dele não era apenas o comandante legítimo do acampamento, mas também um general de renome da Cúpula — o conselho supremo que guiava o que restava de seu país devastado pela guerra.

Sourbonne se destacava como uma ilustração perfeita de um general exemplar. Sua barba era meticulosamente aparada, contornando seu rosto sério, e os cabelos longos e lisos eram presos num coque impecável, transmitindo uma autoridade sofisticada. Sua postura era irrepreensível, altiva, com a serenidade e determinação esperadas de alguém com o seu status.

Quando Sourbonne avistou Kain, fez mais do que apenas um aceno cordial. Com um olhar determinado e um sorriso amigável, ele caminhou diretamente até o homem mais jovem, estendendo a mão num gesto distinto. Em vez do usual aperto de mão, Sourbonne agarrou o antebraço de Kain em um cumprimento firmemente caloroso, um gesto comumente reservado para companheiros de longa data ou irmãos de armas.

Era um tipo de saudação que transmitia um respeito profundo e uma camaradagem autêntica, que não era característico para um homem da posição de Sourbonne. A sua abordagem inesperada quebrou o protocolo formal e acrescentou uma intimidade instantânea ao encontro, apanhando Kain desprevenido. Mas a surpresa logo deu lugar a uma estranha satisfação. A reciprocidade do gesto criou um vínculo imediato e, embora de forma sutil, uma ponte de respeito mútuo foi estabelecida entre eles.

— General Kain, certo? — sua voz era calma. — Ouvi boas coisas a seu respeito. Como veio parar neste acampamento?
A abordagem direta de Sourbonne deixou Kain momentaneamente desarmado. As palavras do comandante, que se dirigia ao ponto sem rodeios, instigou nele uma hesitação inesperada.

O súbito silêncio se prolongou por alguns segundos até que ele encontrasse palavras adequadas para responder.

— A história de como cheguei aqui, Comandante, é longa e chata, — começou, sua voz suave refletindo a turbulência de memórias desagradáveis que começavam a emergir. — Meus caminhos foram torcidos por circunstâncias além do meu controle, e este acampamento, bem... — ele fez uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado, — ele me proporcionou um porto seguro em meio à tempestade.

O silêncio que se seguiu foi respeitoso, a confissão cuidadosamente evasiva de Kain indicava mais do que ele estava disposto a dizer em voz alta, e Sourbonne, com sua experiência, soube ler as entrelinhas.
O comandante fez uma breve pausa na conversa, seus dedos roçando na barba pensativamente enquanto digeria as palavras de Kain. Havia uma quietude sobre ele, a de um homem habituado a considerar cuidadosamente cada informação antes de formular a próxima pergunta.

Com um último aceno afirmativo, ele abordou o próximo tópico.

— Compreendo, Kain... — começou, com uma inclinação de voz que refletia sua compreensão. E então, assumiu um tom mais incisivo, os olhos de águia fixos em Kain, sem perder nenhum detalhe. — E sobre a audiência com Audus, o diplomata astoriano. Gostaria de saber como foi o desenrolar desse encontro.

A maneira como pronunciou "Audus" indicava um conhecimento anterior ou, pelo menos, uma familiaridade com o representante da Astoria.

Mais uma camada de complexidade foi adicionada ao personagem multifacetado que era o Comandante Sourbonne.

O Avatar de GaiaOnde histórias criam vida. Descubra agora