O Avatar de Gaia

Capítulo 10

A aurora despontava, traçando uma faixa de luz suave entre as fileiras de tendas. O pulsar ansioso do novo dia marcava a hora da partida. No limite do acampamento, lá estava Unglar, imponente como sempre. O meio-orc, com sua postura firme e o rosto impassível, parecia uma escultura esculpida em pedra viva, emanando força e determinação. Ao seu lado, a carroça que levaria Kain e seu seleto grupo esperava, pronta para dar início à jornada rumo ao acampamento de Eleonoire.

Aquela não era uma simples carroça. A parte traseira havia sido habilmente convertida em uma espécie de tenda móvel, oferecendo proteção contra os elementos e servindo como um espaço seguro para discussões estratégicas. No interior, bancos de madeira acolchoados estavam dispostos ao longo das laterais, proporcionando um conforto inesperado para o grupo cuidadosamente selecionado por Unglar.
Soldados de infantaria corpulentos e resolutos formavam a espinha dorsal do grupo. Dois arqueiros de olhares atentos e mãos firmes estavam entre eles, treinados para enxergar o que a maioria não conseguia. Em meio à rigidez do ambiente militar, destacou-se Thomas Lawrence, o mago. Seus longos cabelos negros emolduravam um rosto alongado, e seus olhos, serenos e profundos, carregavam o olhar de alguém que já havia testemunhado tanto a glória quanto a desolação, apesar de sua juventude aparente.

Thomas era uma figura singular entre os outros. Vestia trajes mais refinados que os de seus companheiros de armas, o que, somado ao seu semblante calmo e estudioso, o diferenciava no grupo. Ele parecia uma ponte entre dois mundos: a brutalidade do campo de batalha e a erudição dos estudos arcanos. Sua presença lembrava que a força nem sempre vinha do braço armado, mas também da sabedoria e do poder oculto da mente. À primeira vista, o grupo era formidável, mas era impossível ignorar a figura intrigante de Thomas, com suas vestes elegantes e sua expressão calculada, em contraste com os rostos endurecidos dos demais.

Entretanto, uma figura conhecida destacou-se ainda mais.

Lá estava Odäen, o meio-elfo monge. Sua estatura, embora não fosse imponente, escondia uma força latente. Seu corpo esguio era marcado por músculos firmes e bem definidos, resultado de anos de disciplina e prática incessante. Sentado em postura de meditação, ele parecia um vórtice de serenidade em meio ao caos. Ao avistá-lo livre e em tal estado de equilíbrio, uma faísca de surpresa cruzou o rosto de Kain.

O general avançou em direção ao grupo que o aguardava, seu olhar se tornando mais atento a cada passo. Ele avaliava meticulosamente cada semblante, cada postura e cada arma, como se estivesse medindo a prontidão e o espírito de cada soldado.

A expressão de surpresa inicial de Kain suavizou-se em um sorriso malicioso quando seus olhos encontraram os de Odäen. Em seguida, ele voltou-se para Unglar e disse:

— Por que será que não estou nem um pouco surpreso em encontrá-lo aqui? — comentou Kain, enquanto um sorriso discreto surgia em seu rosto, espelhado por um igual no de Unglar.

Cumprimentou cada um dos presentes, sua aprovação reforçando o caráter formidável do grupo. No entanto, mesmo com a confiança estampada nos rostos dos homens diante dele, um pensamento se infiltrava em sua mente, como uma semente de dúvida plantada em terreno fértil. "Estarei mesmo seguro?"

Enquanto essa questão o atormentava, a vida continuava ao redor. Comerciantes apressados, viajantes ansiosos e artesãos diligentes formavam uma sinfonia de movimento e ruído, cada um concentrado em suas respectivas tarefas.

O dia avançava, e a caravana finalmente iniciou sua marcha sob o sol já posicionado no zênite do céu.

A carroça destinada ao grupo, a segunda na fileira, estava a deslocar-se a passos lentos nesse início da viagem. Enquanto o general acabava de se acomodar em seu interior, lançou um último olhar ao acampamento de Sourbonne. As incontáveis tendas e fogueiras agora se misturavam na poeira da estrada que se desenrolava diante deles. Kain soltou um leve suspiro, enquanto se perguntava: Em que tipo de empreitada estou me metendo?