espelho quebrado

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me olho no espelho e odeio 
cada parte, cada átomo do meu corpo, 
um reflexo distorcido, 
eco de medo. 

não consigo escolher uma fração 
que me traga paz; 
tudo parece quebrado, 
um emaranhado de imperfeições. 

sinto que meu corpo é um labirinto, 
um problema que carrego, 
perdida entre expectativas 
que nunca se concretizarão. 

não lembro o tempo em 
que gostei do que via; 
apenas recordo do corpo 
e do ódio que aprendi a cultivar. 

não há espaços livres para as garotas, 
nenhum abrigo para florescer; 
nunca ensinaram a amá-lo, 
esse refúgio que deveria ser 
mas se tornou prisão. 

sigo perdida entre ecos 
de um amor não conhecido, 
na busca por aceitar 
o que me foi ensinado a rejeitar. 

projetava ser diferente, 
almejava prestígio e beleza, 
mas a vida se torna 
um eco de desejos insaciáveis. 

tudo se resolve porque somos pessoas; 
sem seres no mundo, 
de que valeria a vida? 

o que faria se fosse famosa, 
se ninguém fosse fã? 
a fama se tornaria eco, 
sem rostos a refletir seu brilho. 

e se eu tivesse dinheiro, 
mas não houvesse com quem partilhar? 
sem as pessoas, 
não haveria ninguém para conter 
o impulso de tomar o que se deseja. 
o dinheiro se reduz a mero papel, 
desprovido de significado, 
sem a presença humana 
que lhe confere valor e sentido. 

e se fosse bonita, 
mas sem olhos para apreciar? 
a beleza se tornaria solidão. 

desejaria mudar cada átomo do meu ser, 
odeio o reflexo que me observa; 
tudo é incerto, 
uma imagem que me escapa. 

não desprezo minhas origens, 
mas a jornada que me trouxe aqui, 
ansiosa por ser outra, 
almejando olhar-me com amor. 

eu só queria me aceitar, 
abraçar cada imperfeição, 
transformar a dor em aceitação, 
encontrar beleza 
no que sou, 
no que fui, 
no que ainda posso ser. 

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