O cheiro do confit de pato com lentilha ao vinho estava exalando por todo o canto do grande salão. Mesmo depois de conseguir degustar tudo aquilo. Jake me observava com cautela enquanto eu limpava os lábios no guardanapo.
— Acho que falamos pouco, a comida estava tão boa. — Digo.
— Falamos mais sobre os pratos, eu acho. Quando disse para você não fazer perguntas não achei que iria ficar tão quieta.
— Não sou muita coisa sem meus questionamentos.
O garçom serve mais uma taça de vinho tinto. Jake acena para a quantidade que ele queria. Naquele momento eu me sentia mais confortável depois de comer, me agradava. Porém algo ainda me incomodava.
— Eu não consigo Jake. — Começo a suspirar. — Eu não consigo não perguntar as coisas. Se quiser me mande embora para casa mas deixe eu interagir. Ou eu vou ficar calada o resto da noite.
O olhar dele é um tanto engraçado, Jake dá uma risada entre o guardanapo, depois de dar a última garrafada. Meu rosto permanece reto.
— Achei que poderíamos comer e falar sobre a vida. Sobre a sua.
— Provavelmente você já sabe mais até do que eu. — Meu tom de voz sai grosseiro, algo que eu não me importo. — Como fechou o restaurante?
Ele engole seco, e sinto que dessa vez ele parece querer falar algo. Suas mãos vão até às minhas, sinto muito bem o que Jake quer fazer e não irei me comover se ele hesitar.
— Conheço pessoas e... — Ele percebe que eu estou recuada mesmo com o contato físico. Ele balança a cabeça lentamente tentando achar o que mais dizer.
— E aqui é seguro. Imagino.
Poderia estar cansada de qualquer coisa, mas apenas de estar jantando com Jake ali fazia eu me sentir mais próxima dele de algum jeito, e sentia que ele estava me inserindo mais em sua vida. E se não estivesse eu jogaria tudo para o ar e voltaria minha vida normalmente.
Meu maior medo nunca foi a hipótese de Jake e eu nunca mais nos vermos. Mas sim tentar e não conseguir ou não tentar. Quando olhava pra ele eu sentia tantas coisas, o modo como ele segurava o garfo fazia eu perceber como ele era real. Fazia eu perceber que Jake comia, bebia e sentia vontades como eu. Eu pensava em perguntar para ele sobre Adelaide, e também sobre Hannah e sobre seu pai. Acho que é isso que se chama gostar de alguém, querer saber tudo e não sentir que sabe o suficiente.
— Está inquieta de novo, mas eu não vou perguntar. — Ele franze as sobrancelhas grossas em minha direção. — O seu batom está borrado.
Tento procurar em minha bolsa desesperadamente meu espelho.
— Acho que borrei sem querer. — Digo enquanto levo os dedos até a mancha do batom rosado.
— Não, não faça isso.
— O que? Você mesmo disse que estava manchado.
— Sim, mas achei que você estivesse se preparando. — Ele cruza os braços.
— Me preparando para que?
Jake não diz nada, apenas traça um sorriso travesso em seu rosto. E espera que eu entenda. O sorriso dele com os dentes à mostra era algo que eu quase não via, ele geralmente sorria sem mostrar, mas agora eu conseguia perceber que ele tinha caninos, o que não era novidade, pois eu já havia sentido.
Jogo minha cabeça para trás para rir um pouco dos pensamentos perversos dele.
— Acho um ultraje.
— Não gosto de nada que cubra você. — Ele pigarrou enquanto eu olho para ele com reprovação. — Me refiro ao batom.
— É bem irritante mesmo, batons cobrindo a boca. Principalmente porque quero saber o que o batom esconde.
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Nosso Depois - Duskwood
Romance"Todos esses pequenos momentos em que Você disse que eu era a sua garota Você me fez sentir Como se eu fosse o seu mundo inteiro Eu esperarei por você, meu bem Isso é tudo que eu faço, meu bem Não vem, meu bem Você nunca vem" E agora o que esperar d...