Cap. 4 - Um empecilho no caminho

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Os últimos minutos de Silvério

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Agora tarde da madrugada, a vila estava mergulhada em um silêncio opressor, tão denso que parecia que até o próprio ar carregava o peso do destino inevitável. O som seco das botas de couro batendo contra as pontes de madeira ecoava pelo abismo, acompanhando o ritmo de passos que levavam Silvério até o pedestal. As velas acesas por toda a praça central bruxuleavam, lançando sombras trêmulas nas faces dos moradores. Os rostos, normalmente indiferentes, agora estavam rígidos e tensos, como se cada um deles estivesse ciente do sacrifício iminente que pairava no ar.

Silvério, estava amarrado com os braços para trás e vendado no centro do pedestal. As grossas correntes de ferro envolviam seus punhos, tinha os olhos e a boca vendados. A vivacidade que normalmente exibia, aquele brilho contagiante de quem sempre via o lado bom das coisas, agora havia desaparecido. Seu corpo, geralmente cheio de força e vigor, estava imóvel, rendido à força opressiva do ritual que o aguardava.

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Um empecilho no caminho

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Correndo pelas pontes estreitas e íngremes da cidade, o vento frio do abismo cortava os rostos de Mateo e Abreu enquanto subiam em direção à área mais elevada, onde ficava a casa de Mateo.

O coração de Abreu martelava no peito, suas mãos suavam, e ele não conseguia tirar os olhos da parte baixa da cidade, onde, na praça, Silvério já estava amarrado no patamar central. Cercado por moradores e com velas tremulando ao redor de seu corpo imobilizado, o tempo estava se esgotando rapidamente. "Ainda dá tempo," pensava, mesmo que a ansiedade o consumisse a cada segundo que passava.

Abreu olhou então para a estátua embaixo, o rosto de madeira de Cristo escurecido pelo tempo, rachado e quase vivo sob a luz trêmula das velas. O plano que ele e Mateo haviam arquitetado ainda girava em sua mente — destruir a estátua e causar o caos necessário para interromper o sacrifício de Silvério. Mas, agora que estava ali, a caminho da execução do plano, a gravidade do que estava prestes a fazer o atingiu em cheio.

"Se eu fizer isso, estarei destruindo a única coisa que essas pessoas acreditam que as mantém seguras," pensou ele tremendo ligeiramente. "E se estiver errado? E se a estátua realmente tiver algum poder? O que acontecerá se eu destruir isso e as criaturas da floresta realmente invadirem a cidade?"

Por um breve momento, ele se lembrou das inúmeras vezes em que havia observado os outros moradores, ajoelhados diante da estátua, rezando com devoção. Eles acreditavam que ela era tudo o que os mantinha a salvo das trevas do abismo. Destruir aquilo significava mais do que quebrar um pedaço de madeira; significava quebrar a fé deles.

O pensamento o fez hesitar. Ele não queria ser o responsável por lançar todos em um caos ainda maior. Mas, ao mesmo tempo, pensou em Silvério, amarrado e prestes a ser sacrificado. Pensou na opressão, nas mentiras e na prisão invisível que os mantinham cativos ali, naquele abismo sem fim. Não era apenas a vida de Silvério que estava em jogo

— Precisamos ser rápidos. Ninguém da minha família deve estar em casa agora — murmurou Mateo, tirando Abreu de seus pensamentos e sem desviar o olhar do caminho à frente. — Tenho certeza de que ainda tenho explosivos no meu quarto. Meus pais os usaram uma vez para bloquear uma caverna infestada de criaturas...

— Por favor, Mateo, eu não tenho cabeça para histórias agora... — respondeu Abreu, sentindo o peso do desespero crescer à medida que o sacrifício de Silvério se aproximava.

Ao finalmente chegarem à casa de Mateo, Abreu parou por um instante para observá-la. Era uma construção imponente, grande e austera, com paredes de madeira escura e reforçada, destacando-se das outras casas pela sua rigidez militar. Bandeiras e brasões adornavam o exterior, lembrando a todos que aquela família dedicava sua vida à guarda do abismo.

Mateo entrou com cuidado, espreitando pelas janelas antes de abrir a porta. O silêncio era opressor, e Abreu o seguiu sem emitir um som. No interior, o clima militar era ainda mais evidente, com armas antigas, escudos e uniformes pendendo das paredes. Tudo parecia perfeitamente organizado, sem qualquer traço de desordem.

De repente, passos pesados ecoaram pelo corredor. Antes que pudesse reagir, Abreu foi empurrado por Mateo para dentro de um armário de madeira.

— Fica quieto! — sussurrou Mateo, fechando rapidamente a porta.

Na entrada, o irmão de Mateo apareceu. Dante, um nome tão rígido quanto sua presença. Alto e forte, com ombros largos e uma postura inflexível, ele vestia um uniforme militar completo, sua expressão dura como pedra. Cicatrizes marcavam seu rosto, e seus olhos eram frios como gelo.

— Onde você estava? — perguntou Dante, a voz grave e autoritária. — Lúcio esteve aqui mais cedo. Disse que você andou arrumando confusão por causa daquele catador de folhas.

— Ele se chama Abreu — rebateu Mateo, firme.

Escondido no armário, Abreu sentiu o estômago revirar ao ouvir seu nome. Pressionou-se contra a madeira, tentando controlar a respiração.

— Não é nada disso, Dante. — Mateo tentava soar casual, mas a tensão era palpável. — Lúcio exagera. Só questionei algumas ordens. Nada importante.

Dante deu um passo à frente, endurecendo ainda mais o rosto. — Lúcio não acha que é algo pequeno. Ele disse que você está com ideias estranhas, questionando o abismo. Sabe o que isso significa, não sabe?

— Sei. Mas Lúcio não manda em mim. Faço o que é certo, não o que ele acha que é.

Dante se aproximou, a voz baixa e ameaçadora. — Cuidado, Mateo. Não fomos feitos para questionar, apenas seguir ordens. Se continuar, não pense que vou te poupar por ser meu irmão.

Mateo engoliu em seco, o nervosismo evidente, mas manteve-se firme. — Eu entendi... Mas tem algo que preciso resolver antes.

Dante hesitou, ainda desconfiado. — Não. Você vem comigo. O ritual de sacrifício começa em 20 minutos, e a segurança do Cardeal Magnus é prioridade.

— Dante... você não acha isso extremo? — Mateo questionou, alarmado pela frieza do irmão.

Dante, impaciente, agarrou Mateo pela nuca, arrastando-o violentamente. No último momento, Mateo lançou um olhar discreto ao armário onde Abreu estava escondido, deixando clara a mensagem: ele estava por conta própria agora, e o tempo estava se esgotando.

Abreu, com o coração acelerado, esperou até que os passos de Dante se distanciassem. Então, deslizou para fora do armário, movendo-se em silêncio absoluto. Com passos rápidos, subiu as escadas em direção ao quarto de Mateo, onde os explosivos estavam guardados, sabendo que cada segundo poderia fazer a diferença entre salvar ou perder Silvério.

Capitulo 5 - programado para publicação automática amanhã as 19:00 da noite

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