WELCOME TO HELL - Parte I

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Boa leitura!

Assim que entraram no antigo Titty Twister Richard sorriu, mesmo estando destruído ainda evocava as memórias da primeira vez que entrou lá, atraído por Santanico. Ele se lembrou da banda tocando no pequeno palco, do barman que lembrava muito o Danny Trejo, o burburinho dos clientes, das dançarinas girando nas barras de ferro, das competições de faca. Richard amou o lugar assim que entrou enquanto Seth andava atrás dele repetindo suas desconfianças.
"Você gosta mesmo desse lugar, né?" Alec comentou vendo o sorriso infantil de quem acabou de entrar no melhor parque de diversões do mundo.
"Espera, o que você quer dizer com 'espremedor de carne gigante'?" Stiles correu para alcançá-lo. O jovem mal conseguiu terminar a pergunta e um alçapão se abriu de repente debaixo de seus pés, Eric segurou sua mão e o puxou antes que Stiles caísse em um enorme triturador que girava no subsolo.
"Peguei você!" Eric o segurou pela cintura.
"Hum, foi isso que eu queria dizer."
"Quem foi que projetou esse lugar? O Jigsaw?" Stiles sentiu um arrepio ao olhar para baixo.
"Vocês têm que ter cuidado onde pisam, como eu disse isso tudo aqui é uma armadilha."
"Será que tem alguma garrafa de whisky inteira?" Damon pulou sobre o balcão procurando a bebida. "Acho que eu gosto daqui."
"Como você pode gostar dessa espelunca?" Klaus enrugou o nariz para a sujeira, Richard jogou o braço ao redor dos ombros do híbrido.
"Ele está um pouco destruído agora, Carlos tentou explodir esse lugar, ele achou que poderia destruir um templo que existe antes mesmo que o primeiro espermatozoide da linhagem dele." Riu. "Mas você precisava ver quando estava funcionando, você iria adorar." Klaus duvidava muito. "Aliás, se sobrevivermos, eu vou colocar esse lugar de pé e vou te trazer aqui..." O híbrido fingiu que o sorriso que viu se abrir nos lábios do outro não o encantou. "Todos vocês. Quero que vejam esse lugar como eu vejo."
"Espera, quando tudo acabar você vai vir embora pro México?" Damon perguntou decepcionado.
"Não exatamente, mas eu posso passar um tempo aqui, afinal eu sou um Culebra, fronteiras não são nada pra nós."
"Achei..." Damon ergueu duas garrafas de whisky e jogou uma para Klaus, abrindo a outra.
"O que vocês precisam saber sobre esse lugar é que é um labirinto que vai te ludibriar, te levar a câmaras sem saída, te mostrar verdades dolorosas, revelar segredos, mentir pra você e talvez te mostrar o futuro. Vai tentar te atacar física e psicologicamente." Explicou. "Vai te destruir se você deixar."
"Pura diversão."
"Temos que ter cuidado onde pisamos e onde entramos. Espero que nenhum de vocês tenha claustrofobia." Richard os instruiu. "Cuidado com portas e saídas que não deveriam estar lá ou estar em outra direção, você pode acabar no Xibalba."
"Ah, seria mais vantajoso pegar o Abyss e jogar aqui..." Stiles zombou. "Aliás, alguém mais acha esse nome idiota?"
"Só vamos sair do bar com cuidado. Venham por aqui." Todos seguiram os passos sinuosos do Culebra como um grupo de gatos pisando no rastro um do outro, subiram no palco e entraram por uma porta lateral. "Pronto, aqui não tem alçapão."
Richard começou a tatear as paredes em busca de uma abertura, enquanto os outros começaram a explorar o cômodo amplo, era escuro e empoeirado, os poucos móveis não combinavam com padrões e eram de épocas diferentes, o espelho estava embaçado, na penteadeira vários objetos e maquiagens abandonadas, no canto havia uma banheira manchada até a borda com sangue seco e no centro uma cama desarrumada.
"Esse era o camarim das dançarinas?" Eric perguntou segurando uma peça de roupa com a ponta dos dedos.
"Era o quarto da Santanico."
"Está explicado o mau cheiro." Klaus murmurou enrugando o nariz.
"Sabia que foi aqui que eu fui transformado? Foi uma experiência horrível e incrível ao mesmo tempo. Os cinco olharam do Culebra para a cama. "Eu tinha levado um tiro do Pacificador..."
"Aquele idiota atirou em você?"
"É, mas eu tinha matado o parceiro dele, cara, doeu pra caralho e eu já tinha aceitado a morte, ela ficou insistindo, me seduzindo e eu aceitei o veneno dela." Contou. "Achei!" Puxou uma alavanca e uma porta de pedra se abriu.
"Por que ela insistiu? Não era só te morder e pronto?" Damon perguntou. "Se o cara que eu tô afim está morrendo eu não iria perguntar." Olhou para Alec e Stiles.
"Eu nunca entendi, Culebras não precisam de permissão, mas por alguma razão ela precisava que eu me entregasse de bom grado." Deu de ombros. Klaus, Damon e Eric olharam para o corredor, estreito e sujo, com nojo.
"Temos que entrar aí?"
"Não, vocês podem ficar aqui fazendo as unhas e trançando o cabelo um do outro." Stiles encarou os dois. "O que vocês acham?"
"Grosso!"
"Eric nem cabe aí." Damon apontou.
"Qual é o problema de vocês?"
"Germofóbicos!" Falaram juntos.
"Certo..." Alec revirou os olhos, ativou a runa de visão noturna entrando no corredor escuro atrás do Culebra. Stiles segurou sua jaqueta se deixando guiar. "O ar aqui é abafado e sujo." Falou cobrindo o nariz com a gola da camiseta.
"Você acha que tem bichos rastejantes por aqui? Ou ratos?" Stiles entortou a boca com asco.
"Estamos na porta do inferno e sua preocupação é se tem ratos?" Damon riu.
"E bichinhos rastejantes, não esqueça dos bichinhos rastejantes."
"Me desculpe, senhor grande vampiro mal, mas eu não gosto de ratos também." Alec defendeu o companheiro.
"Aiii..." Eric gemeu.
"O que foi?"
"Bati a cabeça."
"Achei..." Richard falou apertando alguns botões, luzes amareladas se acenderam em toda a extensão do túnel e era possível ver as partículas de poeira flutuando no ar. "Assim fica melhor."
"Graças a Deus um pouco de luz."
"Estamos chegando." Richard falou.
"Alguém mais está com medo de perguntar?" Klaus balançou a cabeça.
"Com certeza." Stiles concordou.
"É um depósito, vamos procurar lanternas, lamparinas, lampiões, qualquer coisa pra iluminar nosso caminho, alguns lugares não são iluminados. E armas." Explicou virando a esquina.
Não demorou muito para que encontrassem o depósito no final de um corredor estreito. O cômodo estava depredado como tudo naquele lugar. As prateleiras de madeira estavam abarrotadas de objetos de todos os tipos, antigos e atuais, de pistolas a mosquetões, de lamparinas abastecidas a querosene a bastões de LED, caixas com roupas, brinquedos e joias. Caixas de bebidas de todos os tipos.
"De onde vem essas coisas?"
"Mercadorias que os Culebras roubavam dos viajantes, caminhoneiros, os clientes em geral." Stiles e Alec o encararam. "Não esquenta, estavam mortos, não precisavam mais disso."
"E você fala isso como se não fosse nada? Quero dizer, as pessoas pararam aqui, inocentes e foram roubadas e mortas." Alec falou olhando um objeto antigo. "Até vasos."
"E você quer que eu fale chorando? Eu nem conhecia essas pessoas, além disso, eu garanto que ninguém que parava aqui ia pro céu." Richard deu de ombros. "E isso é uma ânfora. Esses caras fazem isso há séculos."
"Uau, isso é uma espada espanhola?" Klaus olhou os detalhes da arma. "Do período da Conquista."
"Sim, você pode ficar com ela se quiser... Ah, nesses túneis também tem Culebras centenários que preferem viver aqui como ratos, tenham cuidado, são selvagens."
"Ah, amor, o único selvagem que você deve ter cuidado aqui, sou eu." Klaus girou a espada na mão. Alec, Damon, Eric e Stiles reviraram os olhos ao mesmo tempo.
"Quando isso acabar por favor encontrem um quarto." Eric balançou a cabeça.
"Porque você precisa de um quarto?" Richard ajeitou os óculos e entregou lanternas, bastões de LED e até um sinalizador para os outros. "Acho que tem uma espada xibalbana aqui em algum lugar... Ah, aqui!" Pegou a peça e entregou para Stiles. Pegou um par de pistolas, verificou se estavam funcionando e colocou na cintura. "Vamos!"
Eles continuaram a andar pelos túneis abafados e sufocantes, passavam por câmaras pequenas e vazias. Apesar dos avisos sobre o quão irracionais e selvagens as criaturas que moravam lá, eram. Nenhuma fez menção de atacá-los, sempre que os viam rastejavam para seus esconderijos com medo. Eric se perguntou se suas ações eram porque sentiam que eles eram mais fortes ou porque seu Lorde estava os guiando. Eric parou na frente de uma câmara.
"Far? Mor?" Eric entrou na câmara se esquecendo dos avisos de Richard assim que viu o rosto apavorado de sua mãe.
Eric estava de volta a cabana de sua família, ele usava as mesmas roupas da época, a pele de lobo sob as vestes, aquecendo, os cabelos loiros caídos no ombro, desembainhou a espada e pulou na frente dos pais para impedir os lobos de matá-los. Sua espada cortava o ar transpassando as figuras ilusórias, as lágrimas de raiva escorriam pelas bochechas por falhar em sua missão. Uma risada alta e zombeteira foi ouvida.
"Pobre menino viking." Ouviu o homem dizer ao entrar na cabana, Eric reconheceu a voz.
"Você!" O ódio soou cortante na voz do vampiro quando o homem retirou o manto revelando sua identidade e a coroa de seu pai sobre a cabeça. "Russell!"
"O que acha?" Edgington apontou para a própria cabeça. "Fica muito melhor em mim, você não acha?"
"Seu maldito, essa ilusão não pode me parar, Russell Edgington está concretado, eu cuidei disso!" Eric falou.
"Sério? Por que você não testa?" Russell abriu os braços provocando.
"Seu maldito assassino!" Eric o atacou, mas Russell desviou e o atingiu com um soco.
"Você é tão fraco e tolo que é dá pena..." Russell o chutou. "Eu tenho mil e oitocentos anos a mais que você, principezinho, achou que um pouco de cimento me venceria?" Russell riu atingindo Eric com uma sequência de golpes não permitindo que ele contra atacasse. "Você tirou meu consorte, meu amado Talbot, eu vou tirar seus companheiros, sua progênie e só depois eu, talvez, te permita morrer." Eric urrou de dor quando Russell enfiou um punhal de prata no lado direito do peito.

Ninguém parecia ter notado o repentino desaparecimento de Eric até que Alec olhou para trás, o Nefilim parou olhando para todos os lados.
"Pessoal, cadê o..." Parou de falar ao ver algo dentro de uma abertura na parede de pedra. "Jace?" Alec se espremeu no espaço estreito, Jace usava algemas e parecia apavorado, assim que entrou a passagem desapareceu. Alec se viu em um grande salão cercado por Caçadores das Sombras, à sua frente estava a Espada da Alma, os Irmãos do Silêncio, sua família e amigos o olhavam com desprezo. As algemas que vira em Jace estavam agora prendendo suas mãos.
"Estamos aqui, em nome do Anjo Raziel, para o julgamento de Alexander Gideon Lightwood, o traidor!" A voz do Irmão do silêncio reverberou pelo salão.

"Cadê esses dois?" Damon olhou para trás e quando se voltou para falar com os outros, não havia mais ninguém.
"Damon..." Ouviu o gemido, olhou para baixo e viu Stefan caído com um buraco no peito.
"Stefan..." Se ajoelhou ao lado do irmão humano, colocou a mão sobre a ferida para estancar o sangue. "Aguenta firme, irmão..." Stefan começou a engasgar com o próprio sangue. "Vai ficar tudo bem..." Mordeu o pulso e colocou na boca do irmão. "Por favor, beba, por favor, Stefan..." Chorou percebendo que não estava adiantando. "ERIC... ALEC... NIK... por favor, por favor...RICHARD... STI... ME AJUDEM!!!" Gritou sem resposta.

"Gente..." Stiles segurou a manga da jaqueta de Klaus. "Eles sumiram."
"Droga, Richard." O Culebra se virou.
"O que aconteceu? Cadê os outros?" Os três ficaram em alerta. "Eles não desapareceram." Se viraram para o corredor ouvindo os gritos de Damon e sons de luta.
"Merda!" Correram para procurar os outros nas câmaras ao longo do corredor.
"Isso é uma cripta?" Klaus entrou em uma das câmaras, havia uma tumba de pedra no centro. Richard entrou para olhar.
"Acho que sim, mas..." Ouviram o grito da Stiles, Richard passou pela porta, porém Klaus já não tinha por onde voltar, a porta não existia mais.
"Finalmente eu te encontrei, bastardo!" O híbrido arregalou os olhos, seu coração acelerou, se virou devagar na esperança de ser apenas alucinação, mas lá estava o seu pior pesadelo, em carne e osso, segurando a estaca de Carvalho Branco.
"Mikael."

Stiles se viu sozinho no meio de um campo de batalha, ao longo de quilômetros de extensão de uma ilha, havia apenas árvores queimadas e corpos, centenas de corpos. Engoliu seco ao notar a estrela de xerife enterrada no chão, chamuscado e sangrento, próximo a ela estavam o jovem Alfa, Melissa, Lydia, Malia, Chris, Deaton, Peter, Liam, todo o bando estava morto.
"Pai..." Caiu de joelhos ao lado do cadáver.

Richard sentiu o calor do sol em sua pele, o sol vermelho do Xibalba. Ele não sabia se aquilo era, ou não, real. Ele conhece o Xibalba tão bem quanto seus habitantes, podia sentir a energia do Submundo, entretanto, o Culebra não se lembrava de ter estado naquela parte, montes de pedras de obsidiana empilhadas, como uma mina.
"Richard..." Ele olhou para o topo da pilha de pedras de onde veio a voz feminina. "Senti sua falta por aqui, mi Lorde."
"Eu te conheço?" Uma figura começou a se formar.
"Pessoalmente, não, mas eu tenho te observado há séculos." Ela começou a descer e Richard finalmente a viu. Uma mulher com o rosto escondido por uma máscara de caveira, suas costas ostentando gigantes asas de borboleta adornadas por lâminas de obsidiana, assim como as garras afiadas.
"Eu te reconheço, Itzpapalotl, a deusa da vida e da morte, da guerra e do sacrifício." Imediatamente se ajoelhou. "O que deseja, minha Senhora?"
"Você sabe como isso vai acabar, não sabe? Essa guerra? Sabe o preço que você e os outros terão que pagar, não sabe?" Ergueu o rosto do Culebra com a ponta das garras.
"Sim, minha Senhora."
"Eu tenho..." Os olhos negros encararam os olhos azuis. "Uma proposta para você, Richard Gecko, Lorde dos Culebras."

WARRIORSOnde histórias criam vida. Descubra agora