Estávamos sentadas no balcão da sorveteria tomando nossos sorvetes, era prazeroso olhar Sana se deliciar com seu sorvete de algodão doce, como se fosse uma criança. Analisei as expressões que ela fazia quando a colher chegava até sua boca e o gosto doce atingia seu paladar, seus olhos se fechavam e uma expressão de prazer se formava em seu rosto, um pequeno sorriso de canto enfeitava sua linda "performance" em saborear mais uma vez o conteúdo de seu copo.
Talvez eu tenha a analisado por tempo demais quando percebi que agora eu olhava seu pescoço e como o sorvete descia por sua garganta, ou talvez meu olhar tenha caído de mais quando notei que agora reparava em seu colo e na sua clavícula definida e em como aqueles lugares pareciam atraentes.
— Seu sorvete está derretendo — Sou tirada de meus pensamentos pela balconista que sorria para mim como se soubesse o que eu estava fazendo. Minhas bochechas começaram a esquentar e com certeza eu já estava mais vermelha que o sorvete de frutas vermelhas daquela vitrine.
— O que foi Tzuyu, não está mais com fome? — Sana perguntou me olhando curiosa, e sim, eu não estava mais com fome, não conseguia comer tamanha vergonha que eu estava.
— Na... Não, eu vou co...comer — Gaguejei como se tivesse acabado de ser pega cometendo um crime. Eu era uma decepção total. Voltei minha atenção para o sorvete que estava quase derretido em minha frente tentando miseravelmente não voltar a encarar Sana.
[...]
— Obrigada pelo sorvete Sana — Agradeci a japonesa — E obrigada por ter me acompanhado até em casa também — Sorri para ela novamente.
— Nada Chou — Ela me puxou para seus braços me dando um rápido abraço, ação essa que foi suficiente para que todos os meus instintos entrassem em alerta — Até segunda-feira na escola — Falou enquanto dava as costas e voltava a caminhar pelas ruas do meu bairro.
Entrei em casa e corri até o meu quarto, desejando somente uma boa noite quando esbarrei com minha mãe na escada, passando por ela feito um furacão.
Me joguei em minha cama com as mãos na cabeça, tentando entender o por que aqueles sentimentos e sensações me atingiam sempre que estava com Sana. Por que eu sentia vontade de estar perto, de querer tocar, de sentir, de escutar sua voz, de querer desvendar o mistério que ela era.
— Não. Só não Chou Tzuyu — Me repreendi enquanto me virava de bruços e sufocava meu rosto no edredom. Permaneci naquela posição até sentir falta de ar, como se estivesse sufocando meus pensamentos ou como se aquilo de alguma forma fosse me ajudar.
— Quer se matar? — Ning entra em meu quarto sem bater na porta. Como sempre. Reviro os olhos com força com a presença da mais nova que dá um sorrisinho e se senta na minha cadeira — Não se mata hoje não, adia o suicidio para depois das férias em jeju porque eu quero saber TUDO! — Eu a encaro ainda deitada, não acreditando nas palavras que saíram de sua boca.
— Você não é nem um pouco fofoqueira né? — Ela agora brincava com a cadeira girando de um lado pro outro, me deixando tonta — As férias são daqui a um mês, então isso significa que vou ter que esperar um mês pra morrer? — Bufo.
— Deixa eu pensar... — Ela bota o dedo indicador no queixo e finge pensar — Claro que sim né! Imagina não aproveitar as duas semanas de férias sendo pagas pela escola e com tudo liberado. O que você vai fazer depois fica pra depois — Ela fala voltando a girar a cadeira — Uma pena o primeiro ano não poder ir, se não eu te obrigaria a me levar.
— Coitada — Me sento no colchão — Ning você pode me dar licença? Quero dormir um pouco se é que eu tenho o direto de fazer isso — Ela revira os olhos enquanto caminha para fora do meu quarto — Ei — Chamo sua atenção novamente — Você veio sozinha pra casa?
— Não, Giselle e Karina me acompanharam, e inclusive tá rolando um boato na escola que você e a Minatozaki estão se pegando. Isso é verdade? — Não consegui responder sentindo meu rosto esquentar e minhas bochechas corarem — Acho que não precisa nem responder né — Ela sai do quarto e eu me praguejo novamente por não ter negado. Eu sou tão burra. Já não basta agora metade do L'aigle achar que eu e Sana estamos nos pegando, como também minha irmã.
Me jogo na cama novamente cobrindo todo meu corpo com o edredom.
[...]
Pegar no sono foi um tanto complicado. Tão complicado que eu não o fiz, não consegui fazer. Passei a noite repassando tudo em minha cabeça, todos os pontos até chegarem aqui.
Eu nunca fui uma pessoa aberta a sentimentos, e não me lembro se um dia já gostei de algum menino na escola, algum que eu não tivesse me obrigado a gostar.
Me lembro de estar no ensino fundamental e escutar as garotas conversando animadamente sobre seus "crushs", e de alguma forma eu me sentia ainda mais excluída. Todos os meninos pareciam desinteressantes para mim, não havia sequer um que despertasse o mínimo de interesse. Até Kim Taehyung entrar na escola. As meninas eram apaixonadas por ele, faziam cartinhas, compravam chocolates e faziam todas as suas vontades, então coloquei na minha cabeça que eu também gostava de Kim Taehyung.
Tudo que elas faziam eu também fazia, mas a única diferença era que eu não gostava dele, não como elas. Ele era legal e até foi gentil comigo algumas vezes, e talvez ele em toda a minha vida colegial tenha sido o único aluno a realmente me notar.
Mas aí eu me lembro da minha primeira paixão platônica, minha professora de ciências.
Foi no 7º ano quando a vi pela primeira vez, a professora Shin Mina. Ela era alta, 1,70 de altura, cabelos castanhos longos e um sorriso incrível. Ela era tão doce e gentil comigo que isso me confortava. Nós ficamos muito próximas, ela foi minha primeira amiga, eu sentia uma paz incrível quando estava em sua presença, seus abraços eram muito reconfortantes e acolhedores, talvez quem olhasse de fora acharia estranho o quão próximas nós éramos, mas isso não nos importava.
Eu sabia de cor e salteado todos os horários de suas aulas para conseguir esbarrar com ela nos corredores e jogarmos papo fora, ou somente para vê-la, nem que fosse por alguns segundos.
Eu só descobri que o que sentia por ela não era normal depois de alguns anos. Mas tratei de apagar isso da minha mente e colocar lá que eu só a considerava minha melhor amiga e toda atração que eu senti por ela era porque estava confusa com toda aquela demonstração de afeto.
— Eu sou lésbica? — Esse questionamento rodou pela minha cabeça a madrugada inteira — Eu sou lésbica! — Falei dessa vez com mais convicção — Não, não pode ser — Rio desse pensamento, começando a me desesperar — Eu não posso ser lésbica, eu nunca beijei uma menina... e nem um menino — Falo ficando cada vez mais desesperada, ao ponto de me levantar e começar a dar voltas pelo quarto com as mãos na cabeça.
[...]
Os primeiros raios de sol entraram pela janela do meu quarto e pairaram em mim, que estava sentada no canto com a cabeça entre as pernas, balançando para frente e para trás cantarolando baixinho para que aqueles pensamentos deixassem minha cabeça.
06:00 da manhã.
Eu decidi dar uma corrida matinal para tentar espairecer e tirar aquela ideia louca da minha cabeça. Lésbica? Como pode eu ser lésbica, isso era loucura. Eu só estava confusa, afinal, não era normal uma adolescente no auge dos seus 17 anos nunca sequer ter tido uma experiência sexual, ou sequer ter beijado.
Era isso, eu precisava beijar um garoto para ter certeza que eu estava delirando. Mas só o pensamento de algum homem me tocar, me apertar, me beijar fazia meu estômago embrulhar.
Corri como se minha vida dependesse disso. Sentia meus pulmões e minhas pernas queimarem, mas isso só me dava mais vontade de correr, correr até esquecer tudo.
![](https://img.wattpad.com/cover/377345519-288-k54035.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
GOOD LUCK, BABE - Satzu
FanfictionO que é o termino de um relacionamento se não um estágio do luto? Após um termino difícil, Tzuyu encara de frente os estágios do luto: Negação, Raiva, Barganha e até o então momento a Depressão. À Taiwanesa revive incansavelmente memórias do passa...