11 - Mãmã.

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Cheguei por volta das 07:30 em casa, minha mãe já estava acordada pondo a mesa de café e me olhou confusa quando adentrei pela porta esbaforida.

— Filha? Acordada essa hora em um sábado? — Perguntou enquanto analisava minhas roupas de ginástica.

— Si...sim, resolvi dar um..uma corri...da — Falo pondo as mãos nos joelhos enquanto tento puxar o oxigênio para dentro de meus pulmões, sentindo meu corpo desfalecer lentamente. Era rotineiro eu correr, sempre fora um exercício que me fazia esquecer meus pensamentos, e me ajudar a controlar a ansiedade, foi um hábito que criei há alguns anos atrás e mantinha até hoje. Eu só não corria aos sábados e domingos pois tirava para descansar.

— Nossa, mas você pegou pesado hoje Zu — Fala caminhando em minha direção com seu olhar preocupado, segurando meu corpo, o levando para o sofá onde me colocou sentada — Espera aqui que eu vou trazer um pouco de água — Assenti sem conseguir falar nenhuma palavra, meu peito ainda subia e descia rapidamente e eu sentia todo meu corpo queimar — Toma — Me estendeu um copo com água — Você nunca chegou em casa assim depois de uma corrida, o que houve? — Bebo a água em um gole e tento regular minha respiração, inspirando e expirando devagar.

— Nada Mãmã — Minto — Eu só quis fazer um percurso maior e acabei indo longe demais — Falo enquanto fujo do seu olhar, desviando minha atenção para o copo agora vazio em minhas mãos. Era difícil encarar minha mãe nos olhos enquanto eu me questionava. Não queria ser uma decepção para ela.

— Não faça mais isso Zu, não se cobre tanto e não vá além do seu limite — Coloca suas mãos sobre as minhas fazendo um carinho. Eu tentava controlar a vontade enorme de chorar perante aquela pequena demonstração de afeto, mas suas palavras me atingiram como adagas. Não se cobre tanto, não vá além do seu limite. Deixei algumas lágrimas caírem acidentalmente e agradeci por minha mãe já não estar mais ali para presenciar essa cena, tratei de limpá-las antes que ela voltasse e percebesse.

Subi para o banheiro, entrando dentro do box e ligando o chuveiro, deixei-me levar pela água gelada que escorria, deixando meu corpo em alerta, fazendo com que a sensação gostosa e gelada me despertasse, relaxando meus músculos e me trazendo uma sensação de tranquilidade em meio ao turbilhão de coisas que se passava dentro de mim.

Fiquei muito tempo embaixo da água na esperança que ela levasse tudo que eu estava sentindo, na esperança dela me lavar por dentro, de dissipar tudo que estava me assombrando. Lésbica. Lésbica. Lésbica.

[...]

Desci novamente agora vestindo um blusão e short jeans, me sentando à mesa junto com minha mãe que passava o café.

— Está melhor Zu? — Assinto — Certeza... — Balanço a cabeça novamente enfiando um pedaço de torta na boca, minha mãe me conhecia muito bem, qualquer deslize e eu estaria em uma enrascada.

— Ningie já acordou? —Falo mudando de assunto rapidamente fazendo a Mamãe me olhar desconfiada mas balançar a cabeça negando.

— NingNing não acorda cedo aos sabad...— Escutamos um pigarro vindo do corredor e olhamos juntas, vendo Ning descer as escadas com as olheiras mais fundas que uma fossa — Bom dia... — Mamãe fala mas Ning não a responde, sentando na mesa como um zumbi — Tá tudo bem filha? Não conseguiu dormir à noite? — A mais nova balança a cabeça assentindo.

— Não consegui Mamãe... — Mamãe a olha em reprovação por não ter falado em nosso idioma nativo. Nós tínhamos o costume de sempre falarmos em mandarim quando estivessemos em casa, para preservar nossa língua — Desculpa Mãmã — Falou apoiando a cabeça nas mãos e soltando uma lufada de ar — Yoda ficou a madrugada toda caminhando de um lado para o outro no seu quarto como uma maluca fazendo eu perder o sono com suas passadas — Eu engasgo com o café que estava bebendo, agora recebendo os olhares confusos de minha mãe e irmã. O dia não podia ficar melhor.

GOOD LUCK, BABE - SatzuOnde histórias criam vida. Descubra agora