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Acordei às oito da manhã, não havia ninguem em casa exeto eu e Hans, que estava começando a se apegar comigo, o que o fazia me seguir por todos os comodos onde eu ia.
Preparei cereais com frutas como eu costumava fazer, sentei no sofá e liguei para mamãe, ela atendeu no terceiro toque.
- filha! - ela disse alegremente.
- só liguei pra saber como vão as coisas, ja que você não me liga e tal...
- Desculpe meu anjo, é que estou trabalhando demais esses dias e acabo não tendo tempo pra...
- pra mim. - falei interrompendo-a - é por isso que me mandou pra cá não é? Pra poder trabalhar em paz, sem eu te enchendo ou te rodeando.
- Tudo o que fiz foi pra proteger você! - mamãe disse forçando a voz, se bem a conheço ela estava prestes a chorar.
- Me proteger? É isso que chama de proteção??- Sem dizer mais nada desliguei a chamada e coloquei o celular no silêncioso.
Mamãe ligou varias vezes depois, e ignorei cada chamada dela. Apenas fiquei ali comendo lentamente o cereal e acariciando Hans que ronrronava deitado em meu colo.
Eu ainda estava no sofá quando Daniel surgiu ao meu lado e se sentou junto a mim. Não me surpreendi, e continuei a acariciar o siamês que agora dormia.
- Aqui não é tão ruim Analu... - ele disse enquanto analisava Hans.
- Esqueceu que aqui tem porta? E que precisa de permissão para entrar?- perguntei calmamente.
- A janela do seu quarto é bem mais convidativa.
Suspirei e coloquei Hans no sofá, me levantei e fui para o meu quarto, deixando Daniel sozinho na sala.
Segundos depois ele surgiu na porta do quarto com Hans no seu colo, e por um momento me imaginei no lugar dele, aconchegada no colo de Daniel.
- Não é educado deixar visitas sozinhas... - ele disse sorrindo.
- visitas geralmente não são indesejadas! - falei sarcasticamente, ele arqueou as sobrancelhas e se sentou ao meu lado na cama.
- Analu. - disse ele, agora ficando sério - Eu... sinto muito por tudo está bem?- seus olhos se encheram de uma estranha melancolia.
- ta tudo bem... afinal, meu pais teriam sofrido muito pela perda da filha, e eu nunca teria vivido com eles se não fosse por você... Obrigado! - passei a mão em suas costas para lhe mostrar que estava tudo bem, ele estremesseu e soltou um gemido de dor - Daniel, o que foi?
- Nada ... eu só! - ele fitou o chão por um momento.
- Desculpe, mas... com licença - levantei sua blusa e em suas costas estavam dois cortes, cortes que iam de um pouco acima do meio das costas até um pouco abaixo... deviam ter uns trinta centimetros cada um, e estavam vermelhos como se estivessem sido feitos a pouco tempo - Daniel, o que é isso?
- nada! - ele disse abaixando a blusa rapidamente - não gosto que fiquem bisbilhotando minha vida...
- não perguntei nada! - falei firmemente - tire a blusa, vou pegar umas coisas para limpar isso ai...
- eu não preci...
- tire a blusa agora! - ordenei interrompendo-o, e então sai do quarto para buscar a caixa de remédios de Megan que ficava no armario da cozinha.
Quando voltei, ele estava com os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça apoiada nas mãos, e sem camisa... me aproximei lentamente, seria dificil me concentrar nos ferimentos daquele jeito, Daniel tinha a aparencia de quem vivia malhando.
Respirei fundo e me sentei ao lado dele, com uma gase e um remédio comecei a limpar os ferimentos delicadamente.
- só pra você saber, eu não preciso disso... isso vai cicatrizar daqui à algumas horas.
- Daniel... - falei - pode me dizer o que aconteceu?
- não está obvio pra você? - ele perguntou secamente, eu ainda limpava os ferimentos e algumas vezes ele gemia de dor.
- pare de se mexer! - falei irritada - não está nada obvio, pode me contar?
- Eu cai Analu... eu sou oficialmente um caido! - sua respiração ficou mais forte.
- por que? - perguntei um pouco nervosa e surpreendida.
- não importa agora... - ele suspirou - ja terminou?
Guardei os medicamentos e joguei a gase fora, eu teria de costurar mas honestamente? Eu não sei se seria capaz, entào deixei apenas limpo.
- Eu sinto muito Daniel. - falei e passei a mão em seus ombros, me levantei e comecei a massagea-los lentamente, ele pareceu relaxar.
Um silencio constrangedor tomou conta do quarto.
- posso te perguntar uma coisa? - ele disse e se levantou, agora segurando minhas mãos que antes massageavam seus ombros largos.
- claro! - falei meio sem graça.
- eu... posso beijar você outra vez? - seus olhos negros fixados nos meus brilharam e eu senti um nervosismo fofo em sua voz.
Fiz que sim com a cabeça e ele avançou até mais perto e me beijou, suas mãos se arrastaram em minhas pernas e costas, e eu sentia cada parte do seu corpo, passei minhas mãos por seus cabelos macios e lisos evitando as costas por conta de seus cortes. Cambaleamos para traz por conta da intensidade em que estavamos nos beijando, me deixando agora encostada na parede e ele à minha frente, sua mão subiu até meu rosto e depois parou em meu pescoço, senti o coração dele acelerar, ele apertou levemente a mão que se encontrava em meu pescoço e logo em seguida a levou para meu cabelo, como sempre fazia.
Nos olhamos por um momento, ele sorriu orgulhoso e me puxou, para mais perto, deu alguns passos para traz e me jogou na cama, dei uma leve gargalhada, e ele se juntou a mim, ficando agora ao meu lado. Ele entrelaçou nossas mãos e fitou o teto branco do meu quarto.
- Analu! - ele disse sorrindo - Elaine não chega nem aos seus pés...

Entre luz e TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora