"54"

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Faltava apenas um dia para a lua de sangue, algo dentro de mim desmoronava sempre que eu pensava nisso, eu não sabia o por que, sabia apenas que era assim. Fitei o espelho á minha frente, o cabelo com bastante creme realçava o meu rosto, deixando-me com olhos enormes. ( mas eu gostava disso, na verdade, quando era criança, sempre que ia me desenhar, deixava de fora o nariz e a boca, colocava apenas olhos enormes, e desde então essa é a minha marca registrada.)

Hoje era o dia em que eu assistiria Daniel se tornando o que sempre sonhou, e eu estava feliz por ele, embora eu ache que ele não precise disso para ser bom, já que para mim ele é perfeito exatamente como é. Coloquei meu vestido verde de flores e sapatilhas, queria estar bonita, não para a ocasião, e sim para Daniel, sempre para Daniel.

Fui de carona com Megan, durante o caminho ela me explicou como funcionaria, e explicou que Daniel podia não se tornar um anjo, que tinha o risco de não haver o perdão desejado.

- Então talvez ele não se torne um anjo? - perguntei já preocupada.

- vai depender... ele entende as regras, se está entrando nessa é por que está preparado.

- acha que ele consegue?

- acho que Daniel sabe o que está fazendo... - ela disse e logo em seguida mudou de assunto.

Mas ela estava certa, Daniel sabia o que estava fazendo, eu não tinha com que me preocupar.

Fomos até Brighton Pier, afinal seria ali? de qualquer forma acho que não é necessário descrever. Vários brinquedos de parque por todos os lados, barracas de jogos e de comidas, as variadas musicas que ecoavam ao fundo, e o barulho das ondas em baixo de nossos pés.

Megan me puxava pela mão como uma mãe faz com uma criança, e eu estava maravilhada, o tempo todo que estive em Brighton nunca tinha por lá estado, e era lindo. Depois de um tempo avistei Daniel e John, eles estavam conversando e pareciam sérios, Megan me puxou para o lado oposto.

- Eles estão ali... - falei.

- Temos que ir à outro lugar, os deixe conversando. - ela disse secamente.

- onde?

- Vamos encontrar os outros.

Nos encontramos com Mary e Mariana, as duas encaravam algo em uma barraca de jogos, e pareciam estar se divertindo, pois no rosto de ambas as duas havia um sorriso enorme. Logo em seguida Felipe apareceu com Dominic, ambos riam de alguma coisa também... Os olhos de Mariana e de Dominic pareceram brilhar quando se encontraram, e pude automaticamente entender o que estava acontecendo ali.

- quando vai começar? - Felipe perguntou calmamente.

- assim que Nate quiser... - respondeu Mary.

E então um silêncio pairou sobre nós por um tempo.

- Analu... - meu nome soando inédito na voz de Mary - Podemos conversar um pouco?

fiz que sim, e começamos a caminhar pelo parque lentamente. Já havíamos nos afastado de todos quando ela abriu a boca para falar.

- Nate está cometendo um erro... - ela disse fitando o mar - pretendo não permitir isso.

- O que quer dizer?

- Ele não vai se tornar um anjo assim do nada, ele terá que querer alguma coisa, e todos sabemos que o que ele quer é isso, mas eu pretendo faze-lo mudar de ideia...

- Por que? - perguntei - é o que ele quer, e é algo bom...

- Ele vai mudar de ideia. - ela se virou para e mim e me encarou - Já viu como ele te olha?

sorri.

- Acho que da mesma maneira que olha todo mundo... não é?

- Não, ele te olha como se estivesse disposto a enfrentar qualquer coisa por você... - ela suspirou - Nate nem sempre foi assim, ele era mais frio, mais... focado no seu objetivo de vida...

- Objetivo de vida? - perguntei.

- Ele é um demônio Analu... demônios não tem sentimentos, não amam, nós não somos assim...

- Daniel não é assim, ele é diferente, e é uma boa pessoa...

- Ele não é uma pessoa... - ela me interrompeu com a voz elevada.

- Por favor, não diga isso, - falei - Daniel tem sentimentos, e ele me ama!

- Eu sei... - ela disse - e é exatamente por isso que o meu plano é perfeito.

- Plano?

Ela sorriu, e num gesto rápido me vi caída no chão, uma dor profunda cortou minha voz, toquei minha barriga, e senti para meu horror, uma faca estava ali, colocada por minha própria mãe, e a dor era insuportável, e inenarrável...

O sangue escorria, e manchava o chão ao meu redor, senti meu sangue queimando, mas algo me dizia que eu não seria forte o bastante. Era a faca com o meu sangue, eu estava sendo envenenada pelo meu próprio sangue. E a dor era horrível.

- Sinto muito querida... - a ouvi dizer - tenho que ir agora.

Tudo o que consigo me lembrar é de ter visto uma estrela por um tempo que pareceu uma eternidade, ela brilhava mais que as outras, e lembrou um pouco a mim, não estou falando de beleza por que sei que não é bem assim, mas eu era diferente, e graças a isso me destacava.

Então depois de um tempo meus olhos foram se fechando lentamente, eu já não conseguia respirar, e meu coração batia lentamente, quase parando. E esse foi o meu fim, eu soube disso quando tudo se escureceu, e era como se eu estivesse voando num vácuo infinito.

O vácuo infinito que por muito tempo temi.

Entre luz e TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora