"52"

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Aqueles infinitos corredores pareciam não ter fim. Ainda corríamos quando algo realmente inesperado aconteceu. Iris se juntou a nós calmamente.

- a saída é pra lá - ela apontou para uma porta à nossa direita.

- O que ela está fazendo aqui? - perguntei já nervosa.

- Precisamos de toda ajuda possível... - disse Daniel cuidadosamente, e me puxou porta adentro.

- Vão precisar mesmo... - Will disse bloqueando nossa passagem com, pelo que pude contar, dez homens.

Todos nós paramos, Mary, Felipe, John, Daniel, Iris e eu... como venceríamos dez homens? era quase impossível.

- Vocês são patéticos... - ele continuou - Principalmente vocês três... Mary, Iris e Daniel... não se encaixam ai, vocês estão do lado errado!

- Eu decido qual é o lado errado... - Daniel disse, e então Will caiu no chão.

Atrás dele estava Dominic que sorriu e deu uma piscadela, todos partiram para sima dos homens, e em alguns segundos estavam todos no chão.

- Vão acordar daqui a pouco, temos que ir. - disse Mary ofegante.

Continuamos a correr, com Dominic estavam cinco garotos que aparentavam ter a mesma idade que ele, agora eramos doze, não o bastante, apenas o suficiente... Agora ao invés de se esconder, quando trombávamos algum demônio vagando por lá, em alguns segundos ele se encontrava desmaiados no chão.

Foi quando chegou a vez de Dóris, ela não era boa como eu pensava, pelo contrario, ela estava com eles, e eu tive que assistir John a golpeando até cair sem forças no chão... foi horrível, tudo aquilo!

Megan também apareceu, e se juntou a nós para o meu alivio, eu não gostava dela, mas também não queria vê-la toda machucada.

- Pensei que... era amiga de Dóris, - falei.

- Eu também pensei Analu... - ela disse, era evidente a decepção em sua voz.

- Onde está Mariana? - Dominic perguntou.

- Está com os outros nas salas da frente... aparentemente há alguma força aqui e eles foram procurar o que é. - Megan disse, e pela primeira vez não a vi como uma dondoca.

- Força? - Daniel perguntou, seus olhos estavam negros, totalmente negros, e eu sabia o por que, - acha que pode ser...?

- é provável que sim. - Ela disse gravemente.

Todos na sala se entreolharam, eu era a unica que não sabia do que se tratava, o que me deixou curiosa, mas eu faria perguntas depois, tínhamos coisas mais importantes com o que lidar. Fiquei feliz por Mariana estar conosco, eu já não me sentia tão enganada.

Corremos até um comodo enorme, não daria para passar por ele, aparentemente já sabiam que estavam sendo invadidos, e haviam espalhado demônios por todas as partes. Eramos poucos em relação a eles.

- Megan, há outra saída? - Daniel perguntou.

Ela fez que não.

- há quantos com Mariana? - perguntei.

- Quinze garotos... - Megan disse secamente.

- Talvez se atacarmos juntos, quero dizer, vamos cerca-los, e temos a nosso favor o ataque surpresa!-continuei.

- Pode dar certo... - Dominic concluiu.

- Enquanto lutamos, Iris pode tirar Analu daqui... - disse Felipe calmamente.

- Não acho que seja uma boa ideia. - Daniel o interrompeu, - Não podemos correr riscos...

John e Mary concordaram.

- Mas... e se eu ajuda-los? - falei - meu sangue pode ajudá-los.

- Não! - disse Daniel - isso não...

- Talvez dê certo, - Felipe concordou novamente - e não seria nessessario muito, apenas uma gota para cada lâmina...

Todos pareceram concordar, exceto Daniel.

- Analu, por favor, não! - ele disse.

- Eu sinto muito Daniel, mas eu tenho que fazer isso...

Com a faca de John cortei um pouco acima do pulso, eu sabia que não seria nessessario um corte muito grande, por isso não exagerei. Segundos depois o sangue começou a escorrer em meu braço, e cada um deles molhou sua "arma" com ele. Quando chegou a vez de Daniel ele me beijou levemente na testa e com cuidado molhou uma faca. Mal tive tempo de limpar o sangue quando o ferimento se curou, como o meu braço supostamente quebrado. A lua de sangue estava chegando, eu estava me tornando um deles.

E então os vi, os sete com suas lâminas afiadas lutando, como em filmes, era surreal, e eu fiquei maravilhada, Daniel lutava com tamanha agilidade que eu quase não o via, era evidente que ele amava aquilo. John e Mary lutavam em conjunto, sempre se ajudando. Iris sabia bem como usar uma lâmina, era rápida e precisa. Dominic sequer usava armas, seus punhos já bastavam. Felipe tinha uma capacidade incrível, era rápido e conseguia, sem sequer encostar a mãos nos oponentes, derruba-los. E Megan? ela sim tinha estilo, era como uma dança, os homens nem a viam, e sem perceber já estavam caídos ao chão.

Minutos depois estavam todos mortos, e eu perplexa, Daniel voltou para me buscar e me abraçou, ele sabia o quanto eu estava chocada, e fomos assim, passamos pelo comodo abraçados, ele me abraçando fortemente para que eu não visse todos aqueles corpos esparramados pelo chão.

Encontramos o grupo de Mariana, assim que ela me viu veio correndo e me abraçou, separando-me de Daniel.

- Fico muito feliz que esteja bem... - ela sorriu - fico muito, muito, muito feliz mesmo!

Abraça-la foi como abraçar Lucy, reconfortante e dolorido, as duas tinham a mesma mania de apertar as pessoas durante o abraço. E isso me fez sorrir.

* * *

Saímos daquele lugar horrível, Daniel me levou para sua casa, e todos os outros permaneceram por perto. Estávamos no sofá de couro preto da sala, e ele não parava de me olhar, o que já estava começando a me deixar constrangida.

- Pode parar de me olhar desse jeito?

- senti sua falta - ele disse - eu pensei que... já fosse tarde de mais, sabe?

Dei-lhe um beijo no rosto, ele sorriu.

- Talvez agora... eu possa me tornar algo melhor. - Daniel continuou.

- O que quer dizer? - perguntei.

Seus olhos brilharam.

- John disse que eu posso ser perdoado, disse que posso me tornar um anjo!

- isso é possível?

- da mesma forma que um anjo pode se tornar um demônio...

- Então acabou? - falei - a guerra, quero dizer.

- Lúcifer sabe que usamos seu sangue, se escondeu com os que sobraram. - ele sorriu - acabou por enquanto!

Sem conseguir me segurar o beijei, suas mãos macias acariciaram meus cabelos longos.

- Agora posso voltar para casa? - falei - ver meus gatos, minha mãe, minhas amigas... voltar a minha vida normal?

- Sim... - disse - mas verá minha... bem... verá eu me tornando um anjo, não verá?

- Com o maior prazer...


Entre luz e TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora