"48"

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Depois daquilo fui praticamente obrigada a subir para o quarto de hóspedes, não importa onde eu fosse sempre iriam me trancar num quarto. Não que eu estivesse trancada naquele grande quarto todo cor de rosa, mas eu estava proibida de sair de dentro da casa, o que era quase a mesma coisa.

Felipe apareceu no quarto minutos depois.

- O que você quer? - perguntei secamente.

- Querem que você desça para comer com eles, - ele sorriu - Quarto legal...

- Engraçadinho! - analisei a decoração do quarto, dezenas de ursos de todos os tamanhos e cores - O que você é afinal? um tipo de assistente?

- Eu não sou um assistente! só ajudo seu pai...

- exatamente,

Ele me olhou feio mas logo em seguida seu rosto voltou ao tom brincalhão, o que pelo que eu estava vendo, era normal para ele.

Descemos até uma enorme sala de jantar, a mesa de madeira branca estava impecavelmente preparada, os pratos e talheres estrategicamente colocados de modo que parecia aqueles jantares reais onde os reis e rainhas comiam com seus convidados, e por um momento imaginei John como rei.

Nos sentamos todos à mesa, e com todos estou incluindo Felipe, que se sentou ao meu lado e manteve o sorriso bobo estampado no rosto todo o tempo.

John e Mary se sentaram à lados opostos, os dois podiam ter se amado muito, mas obviamente não havia sobrado nem uma gota sequer daquele amor em nenhum dos dois.

Eu estava pronta para comer um pedaço de frango quando fui interrompida pela governanta que entrou correndo na sala.

- Eu tentei impedir mas esse garoto! - então empurrou alguém para trás impedindo minha visão - Você não pode entrar!

E então ouvi uma voz masculina, era Daniel, e ele estava muito bravo.

- Não me faça machucar a senhora!

Assim que conseguiu passar pela governanta enfurecida, ele andou até a mesa e apoiou as duas mãos nela, encarou rapidamente cada um de nós e respirou fundo.

- Pensei que a tivessem pegado novamente... - ele disse por fim.

- Sinto não tê-lo avisado Nate, mas ela estará mais segura aqui conosco. - respondeu John calmamente, e novamente voltei a imaginá-lo como um rei, ele se encaixaria perfeitamente nesse papel.

Daniel continuava a nos encarar friamente.

- Você nem estava lá para protegê-la! - disse Felipe se intrometendo - eu entrei facilmente e sai mais facilmente ainda...

- E você Mary? até você? você não faz parte dos mocinhos. - Daniel disse ignorando completamente Felipe.

- Nathaniel por favor... tem que ir em bora daqui, vá fazer o que sabe fazer de melhor, estamos no meio de uma guerra, e você tem mais com o que se preocupar, não tem que bancar a babá com Analu! - Mary respondeu secamente, aparentemente eu era a unica naquele lugar que tinha sentimentos de verdade.

- Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui!- gritei - essa é a minha vida! e eu não vou deixar que fiquem me controlando dessa maneira, com quem eu vou ou não ficar, onde eu posso ou não ir... Eu não sou um objeto que vocês podem ficar jogando de um lado para o outro, eu não escolhi ser filha de vocês e não escolhi significar o extermínio de toda uma raça! eu sou só eu... uma garota de dezesseis anos que até um mês atrás não acreditava que pudesse existir coisas tão extraordinárias como vocês, mas existem, e infelizmente sou filha de duas delas, mas aqui é o mundo real, e eu sou real, tenho sentimentos e vontades, minhas próprias opiniões e tenho direito de escolher o que fazer!

Todos na sala estavam perplexos me encarando, principalmente Mary e John, que pareciam horrorizados com o aparecimento surpresa da filha rebelde que eles tinham.

- isso é tudo sua culpa John! - disse Mary secamente.

- minha culpa? isso é sua culpa! o lado rebelde da família é o seu lado... - ele respondeu na defensiva.

- não venha jogar a culpa em mim!

- quer saber? ela puxou mais a você do que eu imaginava! - continuou John - agora você de um jeito nisso...

- estão fazendo de novo! - me levantei e subi as escadas rapidamente, mas parei quando John me interrompeu.

- O que você quer afinal? estamos fazendo o melhor que podemos - ele gritou.

A essa altura eu já estava chorando, coisa normal quando vinda de mim.

- Eu só quero ir pra casa... - respondi, e corri para o quarto.

Entre luz e TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora