"44"

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No dia seguinte, quando acordei, tudo estava bem... e então me lembrei e tudo voltou de uma só vez, chorei freneticamente até mamãe entrar no quarto correndo, como quando eu era criança e tinha pesadelos a noite. Ela se juntou a mim na cama e me abraçou, o cheiro familiar me envolveu inteiramente, fazendo-me chorar ainda mais.

- Vai ficar tudo bem meu amor... eu estou aqui, vai ficar tudo bem!

As lagrimas não paravam de brotar dos meus olhos, eu estava tão cega! o que eu achava que era importante, de repente não era mais nada, e o que realmente era importante eu acabei perdendo por egoismo.

- O que aconteceu? - perguntei por fim - Como aconteceu?

Mamãe respirou fundo e acariciou meus cabelos.

- foi um acidente, - ela disse - ele bateu o carro e... não resistiu.

Ficamos assim por mais algum tempo, a mão macia de mamãe me acariciando e o cheiro familiar me envolvendo. As lagrimas foram se tornando mais frias, menos pesadas e escassas. Depois fui tomar banho, deixei que a água quente caísse em minhas costas para me relaxar... Quando sai, fitei o espelho atentamente, eu estava horrível, o rosto inchado e os olhos com um tom avermelhado, pálida como o leite.

Me vesti lentamente, jeans escuro e uma camiseta preta, nada de especial, eu não me sentia especial...

Fui para a praia, onde havia me encontrado com meus "pais", me sentei na areia e coloquei toda minha atenção no mar. A água tão serena e calma era incrivelmente linda, o sol que estava quase totalmente coberto pelas nuvens, a fazia brilhar, e por um momento imaginei alguém jogando Glitter na água, e era exatamente isso que parecia, um mar de Glitter, um mar brilhante.

Eu ainda estava analisando o mar e os reflexos que o sol lhe causava quando fui interrompida pelo toque estridente do meu celular. Era o numero de Daniel.

- Daniel? - falei, feliz por ele ter me ligado.

- Acha que consegue vir até o Galpão infernal? - ele perguntou, sua voz estava estranha, parecia preocupado.

- não é uma boa ideia...

- Eu sei que não está em clima de festa, mas é... - suspirou - é importante que venha.

- O que é tão importante afinal?

- estou esperando por você.

Dizendo isso ele desligou, Daniel estivera estranho toda a ligação, mas especificamente essa ultima frase me chamou atenção, sua voz havia mudado repentinamente, e eu não pude evitar ficar curiosa. Peguei um táxi, era um saco não ter carteira de motorista!

A rua do Galpão infernal estava vazia, e aparentemente nem mesmo havia pessoas lá dentro, nem Daniel estava por lá. Fui até a entrada e a não havia mesmo ninguém por ali, dei uma olhada geral em volta e me sentei na calçada para esperar por ele. Dez minutos esperando e nada, resolvi então ligar.

Estava no segundo toque quando mãos firmes agarraram meus braços, com o susto acabei gritando, fazendo com que a pessoa tapasse minha boca com uma das mãos. Estava sendo arrastada para uma van azul escura, e isso foi tudo o que consegui ver antes que jogasse um pano cobrindo meu rosto. Era mais de uma pessoa, eu descobri isso quando os senti amarrando meus braços e pernas. A pessoa ainda estava com a mão tapando minha boca, e assim que a retirou, substituiu por uma fita, de modo que eu não conseguia falar, gritar ou sequer me mover.

As cordas estavam amarradas muito forte, e depois de um tempo mal sentia minhas mãos, eu sabia que quando tirasse a corda, meus pulsos estariam roxos e inchados. Ninguém disse nada durante todo o percurso, e ele foi bem longo, seria pouco dizer que já estávamos fora da cidade à horas.

Até que por fim a van parou, segundos depois ouvi a porta sendo arrastada ao meu lado e logo em seguida eu fui arrastada para fora. Tentei ficar de pé mas minhas pernas doíam por conta das cordas, fazendo-me cair como um bebê aprendendo a andar. Um deles me pegou no colo cuidadosamente, e pude sentir que era uma pessoa extremamente forte, músculos definidos e braços largos.

Fui colocada em uma cadeira e as cordas foram reforçadas, com quem achavam que estavam lidando? uma pessoa com aqueles músculos poderia facilmente deter uma pessoa fraca como eu, talvez tivessem sequestrado a pessoa errada.

Tiraram o cobertor do meu rosto e depois a fita, os olhos azul piscina do homem me encaravam atentamente.

- O que ta acontecendo? - perguntei enquanto olhava o lugar horrível onde eu estava, um comodo com paredes mofadas e cheiro de suor, as únicas coisas que lá havia era a cadeira onde eu estava amarrada, eu e o homem loiro extremamente forte.

- O que você acha? - disse um outro homem que acabara de chegar.

- sequestraram a pessoa errada! - falei tentando segurar a lagrima que insistia em cair, eu estava com medo, muito medo.

- Sequestramos?- ele pareceu confuso - Chame o Nate! vamos tirar essa historia a limpo...

O loiro saiu do comodo rapidamente, quem era Nate? aquilo só podia ser um sonho, um sonho ruim que podia ser considerado efeito colateral da perda de meu pai. Fechei os olhos e lagrimas escorreram de meus olhos.

- estou aqui.

Abri os olhos e um ódio mortal tomou conta de mim, Nate era um apelido para o nome Nathaniel, e Nathaniel era Daniel, e la estava ele me olhando assustado com aqueles olhos negros.

- Essa garota está dizendo que não é a certa, ninguém melhor para nos revelar a verdade não é? afinal foi você quem a atraiu.

Ele me olhava sem saber o que dizer, não fazia parte dos planos dele ser descoberto, isso tava na cara.

- vamos Nate! me responda... - o homem insistiu.

- O que ela está fazendo aqui? - ele disse assim que se recompôs.

- Sabemos que Roger faz uma imitação quase perfeita da sua voz, a noite está chegando, a lua de sangue é daqui a uma semana! não quisemos incomoda-lo então nós mesmo fizemos o trabalho.-ele sorriu orgulhoso.

- Lua de sangue? - perguntei incrédula, já havia lido varias histórias que envolviam a lua de sangue, e sempre que uma garota estava no meio disso nunca acabava bem. (para ela).

- Não se intrometa... - ele sorriu - garotinha!

Meu coração parou por um momento, ele havia mesmo dito aquilo?

- Will não!- Daniel disse gravemente.

- Por que acha que seu papai morreu?- Will continuou - O plano estava perfeito, mas Nate a desviou dele... caso isso a deixe mais calma, seu pai morreu por culpa dele - apontou um dedo de acusação para Daniel - Era pra você estar naquele carro.

Ana Rita entrou no comodo sorridente, e meu mundo pareceu desmoronar, eu não conseguia assimilar, era para mim estar morta! não meu pai... eu faria isso sem reclamar se soubesse, morrer no lugar de alguém que a gente ama me parece uma boa maneira de morrer.

- Olá! - ela disse - Ela vai ficar conosco por uma semana então sejam gentis...- seus olhinhos brilhavam, "um arcanjo não é?" pensei.



Entre luz e TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora